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03 January 2007

 

O Iraque, ainda

Filomena Mónica escrevia na Pública do domingo passado:
«Mesmo que me custe, o mais simples é afirmá-lo à cabeça: errei, quando (…) apoiei a invasão do Iraque. Ainda por cima, sei qual o motivo: tudo resultou de ter deixado que a emoção se sobrepusesse à razão. O meu ódio ao fanatismo islâmico aliado ao desprezo pelo complexo de inferioridade europeu relativamente aos EUA levaram a que não adoptasse a atitude justa, isto é, o silêncio.»
Há sempre razões pela quais uma pessoa está a favor ou contra uma coisa. Mais: cada pessoa está, a favor ou contra, pelas suas razões, e não pelas dos outros. Podem coincidir, podem ter sido importadas de outrem, mas são as suas, por mais tolas ou inteligentes que sejam. Isto parece evidente, quando nos pomos a pensar sobre isto, mas é tudo menos evidente. E, sobretudo, é difícil de incorporar na vida, isto é, adoptar esta perspectiva como um ponto de vista a partir do qual se vive.
Houve pessoa que estiveram a favor da invasão por mil razões diferentes e houve pessoa que estiveram contra a invasão por outras mil razões diferentes. E cada um de nós avalia, do seu ponto de vista, quer a invasão quer as opiniões dos outros sobre a invasão.
Eu creio que a invasão do Iraque (é óbvio que o próprio termo “invasão” já fala alto), repito, eu creio que a invasão do Iraque se ficou a dever sobretudo à necessidade dos americanos descarregarem o ódio e a frustração que sentiam após o atentado do WTC. Não foi a democracia, como sempre soubemos, o motivo; nem sequer, o petróleo, apesar de ele ter sido também um motivo forte; nem foi apenas o poder dos impérios do armamento, que precisavam que houvesse guerra, embora também este não tenha sido um motivo ausente… O mais decisivo, por razoe políticas e por razões psíquicas, o mais importante motivo foi a “necessidade” de fazer alguma coisa muito visível, muito forte, muito “à medida”, que respondesse ao “inimigo” e que “respondesse aos próprios americanos. E a guerra, dada a certeza da vitória do “mais poderoso” exército do mundo, era a resposta imediata, evidente, natural…
Os militares avisaram contra a guerra, mas não são os militares que decidem a guerra, eles apenas são chamados a fazê-la.
Hoje vemos, como os militares então disseram, que a guerra não podia ser ganha.
Hoje sabemos, como eu próprio então escrevi, que a democracia não podia ser instalada.
Hoje parece evidente que declarar guerra, mesmo ao terrorismo, é provocar no outro lado uma contra declaração de guerra.
Enfim, hoje sabemos, e vários relatórios o dizem, que a guerra ao terrorismo foi sobretudo uma sementeira de mais terrorismo.
A única verdadeira conclusão já a tínhamos antes, mas sempre a esquecemos: o ódio não é o melhor conselheiro, nem o melhor guia de uma decisão. Quantas vezes não experimentámos já, na própria pele, isso mesmo?

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