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01 January 2007

 

A História

De todos os comentários que (só) agora tive oportunidade de ler, há um em que quero pegar. Pela importância do que diz e pelo que quero dizer.
É o do meu amigo Geirinhas Rocha e que diz, resumo de memória, que eu tinha ultrapassado a minha fase de “auto-glorificação” em que disse algo como “a História de Abrantes não poderá ser feita sem ter em conta a minha contribuição”. E acrescenta ele que isso são coisas que é suposto serem os outros a dizer.
Ora bem, eu não estou de acordo. Primeiro porque não vejo grandes razões para esperar que os outros digam grande coisa de mim. Não há nenhum feito “grande” que eu tenha feito ou se espere que eu venha a fazer para que outras pessoas, independentes, me possam fazer grande elogio histórico. Tudo aquilo que tenho feito são coisas normais, que fazem História, mas não ficam na História.
Em segundo lugar, creio ser da maior importância termos consciência de que estamos a fazer História. Digo-o expressamente às pessoas que trabalham comigo, ajudo-as a sentirem que estamos a fazer História ou mesmo peço-lhes que façamos História. Não se trata. é claro, de nos armarmos em heróis, ou de lhes pedir que o sejam, mas apenas e só da consciência de que a História é feita – e muito, embora não só – nos lugares comuns e por pessoas comuns.
Quando pegamos num projecto, creio ser preciso fazer História com ele, isto é, fazer com que nesse sector onde actuamos, as coisas passem a ser diferentes depois de termos posto mãos à obra. Mesmo numa padaria, onde todos os dias se faz o mesmo, o pão que se consome nesse dia, é importante que, a prazo, se veja que as coisas mudaram, e que não é o “mesmo” pão que agora se come ou o “mesmo” serviço que agora se preste, mas um pão melhor e um serviço melhor. Alguém duvida que a Padaria Pereira veio fazer História no sector da panificação em Abrantes?
Não deveria, contudo, ser eu a dizê-lo? São opiniões. Ao dizê-lo sabia que podia ser “mal” interpretado. Mas é a correr riscos que se faz o caminho, não? E eu prefiro ser mal interpretado a não dar oportunidade a que as pessoas façam interpretações.
É bem possível que tenha havido algum orgulho naquilo que disse (creio tê-lo referido na ocasião), mas não soberba o vã glória. Sei que fiz algumas coisas importantes, até porque procuro fazer aquilo que considero importante, e por vezes deixo as coisas quando sinto que já nada de importante posso fazer. E eu não sou, e espero nunca sê-lo, do tipo de pessoas que dizem que não é importante o que fazem para terem o prazer de ouvi-lo da boca de outros. Pelo contrário, para evitar que sejam outros a dizê-lo e para terem oportunidade de me contradizer, digo-o eu. Mas posso estar enganado, é claro.
Finalmente, quando digo que tenho feito coisas importantes estou a dizer que é possível e necessário que todos e cada um de nós façamos coisas importantes, isto é, façamos a História que ou é feita por nós ou outros fazem apesar de nós e, quase sempre, contra nós.
No fundo, o que eu desejo é que cada um de nós possa dizer que, no seu sector de actividade, a História da sua terra não pode ser feita ser ter em conta a sua contribuição.
Infelizmente, contudo, há demasiadas pessoas que passam sem deixar rasto, a não ser o do seu peso contra a História.(Deixem-me conclui com uma observação de síntese que será o texto seguinte.)

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