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30 August 2007

 
Ao invés – 2
E não há qualquer fatalidade em gostarmos de nós como somos.
Quantos não são os estrangeiros que adoram Portugal? Alguns vindos dos tais países do topo, outros tendo possibilidades pessoais de partir para onde quisessem.
Tenho à minha frente uma entrevista de Adelino Gomes (Pública, 8 de Julho) com Zelimir Brala, embaixador da Croácia em Lisboa. O título: “Portugal é o meu destino”. Leio. «Não sabe o que irá fazer. Mas sente-se culturalmente português. Acha que Portugal estará algures nesse futuro». E ainda: «Portugal, 1978/9: “estava tudo sujo. Nos bares não havia cinzeiros”.» E para terminar: «percebe-se [nos portugueses] uma certa desconfiança nas próprias capacidades.»
Que temos nós que faz tantos outros apaixonarem-se por aquilo que somos?
E que temos nós que não conseguimos gostar de nós assim como somos?

P.S. – Atenção, uma coisa é gostarmos de nós como somos, o que se recomenda, outra muito diferente é instalarmo-nos naquilo que somos e não sermos capazes de sair do lugar em que não queremos estar.

 
Ao invés - 1
Mas não há qualquer fatalidade em continuarmos a escorregar para o fundo da tabela.
Os jornais têm dado conta dos êxitos que os vinhos portugueses estão a ter por esse mundo fora. Ainda há dias ficámos a saber que um dos maiores especialistas mundiais do sector destacou um colaborador seu para acompanhar os vinhos portugueses. Mas, se bem nos lembramos, não há muito tempo os vinhos portugueses vendiam-se sobretudo a garrafão, com uma qualidade de excursionista.
Também não há muito, embora já há décadas, nem constávamos a valer do atletismo internacional. Depois, houve um “trabalho sério” e passámos a ter resultados nas modalidades de fundo. Agora, já não também já temos valores no meio fundo e até na velocidade.
No rugby, vamos onde nunca sonhámos. Porquê? Cito: porque houve «um trabalho sério de equipa».
E temos vários sectores da economia, das artes plásticas, das letras, da investigação científica.
A única conclusão empírica válida é simples: enquanto o país se afunda, há sectores que se elevam. A diferença é sempre a mesma. E não é necessário dizer qual.

P.S. – Público, 27 Agosto. «Vinhos portugueses conquistam distinção da crítica internacional. / O principal guru do vinho, Robert Parker, destacou um colaborador para acompanhar o vinho português e as revistas publicam artigos laudatórios.»

 
A Formação de Professores
Em Julho de 1992, portanto há 15 anos, se não erro, a minha escola estava a preparar um projecto que tinha, entre outras vertentes, a formação de professores. Entretanto, o Governo da altura lança um projecto nacional. Foi por isso que a minha escola esteve desde logo no projecto e, por isso também, acabei por ser o primeiro director do Centro de Formação de Professores cá da zona. Com todo o gosto. E desgosto. Gosto pelo que se fez, desgosto pelo para onde as coisas caminharam.
Aquilo que era e devia ser uma formação de professores centrada no aumento da qualidade da prestação dos professores e das escolas, tornou-se noutra coisa. Na forma de fazer progressão dos professores na carreira.
Eu bem digo que as escolas têm um poder ilimitado para anular toda a novidade que vem de cima. A força é tanta que não houve mesmo volta a dar. Dei eu a volta e saí, porque não estava disponível para um cargo quase só administrativo aos serviço primeiro das - legítimas – pretensões de carreira por parte dos professores. Ponto final.
De início, se se lembram, os sindicatos de professores, levantaram-se contra a legislação que instituía a formação de professores. Mas ela avançou. Pouco depois, porém, os sindicatos deixaram de se ouvir. Como também não há silêncios grátis, creio que a explicação é simples: os sindicatos passaram a poder também fazer formação de professores. Como a formação profissional tem pouco de formação e muitíssimo de financiamento das organizações que a fazem, os sindicatos não podiam continuar a estar contra... si mesmos.
Por isso a formação de professores se tornou naquilo que é. Não necessariamente, mas esmagadoramente.
É por estas e por outras razões que Portugal há-de continuar a cair para lá do 20º lugar. E não há de que nos admirarmos quando vier a notícia. Afinal, já o sabemos há muito. Só nos espantamos para disfarçar.

 
Reforço
A Notícias Magazine (5 Agosto) falava de “A magia da cidade” de Lisboa na “paz dos anjos” no mês de Agosto. E a jornalista escreveu com toda a naturalidade da evidência partilhada: «É quando não estão lá aqueles que só lá andam sob protesto, isto é, a trabalhar.»
Pois, nós vemo-los e sentimo-los por lá, quando lá vamos.E reforçamos a evidência das razões que nos tombam para o 20º lugar.

 
Inevitável, a asneira?
O DN (26 Agosto) intitulava “Mendes quer país no pelotão da frente”. Contudo o corpo da notícia sublinhava que Portugal está em 19º na União Europeia e ainda este ano vai passar a 20º, ultrapassado por Malta. «Isto não é possível continuar», dizia Marques Mendes.
O pior é que isto vai mesmo continuar. E pior ainda é essa pretensão, de Marques Mendes ou do jornalista, de que é possível, a curto prazo, Portugal entrar sequer no pelotão da frente. E se Marques Mendes diz assim não pode ser e que quer ser primeiro ministro, deve explicar como vai tornar possível o impossível.
E impossível porquê?
Repito. Porque o país está na posição que está porque funciona como funciona, moldado por uma cultura que é aquilo que é. É de certo modo tautológico, mas até por isso é verdadeiro. E os países do pelotão da frente vão à frente pela mesma, mas inversa, razão: porque funcionam como funcionam, moldados por culturas que são aquilo que são.
Apenas alguns exemplos, do meu sector de actividade. Nos outros, basta olhar para ver algo semelhante.
Daniel Sampaio mostrava-se há dias confiante de que a educação sexual nas escolas ia dar uma volta porque, dizia ele, entre outras coisas, há, salvo erro, 15.000 professores formados para esse efeito. Só não disse que esses professores não estão a fazer educação sexual, nem vão fazê-la. Porquê? Pela mesma razão que na Escola Solano de Abreu há, dizem-me, 36 professores formados em gestão escolar mas não professores para irem para a gestão quando é preciso alguém. Ou seja, os fundos para formação de professores não foram para melhorar o desempenho dos professores e das escolas, mas para outra coisa. E lá se vão.
Já nesta semana, uma abrantina que está na Dinamarca a fazer o mestrado, recebeu em casa, numa encomenda vinda da universidade, os materiais que vai ter de estudar durante o primeiro semestre. Dois dias depois, creio que hoje mesmo, as aulas começavam. Nem vale fazer comparações com Portugal.
Só quando as coisas funcionarem em Portugal melhor do que nos países da frente é que vamos alcançá-los. E digo melhor, porque é necessário ir mais depressa para recuperar os lugares que nos separam.
A verdade, contudo, é bem diferente. Queremos estar entre os melhores, mesmo trabalhando pior que os piores. Por isso, os piores vão ultrapassar-nos. E não vamos ficar pelo 20º lugar. Vamos cair até ao nível de outro que seja tão mau como nós.
A alternativa?
Uma mudança cultura profunda.Ou então, optarmos por sermos como somos e não andarmos a martirizar-nos por sermos diferentes.

26 August 2007

 
Eduardo Prado Coelho
Morreu, sem aviso prévio.
Durante décadas foi um gerador de impulsos. Dia a dia alimentou a fogueira com pequenos textos de uma atenção e de uma escrita distintas. Tinha o privilégio de passear pelos corredores de muitos poderes, por isso muitos o invejaram. Mas sempre de lá trouxe e sempre para lá levou notícias frescas. E com isso ajudou-nos a olhar para lá da linha do nosso horizonte mais estreito.
Foi um exemplo de um novo tipo de intelectual. Não já o mestre e o guia que aponta a direcção e deve ser seguido, mas aquele que, com o seu trabalho intelectual, nos dá pistas para fazermos o nosso caminho. Como escreveu, a propósito da sua morte, D. José Policarpo: Cada um dos seus textos, por muito distantes que estivéssemos das suas posições, fazia-nos sempre reflectir. ... graças à forma muito interessante como utilizava a sua imensa cultura em apoio aos seus raciocínios.» (Público, 26.8.07)

P.S. – Tive oportunidade de ouvi-lo duas vezes em Abrantes. Uma primeira, num Festival do Imaginário, onde leu um texto magnífico sobre dança. Uma segunda, na ESTA, já este ano, se não erro, numa comunicação que denotava já uma fragilidade que me surpreendeu.

 
Sabores do Pinhal
Chegámos às oito, como combinado. A mesa estava preparada, mas a casa silenciosa num vazio de Agosto. Sentámo-nos e fomos servidos com prontidão. Mas não podia acreditar que aquela sala estava vazia numa noite de sábado.
A refeição foi decorrendo com boa qualidade e natural satisfação. À saída, já estava a sala cheia e havia pessoas à espera. Foi a melhor sobremesa.
Lá fora, perguntámos para que seria todo aquele espaço não aproveitado. Que era para esplanada, mas não quiseram abri-la por não terem encontrado pessoal com qualidade suficiente, disse alguém. Foi a cereja sobre o creme.

P.S. – Uma economia próspera, mesmo local, não se faz de empresas, mas boas empresas. E de pessoal qualificado.

 
A bica
Queixaram-se de que o café a 60 cêntimos é caro? Quem diria!...
No centro de Lisboa, bebe-se a 55 cêntimos. Na principal pastelaria da principal avenida de Viana do Castelo, bebe-se um bom café a 50 cêntimos.
E queixam-se de que em Abrantes a bica custa 60 cêntimos?
É só ingratidão.

 
E vão dez
A criança que não queria falar, de Torey Hayden (Presença), vai na décima edição. Em sete meses.

 
A cultura
Tenho vindo a insistir, há anos, na recusa de uma visão metafísica da cultura. Uma cultura é um sistema de soluções para resolver os problemas da vida. E resolve-os melhor ou pior. E, quando a vida muda, o que era solução pode passar a fazer parte dos problemas.
Isso mesmo deve ser tido em conta, por exemplo, na análise da nossa relação com os ciganos e dos ciganos connosco e sobretudo dos ciganos consigo mesmos.
Vejo que a cultura oficial sobre esta matéria está errada, pelos não-resultados que apresenta. E vejo que a própria cultura dos ciganos não está a encontrar – para eles – as soluções de que eles mesmos sentem falta. E sinto, vivamente, que há um choque entre ambas as partes e de nenhuma lado há solução para o problema.
Falta fazer uma “revolução cultural” de ambos os lados. E, sinceramente, penso que os ciganos (os nossos) já não serão capazes de fazê-la por si mesmos. E não vejo que do nosso lado possa vir-lhes qualquer auxílio duradouro, porque as soluções apontam no sentido errado. Sou eu que o digo? Não, são os não-resultados. Estes são sobretudo um afundar-se dos ciganos na marginalidade. Marginalidade de que também pagamos os custos.

 
Manuel Lopes de Sousa
Também não tive oportunidade de ouvi-lo, mas teve uma intervenção na Rádio Renascença. Com a bonita idade que apresenta, continua a lutar pelos mesmos ideais de sempre: a criatividade e a educação para a criatividade.

21 August 2007

 
O furacão
... veio mostrar a quantidade de gente que anda por aí a passear. E temos de acrescentar o Brasil e tantos outros brasis onde não passou o furacão. Não dá para crer que haja crise. Se há, não é para todos.
E é esta a verdade. Como de costume, há os que vivem a crise e os que vivem da crise.
E o pior é que os que vivem a crise estão cada vez mais desacompanhados, até de si mesmos. E, quando apostam, parecem fazer tudo para a aposta errada. E vê-se isso pelos resultados.Mas o mais comum é não haver sequer qualquer aposta. A queixa é a solução mais preferida. Ah, e a espera, à espera que passe, que alguém resolva o problema.

 
See You
O See You é um emblema acabado deste país. Com óptimas condições de localização, com um público que aflui sem ser preciso chamá-lo, com liberdade quase total de acção, consegue ser o contrário do sucesso. Tudo porque conseguiram ali montar uma muito boa organização para a ineficácia.
Se alguém narrar os casos ali vividos, ninguém acredita. Mas eles aconteceram.
Em nenhum país desenvolvidos, daqueles com quem nos queremos parecer, aquilo seria possível. Mas entre nós, é.

 
Convençam-me
Convençam-me lá, por favor, de que os incêndios de ontem no Sardoal e de hoje em Abrantes tiveram origem em negligência. É que, se não me convencerem, eu não consigo convencer-me a mim mesmo.

20 August 2007

 
Lucília Moita
Dizem-me que Maria Lucília Moita foi tema de um programa de televisão, creio que o Setenta Vezes Sete. Não vi, mas tenho pena. É um “prémio” merecido. Longe dos centros do poder artístico, os artistas tendem a receber menos atenção do que merecem.

 
Mais Boas notícias
A criança que não queria falar, de Torey Hayden (Presença), de que aqui já falei, alcançou já a nona edição.
E já saiu um complemento, mas ainda não conheço

 
Fundação António Prates
Tive já oportunidade de visitar este novíssimo equipamento cultural que ª Prates e a ponte de Sor colocou à nossa disposição e que pode ser espreitado em
www.fundacaoantonioprates.blogspot.com
Ali é possível contactar com um importante acervo de arte contemporânea. E ali, espera-se, vai ser realizado um importante trabalho no domínio da educação artística.
Eu ia a dizer “estão de parabéns todos os que...”, mas não posso.
Porque o projecto físico que ali está concretizado apresenta erros de palmatória. Dois saltam de imediato á vista: um percurso em que é necessário andar para trás, sobretudo no balcão, e sem que aí houvesse necessidade, e uma ostensiva colocação dos aparelhos de ar condicionado. E, conta quem sabe, há outros mais, que eu não pude confirmar.
O que importa perguntar é quem assina aquele projecto? quem se responsabiliza por aquela aberração?
De qualquer modo, uma visita vale bem a pena. Tal como vale a pena corrigir as asneiras em causa.

 
Duas sugestões
Para quem tiver oportunidade e possibilidade.
Casa do Adro, em Vila Nova de Milfontes. Turismo rural, ambiente caloroso e personalizado, uns pequenos almoços de estalo. Recomenda-se:
http://www.casasbrancas.pt/pt/casas_ficha.asp?id=3
Flor do Monte. Num sítio perdido, em Trás-os-Montes, que pode ser oferecido?
A D. Emília pensou que nada melhor que boa comida e produtos locais. Ali pude provar o melhor arroz de pato da minha vida. Depois, bem, à volta há nada menos do que um património único, natural e cultural.
http://www.flordomonte.com/
Porque dou eu estas sugestões? Porque elas merecem ser sugeridas e porque também me foram indicadas a mim.

 
Portas adentro?
Naquelas noites de calor que faziam falar nas alterações climáticas, eu costumava ir passear para a beira Tejo, no Aquapolis. Ali estava mais fresco, era menos difícil aguentar a espera de se poder ir para a cama. Além disso, a paisagem era magnífica: as luzes do outro lado, reflectidas na água, puxavam pela imaginação. Era bom.
Mas o que mais me intrigava era como aquele lugar estava quase deserto. Praticamente ninguém. Onde andariam as pessoas?
- Estão em casa, a ver telenovelas, respondeu-me alguém.
- Ah, reflecti eu.

 
Regina Pessoa, com história feliz
Tenho acompanhado, de longe, a história do filme de animação "História Trágica com Final Feliz", de Regina Pessoa, que recebeu já um palmarés internacional “impossível” de sonhar. Deixo, para aferição, alguns contactos:
http://www.ciclopefilmes.com/
http://www.estreia.online.pt/aleph/ficha?list_newson+1279
http://www.rtp.pt/index.php?article=273226&visual=16Mas o que me traz aqui é o facto de eu me sentir um privilegiado. Quando ainda era cedo demais para cantar tantas vitórias, Abrantes pôde ver, numa cooperação entre a Câmara Municipal e o Espalhafitas, quer o filme de Regina Pessoa (no S. Pedro), quer uma exposição com os materiais do filme (na galeria), quer a própria Regina Pessoa e creio que o produtor do filme (também no S. Pedro). Foi, de facto, uma ocasião de privilégio, que nos foi oferecida portas adentro.

 
Saramago, o ibérico
Há algum tempo (15 Julho), Saramago voltou a bolsar o seu oráculo:
«Portugal acabará por integrar-se na Espanha».
Em Portugal houve sobretudo duas reacções: os que se indignaram com tais palavras e os que se indignaram com a indignação dos primeiros.
Saramago tem razão: Portugal parece estar a desistir a favor da Espanha. Cerca de 10% do nosso PIB é produzido por empresas espanholas e creio não estar enganado na informação de que 30% das nossas empresas cotadas em bolsa são já propriedade de espanhóis. A volta foi dominada nos 10 primeiros lugares por espanhóis. No Alqueva, por exemplo, os agricultores portugueses acumulam queixas contra o Governo, enquanto os espanhóis acumulam hectares adquiridos. E até no Espalhafitas se pode ver a diferença entre os filmes portugueses e espanhóis e se compreende que, enquanto os espanhóis acumulam êxitos de bilheteira, os portugueses acumulam queixas, como a de que «o cinema português é tão conhecido como o esquimó».
Saramago tem, por isso, razão. Ou parece ter. Ou melhor: tem a sua razão.
Desde sempre, em Portugal houve este conflito de integração com a Espanha.
No tempo de Afonso Henriques, houve os que queriam Portugal independente e os que estavam do lado de Espanha (Leão). No tempo de D. João I, havia os que estavam do lado de Portugal e os que estavam do lado de Espanha (Castela). No tempo de D. João IV, havia os que estavam do lado de Portugal e os que estavam do lado de Espanha (Castela ainda, creio eu). Agora, de novo, há os que estão do lado de Portugal e os que estão do lado de Espanha. A fala de Saramago diz sobretudo duas coisas: de que lado ele está e de que lado nos convida a estar. E essa é a sua razão.
No passado, as coisas penderam para o lado que sabemos: para o lado de Portugal quase sempre e para o lado de Espanha em 1580. Agora, não sabemos ainda o resultado. Mas sabemos o resultado a que Saramago nos convoca. Ele desistiu, há muito, de Portugal, pelas razões que conhecemos. E é por isso que não encontra qualquer razão para resistir a um movimento que vê – e que aceita, conformado.
Se vier a ter razão, é uma razão também por ele construída.
Porque uma coisa é verdade: há uma tendência, mas ela não é mais que isso. O resultado depende do que fizermos.
Imaginemos que o Presidente da República e o Primeiro Ministro tinham dito o mesmo que Sócrates. O nosso Nobel disse-o. E ao dizê-lo fez força numa certa direcção.Se Saramago tiver razão, a ele mesmo também se deve.

19 August 2007

 
Etnográfico “Os Esparteiros”, Mouriscas
Medalha de Mérito Cultural para o Grupo Etnográfico “Os Esparteiros”, de Mouriscas, por ocasião do seu XXXI Festival de Folclore.
Fazer 31 festivais de folclore é obra. Olhar para a lista dos grupos que de Norte a Sul, e agora dos Açores, vieram a Mouriscas dar uma lição ao vivo da cultura popular dos portugueses é entrever o trabalho educativo que o Grupo tem vindo a fazer. Constatar o êxito deste último Festival é perceber que ele existe, não porque ainda não conseguiu acabar, mas porque ainda está vivo e para durar.
Além disso, este ano trouxe o grupo de Boidobra, Covilhã, que ali mostrou um exemplo do que é a nova tendência do espectáculo folclórico.A
forma tradicional da exibição do “rancho folclórico” desgasta-se com o tempo. E se não há renovação, como em tudo o que é social, há morte. A única forma de salvar o espectáculo de folclore é renová-lo. Como de costume, não há soluções garantidas à partida. Há experiências, cujos resultados se vêem depois.

 
Os ciganos
Sei perfeitamente que o dossier Ciganos é difícil. Mas também sei que não tem tido evolução positiva. Bem pelo contrário. Até sei, porque li, como toda a gente, que Portugal já foi repreendido por deixar as coisas irem por onde e para onde estão a ir.
Que medidas vemos?
Ainda há poucos dias a "RTP 2" mostrou o caso da Família Monteiro, de Montemor (-o-Velho, se não me engano). Passados 10 anos e tudo o que se fez, por várias entidades, a situação está pior.
Porquê?
Porque são erradas as teorias que presidem à abordagem do problema, sobretudo as teorias que vigoram no domínio da justiça e da(s) segurança(s). E que estão erradas vê-se pelo resultado, que é por onde se avaliam as teorias.
E o resultado que está à vista é que tanto os ciganos como as comunidades à sua volta se estão a afundar com a complacência, ou conivência, das autoridades.
Já vimos que a “cultura cigana” não consegue encontrar uma solução de vida para os seus membros. Já vimos que a cultura dominante também não consegue encontrar solução para o problema dos outros.
Temos que ser nós a reivindicar uma outra solução, digna e eficaz: para os ciganos, para os outros que com eles convivem, para a cultura cigana, para a nossa cultura impotente.Caso contrário, teremos que contar as vítimas de ambos os lados. E teremos que tapar a cara de vergonha.

 
Família em fuga
O Diário de Notícias (19 Agosto) conta
http://dn.sapo.pt/2007/08/19/cidades/familia_esta_a_monte_temendo_represa.html
aquilo que não admira que esteja a acontecer.
Quem observa de perto o andar dos acontecimentos com facilidade vê a direcção que eles tomam.
Já aqui falei disto.
http://abranteimas.blogspot.com/2007_05_01_archive.html
A notícia de que agora tomamos conhecimento é apenas a última antes da próxima. E não é difícil prever que as coisas vão piorar. Pois há alguma razão para não irem nessa direcção?
E quando houver (mais) um acontecimento fatídico, quem reponde por ele?
Temos de responsabilizar as autoridades, a começar pelas policiais e a continuar pelas judiciais. Estamos a cometer um crime colectivo.

18 August 2007

 
Tudo isto é triste...
1 - Eu vi. Um animador de rua, tipo malabarista, deu um espectáculo junto ao rio. Foi em Vila Nova de Milfontes. À sua volta, uma roda imensa de pessoas assistia com vivo interesse. Quando terminou e pediu uma contribuição pelo seu trabalho, todos desapareceram num repente. Todos? Bem, não: apenas duas pessoas deram o seu contributo, mas tinham cara de estrangeiros.
2 – Eu li (no Expresso, 18 Agosto). No auditório ao ar livre da Gulbenkian, um quarteto fez uma exibição de jazz que claramente agradou à assistência. O saxofonista anuncia que estão disponíveis alguns CDs: «dezenas de pessoas correm para o palco, atiram-se aos CDs e vão-se embora, ligeirinhas, sem os pagar.»
3 – Continuo na minha. Este é um povo de piratas, que não consegue superar algo que lhe ficou nos genes desde o pai Afonso. É por isso que eu não consigo arranjar paciência que resista à lenga-lenga do «bom povo português». Pelo que se vê, desde o povo na praia até à elite dos templos culturais, o risco não é de voo rasteiro, é de submarino.4 - Mas todos queremos ter os mesmos benefícios que os países civilizados.

 
Máximo Ferreira
Medalha de Mérito Educativo e Científico para este militante da Astronomia. Com a participação esclarecida da autarquia municipal de Constância, tem estado a erguer uma obra de um significado que passa despercebido de perto mas que se vê de muito longe.
Neste fim-de-semana, mais uma edição da Astrofesta e sobretudo a inauguração de um observatório do Sol (60.000 euros), o primeiro na península ibérica e o segunda na Europa, são mais um trunfo na obra persistente de Máximo Ferreira.
Penso que não erro se disser que, a partir de agora, o Ciência Viva de Constância passa a ter, além do papel educativo, uma função de investigação.

01 August 2007

 
Baden Powell
Última Mensagem aos seus Escuteiros

Caros escuteiros:
Se já vistes a peça Peter Pan, haveis de recordar-vos de como o chefe dos piratas estava sempre a fazer o seu discurso de despedida, porque receava que, quando lhe chegasse a hora de morrer, talvez não tivesse tempo para o fazer. Acontece-me coisa muito parecida e por isso, embora não esteja precisamente a morrer, morrerei qualquer dia e quero mandar-vos uma palavra de despedida.
Lembrai-vos de que é a última palavra que vos dirijo, por isso meditai-a.
Passei uma vida felicíssima e desejo que cada um de vós seja igualmente feliz.
Crei que Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. A felicidade não vem da riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem dos prazeres. Um passo para a felicidade é serdes saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fordes homens.
O estudo da natureza mostrar-vos-à as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.
Mas o melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo um pouco melhor de que o encontrastes e quando vos chegar a vez de morrer, podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem.
Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escotista - mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.
O Vosso AmigoBaden Powell

 
Escutismo, 100 anos
Faz hoje, 31 de Julho, se não erro, um século que Baden Powell fundou o Escutismo. Na verdade, ele não fundou o Escutismo. Limitou-se a fazer o que estava ao seu alcance imediato. Viu os jovens da sua cidade gastar o tempo e a juventude numa ociosidade inútil, viu ainda a larga experiência militar reforçada pelas campanhas na Índia e em África e... apenas os convocou para uma pequeno acampamento. Nada mais simples.
Ele era um herói militar. Podia deixar-se estar quieto, pois já tinha feito a sua “obrigação”. Mas não:
“Durante uma viagem a Inglaterra, Baden-Powell viu alguns rapazes criarem brincadeiras através de um livro, que ele havia escrito para batedores do exército e que continha explicações sobre como acampar e sobreviver em regiões selvagens. Então, conversando com os amigos, ele entusiasmou-se e resolveu realizar, em 1907, na ilha de Brownsea, um acampamento com vinte rapazes dos 12 aos 16 anos, onde transmitiu conhecimentos técnicos tais como: primeiros socorros, observação, técnicas de segurança para a vida na cidade e na floresta, etc.”
In
http://www.cne-escutismo.pt/Escutismo/Fundador/tabid/81/Default.aspx
Depois… Bem, depois foi como muitas vezes acontece. O chão estava maduro e Baden Powell foi desafiado a fazer daquela experiência muito mais: mais alto e mais longe. E ele foi.Hoje, o Escutismo é o maior movimento de juventude tanto no mundo como em Portugal. Muitos jovens continuam a aprender a ser através de um método que visa formar a pessoa nas suas várias dimensões.

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