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28 January 2007

 

Abrantes, cidade boa - 12

Às vezes acusam-me de insistir muito no "dever" das pessoas irem às coisas da cultura, contrapondo-me que ninguém tem dever de ir a nada.
Clarifiquemos, então, o que eu penso.
Ponto 1. Quando alguém promove uma iniciativa cultural, essa promoção não se constitui como um direito a que as pessoas vão a isso que foi promovido. Ninguém tem o dever de ir a uma iniciativa cultural só porque ela foi promovida. Por isso, quando alguém faz alguma coisa não tem direito a uma adesão garantida. Pode desejar, e é legítimo que deseje, mas isso não se constitui como dever para outros.
Ponto 2. Uma cidade só tem aquilo que sabe merecer. Numa cidade só há, ou há sobretudo, aquilo que faz haver. Quer no lado da produção, quer no lado do consumo. Por isso, se os abrantinos, por exemplo, querem ter algum tipo de oferta cultural, devem corresponder a essa oferta quando ela ocorre. Não porque ela ocorre, mas porque querem que ela exista.
Ponto 3. Em cada uma das pessoas há deveres vários que devem ser correspondidos. Um dos deveres é o da formação, outro é o da participação cidadã, outro ainda é o do cuidado consigo e de solidariedade com os outros. Ninguém é obrigado a participar "nesta" ou "naquela" iniciativa, muito menos em todas. Mas não tenho qualquer receio em afirmar, ainda que não concordem comigo, que os cidadãos têm alguns deveres de participação na vida social, cultural, desportiva, etc. da sua cidade. Eu não concordo nada com a ideia de que o cidadão comum é apenas consumidor e só consome o que lhe apetece. O cidadão é, antes de mais, um membro que faz cidade com os outros cidadãos e a sua qualidade de cidadão mede-se, em muito, pela qualidade da cidade que ele faz. E quando estamos a hierarquizar as cidades, estamos também - ou sobretudo? - a hierarquizar as cidades que os cidadãos fazem.

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