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28 January 2007

 

Abrantes, cidade boa - 13

Num dado momento, uma cidade é o que é. Tal como um país. E o futuro começa a partir desse exacto momento e daquilo que a cidade é nesse momento.
Abrantes é, hoje, o que é. Portugal é, hoje, o que é. Se está muito alto ou baixo num dado ranking é motivo de reflexão e de acção, é certo, mas o mais importante é o que queremos que venha a ser.
Se eu vivesse em vale das Mós, no Maxial de Além das Fontes, ou na Feiteira do Carvoeiro... poderia eu ter pretensões a que a minha terra fosse "muito importante" num qualquer ranking mundial?
Há dias falava com alguém vindo da Colômbia, onde esteve em trabalho humanitário: «Aquilo é sobretudo o reino da droga. As FARC controlam um território como a Suiça e a Bélgica, sobretudo pela droga; os opositores das FARC controlam outro território parecido e alimentam-se também da droga; e o Governo tem também as suas plantações de droga. É muito difícil conseguir resultados na Colômbia», concluiu.
Sobre o Brasil, também outra pessoa me comentou os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro: «Cerca de 64% das mortes de jovens do Rio são da responsabilidade da própria polícia. A média de vida de um jovem das favelas é de 18 anos. Há dias, num confronto, a polícia teve algumas baixas. Saíram à rua e, em pura retaliação, mataram umas dezenas de jovens "suspeitos", diziam eles.» E o meu interlocutor, um jovem, perguntava «o que é que se pode fazer?»
Nem Portugal nem Abrantes tem problemas destes. Têm os que têm. E a pergunta é a mesma: o que é que se pode fazer?
Mas há uma questão prévia: será que se quer fazer alguma coisa?
Porque, a mim, parece-me que o que se passa é mais da ordem do querer resultados mas não querer fazer.
Só que não há resultados sem que eles sejam consequência de algo que se faça.
E o que não se quer é o resultado do que se tem feito até aqui. Pois de onde poderia vir?

 

Abrantes, cidade boa - 12

Às vezes acusam-me de insistir muito no "dever" das pessoas irem às coisas da cultura, contrapondo-me que ninguém tem dever de ir a nada.
Clarifiquemos, então, o que eu penso.
Ponto 1. Quando alguém promove uma iniciativa cultural, essa promoção não se constitui como um direito a que as pessoas vão a isso que foi promovido. Ninguém tem o dever de ir a uma iniciativa cultural só porque ela foi promovida. Por isso, quando alguém faz alguma coisa não tem direito a uma adesão garantida. Pode desejar, e é legítimo que deseje, mas isso não se constitui como dever para outros.
Ponto 2. Uma cidade só tem aquilo que sabe merecer. Numa cidade só há, ou há sobretudo, aquilo que faz haver. Quer no lado da produção, quer no lado do consumo. Por isso, se os abrantinos, por exemplo, querem ter algum tipo de oferta cultural, devem corresponder a essa oferta quando ela ocorre. Não porque ela ocorre, mas porque querem que ela exista.
Ponto 3. Em cada uma das pessoas há deveres vários que devem ser correspondidos. Um dos deveres é o da formação, outro é o da participação cidadã, outro ainda é o do cuidado consigo e de solidariedade com os outros. Ninguém é obrigado a participar "nesta" ou "naquela" iniciativa, muito menos em todas. Mas não tenho qualquer receio em afirmar, ainda que não concordem comigo, que os cidadãos têm alguns deveres de participação na vida social, cultural, desportiva, etc. da sua cidade. Eu não concordo nada com a ideia de que o cidadão comum é apenas consumidor e só consome o que lhe apetece. O cidadão é, antes de mais, um membro que faz cidade com os outros cidadãos e a sua qualidade de cidadão mede-se, em muito, pela qualidade da cidade que ele faz. E quando estamos a hierarquizar as cidades, estamos também - ou sobretudo? - a hierarquizar as cidades que os cidadãos fazem.

 

Abrantes, cidade boa - 11

Abrantes, cidade boa - 11
Na construção de um ranking, há sempre elementos que são utilizados e outros que o não são. É inevitável.
Podemos, no entanto, perguntarmo-nos qual seria o resultado se outros tivessem sido trabalhados.
Por exemplo, o nível de "acolhimento amigável" com que os empresários são acolhidos pelos organismos, públicos, como a Câmara, ou privados, como os bancos.
Mas sobretudo, digo eu, os níveis de felicidade de cada uma das cidades.
É claro que o leitor comentará que eu já estou a tresloucar. Mas será?
Sabemos como os nossos indicadores são sobretudo quantificados e, por isso mesmo, privilegiam os elementos mais fortemente quantificáveis. Ou seja, mais materiais.
Contudo, o "viver bem" tem uma componente - o "bem" - que tem uma forte componente imaterial. Podemos ou devemos, por isso, questionar as nossas cidades nessa sua componente imaterial. Por exemplo, os indicadores de felicidade.
Sabemos que o rei do Butão quis substituir os indicadores do PIB (Produto Interno Bruto) por indicadores de felicidade vivida pelos habitantes. E, apesar das dificuldades na apresentação desses indicadores, tem toda a razão. A felicidade é a grande aspiração de todos os homens de todas as culturas e é o bem maior afirmado e procurado por todas as grandes religiões, embora sob formulações muito diversas e em formas ou técnicas também muito diversificadas.
E não são só as religiões. Além do rei do Butão, também David Cameron, do Partido Conservador inglês afirma que em vez do PIB deveria ser medido o "Produto Nacional de felicidade".
Talvez haja dificuldade na medição, mas sobretudo porque não investimos nisso o suficiente. Mas nada nos impede de prestarmos atenção à qualidade dos ambientes em que vivemos. A felicidade é, sem dúvida, um processo vivido pessoalmente, mas não há dúvida de que depende em muito da qualidade ambiente. Há ambientes saudáveis neste domínio e outros claramente patogénicos.
Não tenho dúvida de que deveria ser feita uma aposta séria nos factores de felicidade pessoal nas nossas cidades. Em primeiro lugar na nossa, porque é onde vivemos. E nós queremos uma «cidade boa para viver», ou seja, que seja propícia ou facilitadora que tenhamos nela uma «vida boa».

 

Abrantes, cidade boa - 10

Quanto à "oferta cultural", Tomar tem 55 pontos, Torres Novas 55 e Abrantes 30. E não creio que haja questões a colocar nesta matéria. Abrantes tem, de facto, uma elevada carência nesta matéria. Tomar tem uma oferta forte e diversificada, sobretudo baseada na diversidade de agentes culturais privados e na qualidade do que apresentam. Torres Novas tem uma boa galeria privada e uma aposta forte da Câmara na animação do Virgínea.
Abrantes não parece interessada neste domínio.
Teve uma associação cultural que procurou animar a cidade, mas foi objecto das mais variadas oposições, por vezes ferozes. Agora está melhor? O Orfeão de Abrantes tem feito o possível para se divorciar da sua população. Entretanto, sobretudo pela adesão à "Arte em Rede", a Câmara passou a oferecer alguns bons produtos culturais, mas não sabe e/ou não quer fazer deles o marketing necessário para deles trazer algum proveito à cidade.
E, depois, a tudo o que se faz a população sobretudo vai dizendo que não, sobretudo pela ausência. E é evidente que, também na cultura, o funcionamento das coisas depende muito dos resultados que as coisas vão tendo. Os 30 pontos de Abrantes são merecidos. A não ser que sejam excessivos.

 

Abrantes, cidade boa - 9

Em "governança e cidadania", Tomar tem 40 pontos, Torres Novas 35 e Abrantes também 40. Mas alguém sabe o que isto quer dizer? Em que se sustenta esta atribuição?
Por exemplo, é aqui tido em conta que Tomar nem sequer tem uma página municipal na Internet, enquanto Abrantes é, nesta matéria, objecto de atenção da própria Microsoft? Ou seja, terá sido objecto de atenção o e-governement?
E quanto a cidadania. Como é que ela foi medida? Seria, no mínimo, interessante saber-se. Até para dá-lo a conhecer no Congresso de Cidadania, que está a decorrer.

 

Abrantes, cidade boa - 8

Abrantes, cidade boa - 8
- E como é que Abrantes só tem 35 pontos em "equipamentos desportivos", enquanto Tomar tem 65 e Torres Novas tem 60?, perguntam-me. Então e a nossa cidade desportiva?
Não sabemos a base com que foi elaborado o ranking. Certamente utilizou elementos já disponíveis, como o inventário de equipamentos desportivos. Que não sabemos de em que data foi actualizado. Será que as nossas "últimas construções" desportivas já aí constam? Não sabemos.
Mas, se nos dermos conta de que Abrantes não tem um pavilhão decente... vemos que não há lugar a grande escândalo.
Mas há um outro aspecto importante. O ranking é de "cidades para viver". Ora a nossa cidade desportiva investiu numa certa ordem. Primeiro em equipamentos do que deveríamos chamar de "indústria desportiva", em obediência ao Plano Estratégico da Cidade, por exemplo o estádio, e só depois nos equipamentos de intensa utilização pelos cidadãos, como a piscina. Isto apesar de o estádio também ter alguns equipamentos de manutenção física utilizados pelos cidadãos comuns.
É verdade que Abrantes tem um pavilhão no Pego, um pavilhão e uma piscina no Tramagal... Mas já não são equipamentos da cidade.
Isso leva a uma outra questão que se pode traduzir pela afirmação de alguém que teve (e ainda tem) vastas responsabilidades em Abrantes: «Tomar vale pela cidade, enquanto Abrantes vale pelo concelho». Isso é importante, importantíssimo a ser verdade, mas não é considerado neste ranking.

 

Abrantes, cidade boa - 7

Vejamos, por exemplo o caso da cidade de Lamego e a sua “capacidade de atracção estudantil”.
«… Lamego tem duas escolas secundárias e dois colégios particulares, todos de excelente nível e procurados por alunos de fora do Concelho, tem uma Escola Profissional também de grande qualidade, tem uma moderna Escola de Hotelaria e Turismo procurada por estudantes de todo o País e tem, ainda, um Pólo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego, que têm cerca de 1.000 alunos…» in Expresso, 20.1.2007
Ora Lamego teve no item “capacidade de atracção estudantil” a classificação de 0 (zero).Com que critério?
Alguma coisa parece não estar muito segura no ranking das cidades.

 

Abrantes, cidade boa - 6

Volto ao ranking do Expresso sobre as «melhores cidades boas para viver». Reafirmo a utilidade destas iniciativas sobretudo para activas a discussão. Mas deve dizer-se que é difícil discutir "com base" no ranking pela falta de elementos que permitam perceber "como" ele foi feito. Por vezes até parece que foi feito sem critério. Por exemplo. Talvez não mereça grande discussão que no ítem "património" Tomar tenha 75 pontos, Torres Novas 50 e Abrantes 30. Tomar tem um vasto conjunto de monumentos de que o Convento é apenas uma das peças, tem vários museus, e tem significado mundial. Torres Novas tem um museu a sério e uma estação romana, merece bem menos que Tomar. Abrantes tem um pequeno museu e pouco mais de monumentalidade: merece apenas pouco mais de metade de Torres Novas? Admitamos, embora com dúvida, que sim. Mas Tomar, com 75 pontos, está, no património, de facto quase ao mesmo nível que Lisboa, que tem 80 pontos? Com que critério?

23 January 2007

 

Um homem / A humanidade

Repito: «aquele que salva uma vida salva a humanidade inteira».
Seja judeu, ou não, aquele que é salvo.
Por isso devemos ter em consideração os casos de crianças que são salvas da miséria, do analfabetismo, da exclusão, da delinquência... por uma família, por um professor, por qualquer pessoa. «Aquele que salva uma vida salva a humanidade inteira».
E devemos ter em igual consideração os casos de crianças que foram deixadas à sua sorte, sem que fossem feitos os esforços necessários para a salvar, na família, na escola, em qualquer lugar. «Aquele que condena uma vida condena a humanidade inteira».

 

Todos e cada um

Continuamos a pensar os nossos sistemas como se eles fossem independentes de cada um de nós, que os configuramos e constituímos. E há leitores que se mostram contrários às minhas “sucessivas investidas” no sentido de pensar os nossos sistemas sociais como «complexos e instáveis em cada um dos pontos que somos nós», pelo que somos co-responsáveis pela configuração e funcionamento desses sistemas. Mas, apesar da discordância de terceiros, eu continuo a ver confirmadas de mil maneiras as minhas afirmações.
No Público de 17.1.2007, duas notícias vinham mostrar isso mesmo.
1. No Parlamento Europeu, constituiu-se um grupo de euro-deputados de extrema-direita, «gente que odeia os ciganos, negacionistas do Holocausto, xenófobos, anti-semitas». Deste modo reclamam e certamente vão ter «mais tempo, dinheiro e influência política». E afirmam que representam 23 milhões de cidadãos da União Europeia.
É em cada um dos cidadãos de extrema-direita da EU que se gera e ganha força esse novo “grupo parlamentar” no Parlamento Europeu, é de cada um deles que se alimenta a força, a actividade e a eficácia política deste grupo.
2. A França, com uma cerimónia no Panteão, prestou a sua homenagem aos “Justos” que, durante a II Grande Guerra, salvaram judeus.
Na cripta do Panteão foi descerrada um aplaca que diz «Desafiando riscos desconhecidos, encarnaram a honra da França, os seus valores de justiça, de tolerância e de humanidade».
O título de "Justo entre as Nações" é atribuído por Israel desde 1963 com base em testemunhos dados por judeus sobre as pessoas que lhes salvaram a vida. O título tanto pode ser dado a alguém por ter salvo uma única pessoa como por ter salvo muitas. O número não é o mais importante, porque «aquele que salva uma vida salva a humanidade inteira», como diz a medalha dos "Justos".

Em qualquer dos casos, o dos cidadãos de extrema-direita ou o dos cidadãos que salvaram judeus, é/foi em cada um dos pontos da sociedade que se decide/iu o curso da História.

 

Democracia na sala de aula - 5

Mas nada disto me abala a percepção que tenho da nossa escola, sobretudo acima do primeiro ciclo: não pratica a democracia, mas sim o autoritarismo. Ou melhor, vários autoritarismos de várias naturezas: político, económico, cultural, social, e até afectivo.

 

Democracia na sala de aula - 4

Quero reafirmar que não me considero um “mais” em democracia na escola. Conheço professores, sobretudo professoras, é claro, e sobretudo no primeiro ciclo, que fazem um trabalho extraordinário. O Movimento da Escola Moderna, por exemplo, tem nisso uma história memorável.
E nunca me cansarei de chamar a atenção para o extraordinário trabalho, de profundo sentido democrático, do professor Américo, que tive o prazer de descobrir quando ainda leccionava em S. Facundo e trouxe ao cine-teatro S. Pedro um grupo impossível de alunos: vindos de uma aldeia da periferia realizaram ali um trabalho de elevada qualidade com elevadas competências. Depois avançou à frente com o Mocho, quando ainda ninguém estava nessa. E, de novo, agora no Rossio, está a fazer novos impossíveis.

 

Democracia na sala de aula - 3

No geral, dou-me bem com os meus alunos. Gosto deles - como eles são - e eles, no geral, gostam de mim.
mas isso preocupa-me. Porque, no essencial, eu acabo por disfarçar o rosto efectivo da escola, da escola que em grande parte dos casos não está feita para o seu sucesso.

 

Democracia na sala de aula - 2

Pego, 15 de Dezembro de 2006
Hoje o meu dia não foi grande coisa, até porque foi o último do período e ainda estive a dar matéria em algumas disciplinas... Mas não foi só por isso. Eu ando numa banda filarmónica e toco clarinete. Tínhamos combinado (entre os elementos da banda) que nesse último dia de aulas iríamos fazer um pequeno concerto numa escola primária, para cativarmos os pequenos a entrarem para a banda. Esse pequeno acordo "obrigou-me" a levar o clarinete para a escola, e isso não me agradou muito, porque não sei o que faria se acontecesse alguma coisa [ao clarinete] e, ainda por cima, acabei por não ter concerto [...].
Durante todo o dia andei com os meus colegas de turma, como habitualmente, e parecia que estes estavam mais entusiasmados que eu, com aquele instrumento que lhes era estranho! Durante todo o dia fizeram-me promessas de que me obrigariam a tocar, e lá cumpriram a sua promessa quando chegámos à aula de Filosofia. Senti-me nervosa por ter que tocar à frente de vinte e tal pessoas, e isso ressentiu-se quando toquei, mas até não foi assim tão mau! Colegas e professor entenderam o meu nervosismo e não me censuraram. Esta "actuação" serviu-me de ensaio para a minha audição, que se vai realizar amanhã. Mas nem quero pensar nisso [...]. Voltando à aula de Filosofia e à minha pequena "actuação", não vou esquecer que talvez ali tenha encontrado amigos de verdade, pois eles apoiaram-me, não me censuraram e no fim ainda aplaudiram. É estranho, pois só os conheço há mais ou menos três meses, mas fico contente porque assim seja!

 

Democracia na sala de aula - 1

Um caso. No final do período passado, numa das minhas turmas, quando íamos a entrar os alunos disseram que a Sandra trazia o clarinete. Eu já tinha convidado dois alunos que tocam viola a oferecerem-nos uma música num dia que combinássemos. E fiz o mesmo o convite à Sandra.
- Mas eu não sei tocar ainda muito bem, escusou-se ela.
Cada um oferece o que tem e o que pode. Se sabes tocar menos bem, tocas como sabes. E nós, disse para os outros, vamos receber da Sandra aquilo que ela nos vai oferecer. Ela não é ainda uma artista profissional, portanto não tem que tocar como profissional.
A Sandra estava nervosa. Mas tocou. Enganou-se, mas não houve qualquer censura na sala. Creio que nos rimos um pouco, não dela, mas com ela. E dispusemo-nos a que recomeçasse. Toucou, ouvimos e aplaudimos.
Quis alargar o aplauso: «Que as palmas sejam também para todos os outros que fazem coisas interessantes: jogam futebol ou basquetebol, fazem boa cozinha ou bons bordados, são bons pescadores ou fazem bem outra coisa qualquer. Porque a escola é importante, mas não é tudo na vida.»
Creio que ficámos todos satisfeitos. Tenho a certeza de que aquele foi um momento democrático. E saí satisfeito.
Mas mais satisfeito fiquei quando, após as "férias de Natal", a Sandra me entregou, em resposta ao meu pedido de que escrevessem para treinar, o texto seguinte, que transcrevo com sua autorização expressa.

 

Congresso da Cidadania - 9

Eu, porque vivo numa democracia e porque a sinto como o regime social para o qual devo educar os meus alunos, sinto-me pessoalmente obrigado a fazer da minha aula um espaço democrático.
Sei de professores que são muito melhores que eu. Sobretudo no primeiro ciclo, mas também nos seguintes. Mas eu vou até onde sou capaz.
Defendo o direito absoluto dos meus alunos a serem respeitados na sua dignidade pessoal inviolável. Não me reconheço o direito a faltar-lhes ao respeito, nem a permitir que algum deles falte ao respeito a qualquer dos outros. E, se alguma vez "piso" algum sem querer, peço-lhe(s) desculpa.
Assumo como primeiro princípio do nosso trabalho oficinal: o direito à asneira. (Não ao palavrão ordinário, é claro.) Porque quem está a aprender é porque não sabe e, por isso, não é obrigado a saber o que não sabe, e também porque errar é uma das formas de aprender. E isto é democrático.
Reconheço o direito inalienável dos meus alunos à sua diferença pessoal, embora no respeito pelos direitos dos outros e no respeito pelo nosso trabalho comum e pelas regras da casa.
Aceito que cada um estabeleça os seus objectivos de vida, e que não tenha que seguir os que eu possa ter para ele, pelo que me abstenho de ter objectivos para a vida dos meus alunos.
Digo-lhes expressamente que a sua vida vai ali estar presente sob a forma simbólica de um triângulo: num dos vértices está o que eles querem para a sua vida, e eu não tenho nada com isso; no outro está o que eu sei da vida deles, porque sou mais velho e porque estudei o que eles ainda não estudaram; no outro, finalmente, está o que nem eles nem eu sabemos, porque ninguém sabe o que os espera daqui a 20 ou 40 anos num mundo em constante mudança. E isto coloca-nos num lugar democrático dentro da sala de aula.
Reconheço-lhes o direito a terem gostos e hábitos e programas diferentes dos que eu considero preferíveis. Eles vivem num tempo que não é o meu, apesar de ser também o meu.
Procuro prestar mais atenção ao que vai acontecendo em cada um deles do que ao que eu vou dizendo e fazendo. Afinal, é para que eles aprendam e saiam transformados que eu ali estou. Mas não quero transformá-los ao meu modo, mas sim que eles se transformem pelo que ali vai acontecendo entre nós. E nisso procuro que vá o meu profundo respeito pela sua autonomia.
Não marco as datas dos testes: são eles que marcam, e por votação sobre propostas apresentadas e depois de discutidas. Eles sabem muito melhor que eu quando é que lhes calha bem.
Quando lhes dou um teste, indico a cotação de cada pergunta, para que eles possam gerir o tempo e o esforço de resposta.
Quando lhes entrego o teste classificado, vai anotada a classificação de cada resposta, para que saibam e para que possam reclamar se acharem que não está bem classificado. E, se reclamarem, tanto podem ser atendidos, se eu vir que têm razão, como podem não o ser, se eu vir que não têm razão.
Quando há um conflito entre mim e os meus alunos, procuro dizer a mim mesmo o que tenho defendido junto dos meus formandos professores: que «eles têm sempre razão, a razão deles» e eu tenho a minha, que eles, como qualquer pessoa, agem por aquilo que pensam e sentem, e eu pelo que penso e sinto. Então, podemos conversar e chegar a um resultado.
Procuro gostar dos meus alunos como eles são, e não como eu gostaria que eles fossem.
Na sala de aula, eu, democraticamente, não abdico da autoridade que me está confiada, mas não me está confiada para que a exerça de forma ditatorial. Por isso, procuro que eles tomem parte nas decisões a haver.
Peço aos meus alunos que avaliem aquilo que fazemos e com todo o direito a dizerem o que pensam que esteve menos bem.
Reconheço-lhes o direito a não gostarem de mim, ou da disciplina que lecciono. Eu também não gosto de todas as pessoas e há "coisas" de que não gosto.
Reconheço-lhes o direito a não serem perfeitos, portanto a cometerem erros. Mas não a cometerem erros de propósito, mesmo que por vezes seja difícil discernir a fronteira.
Reconheço-lhes o direito a não saberem o que não aprenderam e a não terem as competências que não adquiriram. É a mim que compete ensinar-lhes o que for capaz e ajudá-los a adquirir o que ainda não adquiriram.
Sinto ser minha obrigação (mesmo quando não sou capaz) de diferenciar o ensino e até os instrumentos de avaliação, porque eles são todos diferentes.
Sinto ser minha responsabilidade dar uma atenção especial aos que estão a ter mais dificuldades em ter sucesso, em dar a todos apoio especial quando as coisas estão difíceis. Digo-lhes mesmo «aqui ninguém desiste, o primeiro e desistir sou eu» e eles gostam, nunca percebi porquê.
Sinto que devo estimular o melhor deles, ajudando-os, e por vezes empurrando-os, para que cheguem onde não conseguiriam chegar sozinhos.
Sou exigente com eles, mas procuro que nunca seja contra eles. Tenho obrigação de fazê-los subir, às vezes com esforço ou mesmo alguma dor; mas não tenho o direito de atirar-lhes pedras para que subam. Procuro lutar com eles contra o que os limita.
Sei que eles têm direito a que eu nunca me esqueça do que éramos eu e os meus colegas quando tínhamos a idade deles. Mesmo que por vezes me falhe essa memória.
Sei também que tudo isto é um ideal de acção e que muitas vezes não conseguimos estar à altura daquilo que deve ser, mas também que isso não razão suficiente para não persistirmos num esforço de aproximação.

 

Congresso da Cidadania - 8

A microssociedade que é uma sala de aula deve ser democrática numa sociedade democrática.
É claro que a verdade das teorias ensinadas pelo professor não é, nem pode ser, resultado da votação dos alunos. Que a solução de uma equação matemática não é obtida por votação. Que o currículo não é definido em assembleia geral. Que as notas não são dadas pelos alunos. Que...
Mas, numa sociedade democrática, a sala de aulas não pode ser estranha à democracia. Mais claramente: deve ser democrática.
- Mas como?, pergunta-me alguém quase indignado.
E essa indignação é, ela mesma, expressão de que a escola não é nem sabe ser democrática.
Quem disse que o essencial da democracia e da cidadania é a votação?

 

A escola pública... e a privada

«Inscrever um filho num colégio privado pode transformar-se numa verdadeira aventura radical, daquelas em que é preciso ver para crer. As listas de espera são grandes, as vagas poucas e a aposta dos pais faz o resto. A Notícias magazine acompanhou centenas de famílias à porta do Colégio Moderno, numa verdadeira maratona de espera pela abertura das pré-inscrições. Durante três dias e três noites, houve quem não arredasse pé.» Notícias Magazine, 21.1.2007
Comentário. Quanto menos qualidade tiver a escola privada, mais os que podem ou se interessam optam pela escola privada... e mais a escola pública fica com os que não podem e não se interessam. Quanto menos qualidade tiver a escola pública, mais se promove a injustiça social.

 

Congresso da Cidadania - 7

A escola é uma escola de cidadania?
Repito: a escola está feita para o êxito dos filhos de famílias de elevado património escolar, ricas, urbanas e brancas. Isto é cidadania? Além disso, consegue convencer os alunos de que o seu resultado escolar depende apenas do esforço que fizerem. É cidadania?
Qual é, na escola, o papel dos delegados de turma, democraticamente eleitos pelos alunos em cada turma?
Quando e onde e a quem é que os vencedores das eleições para a Associação de Estudantes prestam contas do seu mandato e, sobretudo, dos dinheiros postos à sua disposição?
Qual é o papel efectivo que os pais, pessoalmente e através da associação de pais, tem na definição dos objectivos da escola e na avaliação dos seus resultados?
Qual a cidadania exercida pela escola no contexto social em que está implantada? Participa da vida do concelho? Ouve as necessidades do concelho? Coopera com as outras entidades do concelho?
A escola é um órgão público de definição e execução de uma política educativa local. A quem presta contas dos recursos, financeiros e humanos, que lhe são confiados?
Um professor é um agente de poder na microssociedade que é a sala de aula, é autor e executor de uma política pública de educação na sua sala. Qual é a natureza do poder que exerce e que lugar de cidadania cabe a cada um dos alunos?
Obrigar um aluno que não pode ter sucesso (por exemplo por "falta de bases", ou por deficiência incapacitante) a frequentar aulas e a ter uma condenação final é cidadania?

 

Congresso da Cidadania - 6

Muito se falou da escola no Congresso. Do lugar decisivo que a escola tem na formação de cidadãos - tem? - e no salto decisivo que Portugal ainda pode dar. Se está a contar com a escola para isso... não creio que vá muito longe. Porque todos os indicadores mostram que da escola não virá muito de diferente. peço desculpa... mas que outra coisa posso eu dizer?

 

Quem sabe... vive

Gabriela Fernandes, editora, fala-nos de um casal americano que… «vêm para cá há 40 anos e organizam verdadeiros piqueniques para assistir ao pôr-do-sol na Praia da Adraga. Fomos com eles e vários amigos (…) a quem nunca tinha ocorrido como podia ser maravilhoso fazer um piquenique na praia, com mesa, toalha, pratos, copos e champanhe. Nestes piqueniques o Helmut [o americano] faz questão de deitar um pouco da bebida no mar como oferta à natureza. Estamos a falar de um senhor com 78 anos, professor de História da Arte, uma pessoa muito culta…» Xis/ Público, 13.1.2007

 

Obervação

«Portugal é hoje um sítio estranho em que as pessoas gastam o que não têm naquilo de que não precisam.» Xis/ Público, Faíza Hayat

 

Congresso da Cidadania - 5

Também não me parece correcta a análise de que já estamos a sair.
Quando entrámos na Comunidade Europeia, tínhamos um PIB de 40 por cento da média europeia, hoje já o temos de70 por cento da média. Portanto, subimos 30 pontos, falta-nos subir mais 30 e subi-los-emos. Assim se disse, com optimismo.
Mas eu não creio que seja verdade.
Os 30 pontos que subimos não foram subidos por nós, não foram subidos por uma subida da nossa "produção interna". Foram subidos pela injecção de dinheiro que os outros países fizeram em Portugal. Se agora parasse a torneira dos "fundos comunitários", Portugal ficaria reduzido àquilo que de facto é. Não tenho indicadores seguros, mas talvez baixasse aí uns 20 por cento. Ou seja, o saldo é de uns 10 por cento, e é resultante do impacto dos dinheiros investidos pela Europa em nós.
É isso, sobretudo, que deve dar o indicador do que não foi a revolução que podíamos ter feito. É sobretudo isso que os nossos filhos e netos nos deitarão à cara, para perpétua vergonha nossa. Disso não tenho a menor dúvida.

 

Congresso da Cidadania - 4

Mas será mesmo que não queremos lá estar, na crise?
Se não quiséssemos, não teríamos feito já alguma coisa para sair?

 

Congresso da Cidadania - 3

Muito se falou de Portugal, durante o Congresso. E sobre a necessidade de sairmos da crise. E sobre as formas de sair da crise.
Mas eu continuo a pensar que não foi tematizado minimamente a questão da porta de saída. Todos temos muitos diagnósticos da situação. Todos sabemos muita coisa sobre o que é preciso ser feito. Mas... continuamos dentro da crise, sem sequer darmos pela porta de saída.
Nem sequer é suficiente dizermos que «a responsabilidade é de todos nós e que se não formos cada um de nós não será ninguém por nós». Pois é. Eu também o digo. Mas isso continua a não ser a "verdadeira" porta de saída. Porque nossa já a responsabilidade é há muito, mas nem por isso saímos do sítio onde estamos mas não queremos estar.
Não, a porta não é ainda essa.

 

Congresso da Cidadania - 2

Quando se fala em cidadania, logo se fala em democracia. E quando se fala em democracia, logo se fala na Grécia, mas devia falar-se em Atenas. E quando se fala na democracia ateniense, logo se faz uma ressalva «muito importante»: que as mulheres, os escravos e os estranjeiros não tinham direito de voto na assembleia popular. Essa é dita, pois, como uma limitação ou imperfeição daquilo que consideram "a verdadeira" democracia, por ser uma democracia directa. "Verdadeira" democracia, mas "imperfeita" apesar de tudo.
Mas isso é esconder parte do essencial. É verdade que na Atenas democrática todos os cidadãos tinham direito de participar, e serem eleitos, num regime de democracia directa. É ainda verdade que essa participação era tida em elevada conta social, e que era objecto de desconsideração aquele que deixava os "assuntos públicos" para se dedicar aos "assuntos privados". E aqui começa a questão.
É que os estudos levados a cabo pelos especialistas chegaram à conclusão que nas assembleias apenas participavam cerca de 10 por centos dos que tinham direito a participar. (Salvo momentos excepcionais, é claro.) Os outros tratavam da sua vida.
E é fácil perceber que só os que tinham escravos suficientes para tomarem conta das suas "coisas" podiam dedicar-se ao ócio e investi-lo na política.
E também sabemos que ussar da palavra e levar a melhor numa assembleia pública era resultado de competências que poucos tinham e que sobretudo tinham aqueles que dispunham de dinheiro para pagar a bons professores de oratória. E que os professores de oratória ficaram com o nome de "sofista" com muito baixa cotação na bolsa de valores sociais.
A «verdadeira democracia grega» que por aí anda é um mito. E não há que estranhar, pois aquele foi um "sagrado tempo dos começos" da nossa mais preciosa, embora frágil, formação política.

 

Congresso da Cidadania - 1

Terminou a fase de Abrantes do Congresso promovido pela Civilis e pela C.M.A.
Na primeira parte, com programação da responsabilidade de Abrantes, a participação pode dizer-se que foi massiça. Na segunda parte, com programação da responsabilidade da Civilis, a participação abrantina foi diminuta. A sala esteve razoavelmente composta, mas sobretudo por pessoas vindas de fora. «Fiz mais de 100 quilómetros para vir aqui, mas considero que valeu a pena», disse em público um dos presentes em avaliação das comunicações de muita qualidade que ali foi possível ouvir.
Mais uma vez, não estivemos interessados em ouvir pessoas de elevada qualidade e falarem de assuntos que são de todos nós.
Creio que Abrantes não soube estar à altura a cuidada programação que a Civilis ofereceu à cidade.

10 January 2007

 

Abrantes, cidade boa - 5

A propósito, lembrei-me de ir buscar uma crónica que publiquei há perto de uns 10 anos no jornal Primeira Linha. Creio que pode ajudar a ler, hoje, esta cidade.
A água
Este é outro mistério difícil de entender: Abrantes tem enormes recursos em água - o Tejo, o Zêzere bem perto, a albufeira de Castelo de Bode, e ainda as barragens de Belver e Montargil - mas não há nem tradição nem prática de desportos náuticos.
Temos alguma natação durante a época quente, mas sem verdadeira dimensão desportiva.
O Tejo e o Zêzere permitem a canoagem e durante algum tempo houve mesmo uma prova da modalidade que passava por Abrantes. Houve já tentativas, mas sem resultados duradouros. Noutros locais, há clubes que, por falta de condições, se deslocam longe para a prática da canoagem; nós, com os recursos ao pé da porta, não vamos nisso.
Na albufeira de Castelo de Bode, vieram de longe os desportos náuticos, por gente que sabe aproveitar a oportunidade. Por cá, nada se vê nascer. E a verdade é que "aquilo está mesmo a pedi-las".
Temos o mergulho, e o entusiasmo do Eng. Garcia, mas a prática não teve ainda desenvolvimento e resultados à altura das potencialidades que o local oferece.
Será um divórcio litigioso entre as nossas gentes e a água?
Era eu pequeno, íamos para o Tejo em família, para a zona da ponte do comboio, a pé, com a alcofa do farnel. Era a "praia dos tesos", dizia-se, mas o areal era povoado, mesmo pela parte alta da cidade.
De desportos tradicionais ligados à água, ficou apenas no Rossio a recordação da "caça ao pato", um jogo de perseguição, "primitivo" - porque se lança à água um simples pato, atiram-se os homens à água apenas com o próprio corpo e enfrentam a violência natural do rio. Foi o mais longe que fomos.
Na pesca de rio, sim, há tradição, clubes e praticantes. E neste caso já há equipamento e competição. Curiosamente, é um desporto sobretudo individual. Quando é por equipas, não são verdadeiras equipas, mas vários indivíduos inscritos como equipa. E os clubes de pesca têm andado em forte crise.
Rossio e Barreiras do Tejo têm rio, mas não sabem. Ou fecham os olhos e viram-lhe as costas.
Tem que haver uma explicação para o mistério deste divórcio das gentes de Abrantes com as suas águas. Tanto mais que os desportos náuticos seriam fonte de riqueza económica, de lazer, de educação, de divulgação externa, de prevenção social de vária espécie...
Uma hipótese será que algum trauma tenha afastado da água. A Norte, a construção da barragem e a expropriação das terras aráveis teriam impedido toda a relação saudável com o rio. No eixo central, a extracção de areias que ocupou o areal e a poluição do rio deixaram a população expropriada. É uma hipótese, mas não explica tudo.
Outra hipótese é ser Abrantes uma terra conservadora, avessa à mudança e ao risco, apegada ao que era, incapaz de enfrentar o novo. A confirmá-lo teríamos a forte implantação do futebol, desporto tradicional, e a quase nula implantação de qualquer outro desporto e não só dos náuticos.
Outra hipótese é em Abrantes, em todos os campos, dominar o individualismo, o cada um para si, a dificuldade em confiar e comprometer-se. Teríamos, a confirmar esta hipótese, a pesca e a caça como desportos com significado porque individuais e, mais recentemente, o ténis.
De qualquer modo, "aqui há gato" e eu gostava de perceber o que se passa. Então não é uma pena? E se algum dia vier o espelho de água, vamos inventar tudo de repente?

06 January 2007

 

Abrantes, cidade boa - 4

Sim, a propósito, veja-se o artigo do mesmo Expresso, mas agora no caderno de Economia, pg. 30, "Portugal não é plano", de Jaime Quesado.
Nas projecções para 2015, a região da Grande Lisboa terá 45.3% e a Área Metropolitana do Porto terá 23.9%, ou seja, um total de cerca de 70% da população portuguesa. E o autor diz: não pode ser, porque seria mau para o país.
Daí, só há uma alternativa: «a aposta numa política integrada e sistemática de cidades médias».
Este é um aviso para o país, mas também pata o nosso Triângulo. Quanto mais for "integrado" o processo de desenvolvimento das suas três cidades, mais hipóteses terá de se afirmar no contexto nacional e de contrariar a lógica de macrocefalização em Lisboa.
Há quantos anos é que o Arq. Castel-Branco anda a dizer isto?Alvíssaras: a quem descobrir aí alguém que apresente e lidere uma ideia para o Triângulo.

 

Abrantes, cidade boa - 3

Outra observação importante tem a ver com o facto de o chamado Triângulo Abrantes-Tomar-Torres Novas apresentar uma classificação interessante. Um território relativamente pequeno com estas três cidades, e ainda Entroncamento, que não aparece na classificação, está vocacionado para, se souber trabalhar em conjunto, vir a desempenhar um papel interessante.A propósito...

 

Abrantes, cidade boa - 2

Importa, é claro, estabelecer uma relação comparativa, sobretudo com as cidades de Tomar e Torres Novas, entre as 50 apresentadas..
12º lugar, Tomar
32º lugar, Torres Novas
38º lugar, Abrantes.
Isto obriga-nos a alguma humildade, e a procurar mais resultados naquilo que podemos fazer para melhorar a nossa posição do que num a priori bairrista que nos diz sermos melhores independentemente de quaisquer análises. Sem esquecer que as outras cidades também vão trabalhar para melhorar a sua posição e resistir ao "ataque" das que se encontrem mais abaixo. Isto é a competitividade entre cidades.
Já agora, vale a pena referirmos as cidades do resto da classificação:
38º lugar, Portimão, com Abrantes
39º lugar, Barreiro
40º lugar, Amadora, a última da classificação.
Já agora, os primeiros: Lisboa, Guimarães, Évora, Porto, Aveiro, Angra do Heroísmo e Coimbra.
E ainda: 30º Santarém e 34º Castelo Branco.

 

Abrantes, cidade boa - 1

«Abrantes, cidade boa para viver, trabalhar e investir.» Creio que é esta a palavra de ordem que a Câmara de Abrantes repetidamente faz passar.
O Expresso de 6 de Janeiro, publica na Única uma «classificação das melhores cidades para viver em 2007». Abrantes vem em 38º lugar em 50 cidades analisadas.
É evidente que muitas leituras se podem fazer, e de vários géneros.
O mais importante é, penso eu, darmo-nos conta de duas coisas.
Primeira. Esta é uma classificação absoluta, ou seja, não houve outras antes dela para percebermos se Abrantes está a ganhar ou perder na sua posição. Não há, portanto, a dimensão do tempo ou da historicidade.
Segunda. Esta tabela, porque tem indicadores expressos, permite perceber quais são (nesta classificação e pela metodologia adoptada) os pontos fortes e sobretudo os pontos fracos de Abrantes, para os corrigir, é claro.
Ora, segundo a classificação agora apresentada, os pontos fracos, comparativamente a Tomar e Torres Novas, por exemplo, são: a oferta cultural, os espaços verdes, a qualidade urbanística, o comécio, a relação com a água, os equipamentos desportivos, a animação nocturna, o alojamento turístico, os equipamentos sociais, o património, o desempenho económico e a qualidade dos espaços públicos.

 

A paciência - 2

É curioso que alguns me acusam de desreponsabilizar os indivíduos e, digo eu, já não devem ter paciência para me ouvir "repetir", dizem eles, que eu sempre responsabilizo o meio e nunca os indivíduos singulares.
Dá-me gozo esta dupla crítica. Mas não muita. Dar-me-ia muito mais ver que as pessoas percebiam o que eu pretendo dizer.
Quer num caso quer noutro, os meus críticos vêem - está-se mesmo a ver - apenas parte daquilo que eu digo. Mas também é verdade que se vissem as duas metades me acusariam de que eu tenho um discurso com vício de forma, a saber, a circularidade, porque agora digo que são os indivíduos responsáveis pela forma do sistema e depois digo que é o sistema que é responsável pela forma dos indivíduos.Mas é verdade que os indivíduos são responsáveis pela forma do sistema e que é o sistema é responsável pela forma dos indivíduos. A realidade é em si mesma circular e os meus críticos não percebem isso porque aplicam um esquema de explicação linear a uma realidade circular, ou, pior ainda, um um esquema de explicação linear a uma realidade caótica. Paciência, digo eu, não posso fazer mais.

 

A paciência - 1

- Já não tenho paciência para essa tua conversa do "somos todos responsáveis". É sempre a mesma coisa!
Bem, cada um é que sabe a paciência que tem e onde é que quer investi-la. Mas eu devo dizer duas coisas.
Primeira. De facto, eu tive uma educação que me formou no princípio de que cada um é sujeito e responsável das suas acções. Eu sei que outros forma educados noutros princípios, por exemplo de que não há verdadeiros sujeitos individuais mas apenas colectivos ou de que eu não tenho de prestar contas a ninguém ou... Não tenho dúvida de que aí, na minha educação primeira, estarão algumas das raízes das minhas análises.
Segundo. Aquilo que mais me leva a manter e insistir neste discurso do "somos todos responsáveis" é sobretudo o estudo que tenho feito, a começar pela análise dos sistemas caóticos. E a sociedade é um sistema caótico. E, já o disse quantas vezes?, uma das características essenciais dos sistemas caóticos é a "instabilidade em todos os pontos". Repito: todos os pontos. É aí, em todos os pontos, que se decide o comportamento do sistema. Não há que fugir.
Por exemplo. A seguir ao 11 de Setembro, havia um problema: como vai reagir a economia americana? A resposta seria dada na segunda-feira seguinte. Não pelo Presidente, não pela Reserva Federal, não pela bolsa de NY, mas, diziam os analistas... pelas donas de casa, os milhões de donas de casa que iriam às compras. Sim, instabilidade em todos os pontos, a começar pelka base.Bem pelo contrário, muitos pensam que o comportamento do sistema de decide no topo. Por exemplo, a reforma da educação em curso em Portugal está a ser levada a efeito no Ministério da Educação. E, nos outros pontos do sistema, tem havido sobretudo resistência a essa reforma. Alguém acredita que deste processo podem vir resultados duradoiros? Algumas coisas ficarão, mas nada de substantivo. Paciência, digo eu agora.

 

Discurso de Ano Novo

Fui ler o discurso de Ano Novo do Presidente da República e só posso concluir que não é um bom discurso, não é um bom serviço ao país.
Antes de mais, porque possibilitou as múltiplas leituras de que o PR estva a exigir do Governo os "resultados" que desejamos e de que o país precisa. E tais resultados não podem ser esperados "do" Governo, mas de todo o país. Do Governo, também, mas - e muito - de todos nós. E o próprio PR dá a entender isso, quando diz que o desenvolvimento económico é tarefa sobretudo dos empresários, e que a educação é sobretudo responsabilidade de professores, pais e alunos. A leitura que se fez, e que o discurso permitiu com facilidade, vem ocultar estas responsabilidades e remetê-las para o Governo. Nunca iremos lá por essa via.
Em segundo lugar, o PR diz expressamente: «É muito importante que em 2007 se registem progressos claros em, pelo menos, três grandes domínios da nossa vida colectiva: desenvolvimento económico, educação e justiça.» A que os mais avisados acrescentam a "reforma da administração", embora possamos vê-la incluída no texto presidencial. Contudo, ou eu vejo mal ou não é possível, num ano, realizar esses "progressos claros". Podem mudar-se algumas coisas, podem fazer-se até mudanças substantivas nos sistemas de que se espera ver surgir esses resultados. Mas resultados já?
Só um exemplo. Portugal tem 14 juízes para cada 100.000 habitantes e a justiça é morosa e ineficiente; a Inglaterra tem 4 juízes para cada 100.000 habitantes e a justiça é célere e eficiente. Alguém duvida de que vai demorar anos e anos a recuperar algo de significativo?
Além disso, em cada um daqueles sectores, o Governo não é o único agente em acção e de que, portanto, dependa o resultado em causa. Podemos fazer uma pergunta simples e prática:
Este país, que espera e exige resultados, é capaz de aguentar que grau de mudanças e de conflitualidade?
O PR deu a entender que exige para 2007 o que só poderá ser realizado em décadas. O que significa que "prometeu" (embora sem prometer) para 2007 resultados que só poderão ser realizados em décadas.
Repito, "em décadas". Porque são, sobretudo, resultados dependentes de mudanças de cultura. E as máquinas podem-se comprar, as fábricas podem-se comprar, mas a cultura não. A cultura é como os bolos: uma e outros levam tempo a cozer.
Finalmente, o PR fez um discurso menos porque - e vêmo-lo nas leituras que dele foram feitas - veio negar uma verdade essencial. «O bom líder é aquele que vai à frente com uma bandeira, não aquele que vai atrás com um chicote.» Ora, uma boa parte dos comentários feitos dizem claramente: porreiro, ele já está de chicote no ar, podemos ficar descansados.

P.S. 1 - É claro que as intervenções do PR não se limitam ao discurso de Ano Novo.
P.S. 2 - É claro que há outras leituras do discurso. Mas quais é que fazem caminho?

 

Congresso da Cidadania - 5

Ainda sobre criatividadade e empreendedorismo, cabe dizer aqui uma outra verdade.
O essencial da inovação não é ou não está na tecnologia. A inovação está nos processos. É verdade que nova tecnologia pode trazer novos processos, mas nem sempre; é verdade que novos processos podem exigir nova tecnologia, mas nem sempre.
Vamos a um exemplo. As nossas escolas já têm reproprojectores, sistemas de televisão e vídeo, projectores de imagem digital e até computadores. Ou seja, novas e novíssimas tecnologias.
Mas eu faço aqui uma apostinha. O essencial das aulas das nossas escolas, nas várias disciplinas, continua a utilizar como tecnologia de base o quadro preto e o livro, agora completados com as fotocópias. E o essencial continua a ser: o professor a ensinar aos alunos aquilo que ele sabe e vem nos livros.
Verdade?
Sim, digo eu.
Mas faço uma excepção. No primeiro ciclo do concelho de Abrantes, com o projecto Mocho XXI, está a desenvolver-se outro modo de ensinar e aprender, em que o computador é uma tecnologia essencial que veio transformar o acto de ensinar e de aprender. Também no primeiro ciclo, com o Movimento da Escola Moderna, já se vinham a desenvolver novas formas de aprender, mesmo sem computador.Quanto ao resto, há excepções.

 

Congresso da Cidadania - 4

À tarde, na ESTA, uma segunda sessão sobre "educar para o empreendedorismo" veio destilar um lema ou norma de vida e uma constatação de facto.
O lema, de Manuel Lopes de Sousa:
Cabeça a funcionar,
mãos conctroladas,
soluções encontradas
e realizadas.

A constatação:
A criatividade não se ensina, mas desperta-se ou fomenta-se entre os 10 e os 15 anos.
Podemos aproveitar as deixas e examinar as nossas escolas sobre este prisma. São elas educativas?

 

Congresso da Cidadania - 3

Um reparo. Não me parece minimamente aceitável que o "exemplar" da Constituição tenha a - pouca - dignidade que foi possível ver. O conjunto do "testemunho" que foi entregue era um razoável presente, com um laço aceitável. Desapertado o laço, viu-se um livro com alguma dignidade. "A Constituição", pensei. Engano: era o "livro de honra" do Congresso. Depois, sim, saíu um livrito, uma edição comum da Constituição. Não pode ser.
Não seria difícil, por exemplo, imprimir em computador o texto da Constituição e encaderná-lo em exemplar único, com alguma dignidade.
Os gestos simbólicos materializam-se na própria materialidade dos símbolos. E a materialidade da Constituição numa sessão solene não pode ser a sua materialidade como instrumento de trabalho.
Ainda é possível rever este aspecto que não é de pormenor? É.

 

Congresso da Cidadania - 2

Foi bom que o Congresso tenha começado, em Abrantes, numa escola. Porque a escola portuguesa é, no geral, um a expressão sobretudo de uma cidadania pobre, raquítica, imprópria para consumo no tampo em que estamos a viver e sobretudo no tempo em que os alunos irão viver.
Na verdade, é na escola que se objectiva um dos direitos constitucionais de base, o "direito à educação". Contudo, é preciso dizer que essa educação é de má qualidade, afirmação que não é necessário demonstrar porque é universal e já aqui foi várias vezes abordada.
Na escola, os alunos podem adquirir sobretudo conhecimento. Mas devíamos começar por discutir logo "que conhecimento?". É sobretudo "conhecimento de factos" e não domínio de processos. É um conhecimento que exclui o "saber fazer", o saber relacionar-se" e muito pouco o "saber ser".
É muito de reprodução e nada de inovação, é muito de sujeição e nada de participação, é muito de irresponsabilidade e nada de assumpção do seu lugar no meio, é muito de isolamento e nada de cooperação.
É necessário dizer que a nossa escola está ao serviço de uma sociedade que não respeita a ordem constitucional nem trabalha para a construção da sociedade que os mais jovens esperam e merecem. Basta dizer que ela está feita para o sucesso dos filhos de famílias escolarizadas, ricas, urbanas e brancas, e não é possível encontrar na Constituição nada que legitime essa escola.Mas, é claro, nada disto foi dito na primeira sessão. Nem era, certamente, para ser.

 

Congresso da Cidadania - 1

Começou a fase de Abrantes do Congresso da Cidadania. Promovido pela CIVILIS - Associação para a Cidadania e Desenvolvimento, sediada na Barquinha e pela Câmara de cada um dos concelhos que percorre, o Congresso tem um tema específico em cada um deles. Em Abrantes, o tema de análise e reflexão é Cidadania, Inovação e Desenvolvimento.
O primiero passo deu-se na Escola Dr. Solano de Abreu e constou de dois momentos:
Primeiro, um Vereador de Ourém passou o "testemunho", ou seja, a Constituição da República, ao Presidente da Câmara de Abrantes que a recebeu e, assim, acolheu o Congresso no nosso concelho.Depois, Jorge Lacão proferiu, como é norma do Congresso, uma "aula" sobre a Constituição. O orador, apresentado na sua qualidade de Secretário de Estado, invocou a sua qualidade de ex-aluno daquela escola e co-responsável pela matéria da Constituição em tempo(s) de "revisão constitucional". A sua intervenção centrou-se na comparação entre Portugal no tempo em que ali foi aluno, nos anos 60, e hoje: com todos os problemas e a diversidade de pontos de vista, é inegável que Portugal hoje está "melhor" e isso é resultado da nova ordem constitucional e é necessário continuar a trabalhar para que o futuro de todos os jovens possa ser ainda melhor, e assim darmos cumprimentos à matéria essencial da Constituição.

04 January 2007

 

Uma estrela

“Do céu caiu uma estrela” foi o filme de Frank Capra que o Espalhafitas projectou ontem (3 Jan). Trata-se de um filme idealista, de tom sonhador… em que parece ter deixado de existir o senso crítico. “Aquilo é tudo menos a realidade”
No entanto, para se obter um retrato da realidade temos, por exemplo, a descrição científica. E a única coisa que interessa é a realidade? Que o diga António Gedeão.
“Do céu caiu uma estrela” é um poema. E, como tal e na devida proporção, é real. É um sonho. Ingénuo? Não. Porque aquela realidade existe, no nosso dia a dia. Não apenas e só na forma de sonho, mas sob a forma real de mundo, com tudo o que ele tem.
Aquilo não é o mundo tal como ele é, mas o mundo tal como o realizador nos convida a que seja.
E, desde logo, somos obrigados a definirmo-nos no modo como tomamos posição sobre esse convite.
Este filme é reconhecido como uma das formulações cinematográficas do chamado “sonho americano”. Este é ali dito como possível e como dependente daquilo que o homem comum fizer. A personagem principal, George Bailey, que é apenas um homem comum de uma cidade do interior, é o grande responsável por muito do que a sua cidade é, mesmo sem ter feita nada de muito extraordinário.
Não podemos deixar de ouvir John Kenedy a dizer aos americanos: «Não perguntem o que a América pode fazer por vós; perguntem o que podem fazer pela América.»
São estrelas como estas que fazem o firmamento do pensamento colectivo americano. Como estas e como outras, é claro.
E não será desacertado ver que no filme há também uma crítica a “um certo” modo de ser e estar na América, na mostra daquilo que poderia ter sido se George não tivesse nascido. De algum modo, trata-se de um certo retrato da América de hoje, porque um certo George não fez aquilo que poderia ter feito.
Podemos perguntar-nos quais são as estrelas que iluminam o imaginário português. Mas uma coisa parece certa. Cá em Portugal, as estrelas parecem falar ao contrário: Que pode o Governo fazer para resolver os problemas que nós queremos ver resolvidos?
E até o recente discurso do Presidente da República tem sido interpretado nesse sentido.

03 January 2007

 

A Europa

Do mesmo modo:
Não há Europa?
Então, façamo-la – se quisermos fazê-la.
Não haver é o estado em que tudo começa.

 

E se resultasse?

E se resultasse?, perguntava-me, há tempos, um dos meus comentadores?
Não respondi na altura. Faço-o agora.
Em primeiro lugar, não podia resultar, e o pior mal está aí enquanto não percebermos porquê. Mas admitamos que, por absurdo, sim, por absurdo, podia resultar.
Digo: se a invasão do Iraque resultasse, o resultado não seria muito melhor do que aquele que temos à vista.
Pode parecer escandaloso, mas é verdadeiro. Eu explico porquê.
É evidente que se a invasão do Iraque resultasse na democratização do Iraque, seria muito melhor para o Iraque. E até para mais países além do Iraque, admitindo que a democracia se espalharia como mancha de petróleo.
Só que não era esse a única carta em jogo.
Lembremo-nos da teoria política dos EUA nesse momento. Unilateralismo. Os EUA afirmavam-se como os únicos senhores do mundo, e dispunham-se a exercer esse senhorio (nunca o esconderam) na defesa dos interesses dos americanos.
Ora o mundo não é, nem pode ser, um campo onde se cultivam os interesses dos americanos. O mundo precisa de multilateralismo, de uma liderança – forte, sim – mas em que os liderados vejam os seus interesses a serem defendidos. Que os EUA façam isso com os interesses dos americanos é mais do que natural, mas… e os nossos? E os de África? E os… de todos os outros povos?
A invasão do Iraque foi uma violação clara do Direito Internacional. É claro que não existe um Direito Internacional”, mas há um esboço, desejamos estarmos a fazer um caminho para que haja. A vitória dos EUA seria a negação dessa possibilidade por muito tempo.
A retoma, apenas parcial, desse caminho foi feita, curiosamente, quando os EUA se deram conta de que sozinhos não aguentavam a guerra e tiveram que pedir ajuda às forças de outros países. O facto de a guerra estar a ser sustentada ou sustida (depende das perspectivas) por uma força internacional é um bom sinal, apesar do mau da guerra.
Falta apenas dizer que o unilateralismo é mau seja ele de quem for. Dos EUA, da Rússia, da China… ou até, por hipótese, de Portugal.
Estamos no Sex. XXI e o mundo que vai haver não está pré-definido, estamos a construí-lo com aquilo que fazemos. Voltamos ao mesmo, apesar de nunca de lá termos saído: «Não há caminho. O caminho faz-se caminhando.» (A. Machado)

 

O Iraque, ainda

Filomena Mónica escrevia na Pública do domingo passado:
«Mesmo que me custe, o mais simples é afirmá-lo à cabeça: errei, quando (…) apoiei a invasão do Iraque. Ainda por cima, sei qual o motivo: tudo resultou de ter deixado que a emoção se sobrepusesse à razão. O meu ódio ao fanatismo islâmico aliado ao desprezo pelo complexo de inferioridade europeu relativamente aos EUA levaram a que não adoptasse a atitude justa, isto é, o silêncio.»
Há sempre razões pela quais uma pessoa está a favor ou contra uma coisa. Mais: cada pessoa está, a favor ou contra, pelas suas razões, e não pelas dos outros. Podem coincidir, podem ter sido importadas de outrem, mas são as suas, por mais tolas ou inteligentes que sejam. Isto parece evidente, quando nos pomos a pensar sobre isto, mas é tudo menos evidente. E, sobretudo, é difícil de incorporar na vida, isto é, adoptar esta perspectiva como um ponto de vista a partir do qual se vive.
Houve pessoa que estiveram a favor da invasão por mil razões diferentes e houve pessoa que estiveram contra a invasão por outras mil razões diferentes. E cada um de nós avalia, do seu ponto de vista, quer a invasão quer as opiniões dos outros sobre a invasão.
Eu creio que a invasão do Iraque (é óbvio que o próprio termo “invasão” já fala alto), repito, eu creio que a invasão do Iraque se ficou a dever sobretudo à necessidade dos americanos descarregarem o ódio e a frustração que sentiam após o atentado do WTC. Não foi a democracia, como sempre soubemos, o motivo; nem sequer, o petróleo, apesar de ele ter sido também um motivo forte; nem foi apenas o poder dos impérios do armamento, que precisavam que houvesse guerra, embora também este não tenha sido um motivo ausente… O mais decisivo, por razoe políticas e por razões psíquicas, o mais importante motivo foi a “necessidade” de fazer alguma coisa muito visível, muito forte, muito “à medida”, que respondesse ao “inimigo” e que “respondesse aos próprios americanos. E a guerra, dada a certeza da vitória do “mais poderoso” exército do mundo, era a resposta imediata, evidente, natural…
Os militares avisaram contra a guerra, mas não são os militares que decidem a guerra, eles apenas são chamados a fazê-la.
Hoje vemos, como os militares então disseram, que a guerra não podia ser ganha.
Hoje sabemos, como eu próprio então escrevi, que a democracia não podia ser instalada.
Hoje parece evidente que declarar guerra, mesmo ao terrorismo, é provocar no outro lado uma contra declaração de guerra.
Enfim, hoje sabemos, e vários relatórios o dizem, que a guerra ao terrorismo foi sobretudo uma sementeira de mais terrorismo.
A única verdadeira conclusão já a tínhamos antes, mas sempre a esquecemos: o ódio não é o melhor conselheiro, nem o melhor guia de uma decisão. Quantas vezes não experimentámos já, na própria pele, isso mesmo?

 

Fundação Calouste Gulbenkian

Foi pelo carácter intermitente das minhas visitas a esta praça que ainda não registei o cinquentenário da Fundação de todos nós. É incalculável a dívida que contraímos.
Deixemos de lado o que a FCG fez por nós em Lisboa. Olhemos mais de perto, o que lde devemos em Abrantes. (Os outros concelhos terão dívidas similares.)
Ao longo destes 50 anos, a Biblioteca Itinerante, primeiro, e depois as Bibliotecas fixas de Abrantes, Tramagal, Alferrarede e Rossio (posto de leitura); o apoio dado às bibliotecas escolares; o apoio ao Orfeão de Abrantes, por uma verba para pagar ao maestro; o apoio às IPSS’s (Instituições Particulares de Solidariedade Social); o apoio, por exemplo, ao festival do Imaginário e aos Encontros de Abrantes; a organização de uma exposição retrospectiva da obra de Maria Lucília Moita, já há alguns anos; … e certamente mais que eu não sou capaz de referir agora.
Pela acção continuada em benefício directo das nossas gentes, a Fundação Calouste Gulbenkian merece a nossa Medalha de Ouro de Mérito Social e Cultural

 

Fernando Lopes-Graça

Estamos a celebrar o centenário do nascimento de Fernando Lopes-Graça, sem dúvida um compositor que ficará com um nome grande na História da música portuguesa. Tem uma obra singular que não deve passar despercebida.
Sobre isso já se pronunciaram e vão pronunciar pessoas competentes.
Falta apenas dizer que, entre nós, tem sido o Orfeão de Abrantes a divulgar essa obra. Não haja qualquer dúvida, sem o trabalho do Grupo Coral do Orfeão, muitos de nóis nunca tínhamos ouvido, muito menos convivido repetidamente, com a obra musical deste grande compositor português.
Obrigado, pois, ao Orfeão, pelo serviço que nos prestou, e à divulgação a música portuguesa.

 

Os Jovens

O Expresso, na sua última edição, fez um trabalho sobre os jovens. Procurou um conjunto de jovens promissores, isto é, jovens que se destacam no seu sector, e que, por isso, de algum modo representam o futuro. Viu o que fazem, por que são promissores e que desejos investem em 2007.
Eu, como quem copia, parti à procura dos jovens promissores de Abrantes e região. E… que posso eu ter encontrado, pergunto aos meus leitores?

02 January 2007

 

Agricultura biológica: novidade!

Há coisas que já sabemos. Por exemplo, que não é possível continuar com uma produção e consumo alimentares baseados numa agricultura química. Por isso, há países com programas avançados de agricultura biológica. Cada vez se ouve falar mais nisso, mas cada vez se nota mais o atraso em que nos encontramos, também nesse sector.
Por exemplo, entre nós, onde podemos comprar produtos de agricultura biológica?
Se a resposta é “em lado nenhum”… está desactualizado.
Acaba de abrir no centro comercial Milénio um “supermercado” de agricultura biológica. Não é muito grande? Mas, como não havia nada é super.

 

Amadeo de Sousa Cardoso

Continua patente, embora por pouco tempo, na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição sobre a obra de Amadeo de Sousa Cardoso e a sua relação artística com pintores e escultores do seu tempo.
Basta uma visita sumária, por um não especialista como eu, para se tornar patente que, embora exista uma escrita pictórica própria, não há limites definidos entre Amadeo e os outros membros da sua comunidade artística. Amadeo é um homem do seu tempo e faz a arte do seu tempo. E dizer isto é um lugar comum. Acontece, porém, que insistimos na recusa de ver a importância do meio ambiente na formação da pessoa.
Anda por aí uma onda que apenas e só quer ver o homem como produto de si mesmo, na melhor das hipóteses como produto da sua carga genética. Trata-se de pura ideologia que em nada é corroborada pelas várias ciências.
Aquilo que se sabe, saber de ciência feito, é que há uma carga genética, de facto muito importante, mas há também a influência do meio, também ela decisiva para aquilo que o indivíduo é ou pode ser.
Daí a importância que devia ser dada à construção de meios ricos em poder formativo, ambientes capazes de serem estimulantes e orientadores num sentido produtivo, contextos capazes de levarem as potencialidades dos indivíduos a elevados padrões de desenvolvimento.
Pelo contrário, parece que nada faz a diferença e que tudo é igual. Daí a mediocridade que se perpetua com facilidade e o esforço de qualificação que tem de enfrentar a mediocridade resistente.

01 January 2007

 

Um passeio por Abrantes

Dar uma volta atenta pela cidade de Abrantes é oportunidade segura para dar-se conta de múltiplas mazelas. Por exemplo, e é suficiente, nos sinais verticais, vulgo sinais de trânsito ou de informação.
Estas múltiplas feridas urbanas são sinais ou sintomas de duplo sentido. Por um lado, revelam alguma insuficiência nos serviços de manutenção dos equipamentos colectivos; por outro, são manifestações de uma doença de desurbanidade que, salvo melhor percepção, se tem vindo a desenvolver-se entre nós.
Posso estar enganado – oxalá – mas sinto que estamos numa fase de “mudança qualitativa”. Deixámos desenvolver um número significativo de pessoas, sobretudo de tenra idade, em terrenos de inacção e de exclusão social. Agora, começam a tornar-se significativas as suas manifestações de grupo. Porque estas mazelas não são, não creio que sejam, apenas acumulações de casos fortuitos. Não, há, sem dúvida, uma acção com sentido, um sentido de pré-violência urbana.
Se deixarmos que estas manifestações se desenvolvam, teremos um outro nível, superior, de organização da marginalidade entre nós.Não quero ser alarmista, mas gotaria de deixar um alerta. Ou fazemos – aos vários níveis – o que temos de fazer, ou iremos pagar bem caro e de vários modos não o termos feito.

 

"O Perfume"

Vê-se bem, este filme de Tom Tykwer, extraído do livro com o mesmo nome, este de autoria de Patrick Süskind. Mas não é sobre o filme, nem sobre o livro, que quero falar.
Quero, isso sim, afirmar que o filme é uma boa oportunidade para confrontarmos a vida urbana desse tempo, há cerca de 250 anos, com a dos dias de hoje. Ou seja, oportunidade para testarmos a afirmação tão comum de que este é o pior dos tempos, de que as coisas têm vindo a perder qualidade, em fim, de que estamos “no fim do mundo”.
Não é verdade. Não houve um tempo tão bom para viver como hoje. E o hoje em que estamos é o resultado do percurso que fizemos.Outra coisa muito diferente é saber se estamos TODOS melhor, ou se não há povos ou regiões que estão hoje pior que ontem. Mas, sabendo nós que sim, temos de concluir que falta fazer aí aquilo que noutros lugares já foi feito. Não “o mesmo” que noutro lugar tenha sido realizado, mas algo que possa dar um resultado semelhante. Sem esquecer que nada está garantido.

 

A Democracia

Uma das conclusões a tirar seria a de que a democracia não é, ao contrário do que alguns dizem, explícita e implicitamente, um estado natural da vida em sociedade.
A democracia é uma forma social onde se chega, e para lá chegar é necessário crescer: um crescimento que tem de ser tanto individual, mas de muitos e decisivos indivíduos, como colectivo.
O Iraque é um exemplo. Reconhece-se agora que «o Iraque não estava preparado para a democracia». Mas porquê só agora? Reconhece-se, depois de novo atentado da ETA, que «a ETA não estava madura para a democracia». Mas como ajudá-la a amadurecer?
Felizmente não somos chamados a dar de perto uma contribuição pessoal para estes casos complicadíssimos da cena internacional.
Mas somos – e disso não temos demissão possível – chamados a construir pela base a democracia em Portugal. E, contra aquilo que se tem feito, também entre nós a democracia não é um estado natural, nem das pessoas, nem do funcionamento colectivo.
É absolutamente indispensável uma educação para a democracia e um esforço de democratização dos processos e das organizações, se queremos que a democracia tenha um futuro de qualidade entre nós.A democracia não é, não se baseia e muito menos se resume à realização de eleições periódicas. Esse é apenas um elemento, muito importante, é certo, mas tão pobre que pode haver eleições e, apesar delas, haver pouca e pobre democracia no funcionamento efectivo das nossas formas de vida.

 

Sadam e Iraque

Despedimo-nos de 2006 com a derrota eleitoral da estratégia de Bush para o Iraque, o reconhecimento cada vez maior de que foi um erro, a sensação também cada vez maior de que não há solução à vista, a conclusão evidente de que os perigos foram multiplicados, uma democracia reconhecidamente derrotara tanto pela sua falta no Iraque como pelo reforço do fundamentalismo islâmico... e saímos sem ainda sabermos até onde irão os efeitos da execução de Sadam Hussein.O mais importante, contudo, não é o que se passou e os balanços que agora se possam fazer. O mais decisivo só pode ser o que aprendemos com isto, se é que aprendemos alguma coisa. E não é visível que tenhamos aprendido.

 

Feliz 2007

Eu insisto, apesar de poder ser tornar-me aborrecido: só tem direito a esperar um ano mais Feliz quem fizer algumas coisa de “mais e melhor” no seu campo de acção, de modo a que daí venha aquilo que ainda não pôde vir.
Ou seja: Feliz 2007 é uma palavra de ordem: Vamos fazer 2007 um ano melhor.
E que em Dezembro possamos ter o produto confirmado.

P.S. – Aposto que agora, depois de tantos votos de Feliz 2007, quando voltarmos às nossas actividades normais, a primeira coisa que vamos fazer é perguntarmo-nos e responder: que vamos mudar para que 2007 seja melhor?

 

2006

Já lá vai. Olho à minha volta, por alto, e procuro que volta deu esta minha terra neste ano que agora finda?
Não vejo indícios de grande coisa. Que recorde, apenas a inauguração do campo de basebol, mas é ainda uma aposta e, como tal, tanto pode ser ganha como perdida.
Quer isto dizer que foi um ano perdido?
Se olhar mais em pormenor, vejo alguns passos em frente.
O bloco operatório foi renovado, as obras de requalificação das instalações da minha escola começaram, a feira de doçaria ganhou novo ânimo, uma empresa que conheço obteve um êxito assinalável, nasceu uma associação a CRES.SER como asssociação para o sector social e a Universidade da Terceira Idade do Tramagal iniciou a sua actividade, Papelparede apareceu é uma nova revista em Abrantes, as comportas começaram a dar forma ao açude no Tejo, abriu o restaurante Sabores do Pinhal no edifício S. Domingos com uma promessa de qualidade, a Semana da Educação numa iniciativa da Câmara Municipal e a Semana Social numa iniciativa da Rede Social, o Verão Animação animou de facto S. Lourenço... e poderia continuar se procurasse com mais cuidado.
Depois, há aquelas situações que, sendo novas, não estão garantidas que sejam para melhor. É o caso, por exemplo, da instalação, em Abrantes, do Regimento de Cavalaria, em substituição do R.I.2, ou a substituição de um vereador por uma vereadora na Câmara.
Não vejo, de momento, que Abrantes tenha dado, em 2006, uma grande volta. Mas sei que houve pequenas voltas que foram dadas.
Resta-me desejar que estes pequenos ganhos possam ser expressão de um desenvolvimento silencioso que compense as perdas que também tivemos. E que, por agregação, venham a originar um salto de qualidade num tempo que desejamos curto. Para isso, há que continuar e multiplicar, em 2007, o que se ganhou no ano que já se foi.

 

Portugal e Brasil

Portugal é um país velho, de gente velha* que, por ser velha, tudo espera do Governo, que tem a responsabilidade da solução de todos os problemas.
O Brasil é um país novo, de gente nova, que não acredita no Governo e que sabe que a solução dos seus problemas só virá do que fizer para os resolver. Por isso, “todo o mundo procura se virar”.

* Também não é de admirar. Há 500 anos que Portugal anda a exportar os seus melhores.

 

A História

De todos os comentários que (só) agora tive oportunidade de ler, há um em que quero pegar. Pela importância do que diz e pelo que quero dizer.
É o do meu amigo Geirinhas Rocha e que diz, resumo de memória, que eu tinha ultrapassado a minha fase de “auto-glorificação” em que disse algo como “a História de Abrantes não poderá ser feita sem ter em conta a minha contribuição”. E acrescenta ele que isso são coisas que é suposto serem os outros a dizer.
Ora bem, eu não estou de acordo. Primeiro porque não vejo grandes razões para esperar que os outros digam grande coisa de mim. Não há nenhum feito “grande” que eu tenha feito ou se espere que eu venha a fazer para que outras pessoas, independentes, me possam fazer grande elogio histórico. Tudo aquilo que tenho feito são coisas normais, que fazem História, mas não ficam na História.
Em segundo lugar, creio ser da maior importância termos consciência de que estamos a fazer História. Digo-o expressamente às pessoas que trabalham comigo, ajudo-as a sentirem que estamos a fazer História ou mesmo peço-lhes que façamos História. Não se trata. é claro, de nos armarmos em heróis, ou de lhes pedir que o sejam, mas apenas e só da consciência de que a História é feita – e muito, embora não só – nos lugares comuns e por pessoas comuns.
Quando pegamos num projecto, creio ser preciso fazer História com ele, isto é, fazer com que nesse sector onde actuamos, as coisas passem a ser diferentes depois de termos posto mãos à obra. Mesmo numa padaria, onde todos os dias se faz o mesmo, o pão que se consome nesse dia, é importante que, a prazo, se veja que as coisas mudaram, e que não é o “mesmo” pão que agora se come ou o “mesmo” serviço que agora se preste, mas um pão melhor e um serviço melhor. Alguém duvida que a Padaria Pereira veio fazer História no sector da panificação em Abrantes?
Não deveria, contudo, ser eu a dizê-lo? São opiniões. Ao dizê-lo sabia que podia ser “mal” interpretado. Mas é a correr riscos que se faz o caminho, não? E eu prefiro ser mal interpretado a não dar oportunidade a que as pessoas façam interpretações.
É bem possível que tenha havido algum orgulho naquilo que disse (creio tê-lo referido na ocasião), mas não soberba o vã glória. Sei que fiz algumas coisas importantes, até porque procuro fazer aquilo que considero importante, e por vezes deixo as coisas quando sinto que já nada de importante posso fazer. E eu não sou, e espero nunca sê-lo, do tipo de pessoas que dizem que não é importante o que fazem para terem o prazer de ouvi-lo da boca de outros. Pelo contrário, para evitar que sejam outros a dizê-lo e para terem oportunidade de me contradizer, digo-o eu. Mas posso estar enganado, é claro.
Finalmente, quando digo que tenho feito coisas importantes estou a dizer que é possível e necessário que todos e cada um de nós façamos coisas importantes, isto é, façamos a História que ou é feita por nós ou outros fazem apesar de nós e, quase sempre, contra nós.
No fundo, o que eu desejo é que cada um de nós possa dizer que, no seu sector de actividade, a História da sua terra não pode ser feita ser ter em conta a sua contribuição.
Infelizmente, contudo, há demasiadas pessoas que passam sem deixar rasto, a não ser o do seu peso contra a História.(Deixem-me conclui com uma observação de síntese que será o texto seguinte.)

 

Que hei-de fazer?

Ao olhar para os comentários que consegui tornar acessíveis e ao recordar as “reclamações” de viva voz que fizeram pelas minhas ausências deste espaço semi-público quase senti remorsos de não lhe ter dado mais atenção. Devo agradecer aos meus leitores a companhia que aqui me fazem e pedir-lhes desculpa da companhia que não lhes faço. Contudo, tenho de insistir que esta não é uma prioridade minha. À frente de tudo só podem estar as minhas aulas, pois esse é o meu compromisso profissional e os meus alunos têm direito a que eu lhes dê aquilo que só eu lhes posso dar. Depois, tenho outros compromissos em que outras pessoas e organismos dependem de mim e também aí eu devo cumprir aquilo que de mim é esperado.
Aqui, que posso eu fazer além de alguns textos que ajudem a reflectir sobre o que é estarmos vivos neste lugar deste mundo? E se um texto meu faltar, não faltam outros mil textos que fazem um serviço semelhante.Não vou prometer que virei a esta praça mais vezes. Talvez faça um esforço, mas não é aqui que devo concentrar alguma disponibilidade mais que possa encontrar. Não sei, contudo, como posso retribuir a gentileza dos meus leitores, mesmo dos que me criticam.

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