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29 March 2007

 

O Prémio

Lobo Antunes venceu o Prémio Camões. Está certo. Quando um grande autor (apesar de todas as críticas) vence um grande prémio, tudo está bem. Como quando Siza Vieira vence um grnade prémio mundial de arquitectura.
Contudo, talvez valha a pena olharmos para o panorama dos prémios e dos premiados em Portugal. Tende a confirmar a afirmação não muito injusta de que "são sempre os mesmos a ganhar todos os prémios".
Torna-se indispensável uma outra grelha de prémios, que multiplique os prémios de revelação e de "médios autors" para afunilar no topo à consagração de alguns grandes autores. Porque é multiplicando na base que se eleva o topo. Para isso seria necessário que o sistema cultural português fosse menos fechado e menos corporativo.
É certo que há poucos lugares. Mas isso é já o apontar de uma solução: criar mais lugares, o que passa por aumentar os processos de produção e conumo na base, mais concretamente por todo o país. Mas mais vale estar calado, que ao menos não se gasta tinta.

 

Lá fora, o êxito

Ana Lains é uma jovem cantora que vem a desenvolver uma promissora carreira internacional. Natural e semi-residente em Montalvo, é cantora residente no Casino da Figueira, mas "viaja" por outros palcos que lhe permitem afirmar e desenvolver os seus valores.
Patrícia Belém é uma ciança ainda, mas já uma estrela. Do Sardoal, subiu aos palcos de Lisboa a interpretar uma das filhas da conhecidíssima família Von Trapp, do Música no Coração, agora em versão La Féria.
Nada me incomoda que os nossos conterrâneos triunfem lá fora. Pelo contrário. O que me inquieta é a situação dos que cá ficam. Das estruturas de reconhecimento e encaminhamento dos mais dotados para que possam, sem dúvida, ir lá fora procurar o triunfo aqui impossível. Mas também me pergunto pelo desenvolvimento continuado e sustentável das estruturas e ambientes que permitam o amadurecimento e afirmação, aqui, de cada vez mais valores das nossas comunidades locais.

 

PAPELPAREDE

Saíu já o número um (mas segundo, após o número zero) da revista PAPELPAREDE, uma publicação do Núcleo do Médio Tejo, sediado em Abrantes, da Ordem dos Arquitectos.
Trata-se de uma revista urbana em contexto rural ou do interior, a afirmação de que no interior talbém é possível fazer coisas que não sejam só do tipo rural português popular.
Tambéwm neste caso devemos perguntar:
Por que razão uma coisa destas é possíevl em Abrantes?

 

Apollinis

Descobri agora, por acaso, "Apollinis", um disco que celebra os 75 anos da Academia de Música Banda de Ourém. Uma surpresa. Embora sujeita a mil críticas. Mas existe.
A única pergunta que vale a pena: por que razão uma coisa destas seria (é) impossíevl em Abrantes? o que é que Ourém tem que Abrantes não tem?
À primeira vista, nada. Mas o resultado mostra que é falsa essa primeira vista.

 

Pois é

Já há vários anos que não o via. Está reformado. Propuseram-lhe a retirada num processo de reestruturação da empresa. Tinha, na altura, 49 anos. Aceitou.
Como é novo e de valor, é claro que não ficou parado. Continua vivo, e activo.
Em síntese: menos um a trabalhar, menos um a descontar para a segurança social, mais um a receber da segurança social, um outro posto de trabalho ocupado, mais um desempregado, e mais um emprego onde não se desconta para a segurança social (por ele já ser reformado).
Tudo somado e tudo multiplicado por milhares e milhares de casos pelo país, dá que resultado?
È claro que isto não é nem pode ser uma avaliação da pessoa deste meu amigo ou de outros milheres de pessoas nestas condições. Mas não pode deixar de ser uma avaliação de um país, o nosso, isto é, de governos e sindicatos que aceitam que a nossa vida colectiva se afunde assim.

 

I Gala Comic Awards

Na ESTA, lecciono uma cadeira teórica, Psicossociologia da Comunicação. Isso quer dizer que apanho e conheço os alunos pelo lado das competências teóricas e avalio-os pelo lado dos seus desempenhos mais ou menos teóricos, quando muito teórico-práticos.
E todos nós sabemos que as cpmpetências teóricas não são irmãs gémeas, muito menos siamesas, das competências práticas.
A I Gala Comic Awards foi também, para mim, a oportunidade para ver em exercício algumas das comeptências práticas dos meus alunos. E, como sempre acontece, alguns revelam-se verdadeiras surpresas, mostrando ali altos níveis de desempenho que nunca foram capaz de relevar no palco da folha de prova escrita.
Eu insisto comigo mesmo nessa diversidade dentro de cada indivíduo, procurando resistir à tentação de reduzir o aluno à resposta àquilo que se lhe pede numa disciplina, necessariamente a minha. E eu vejo-os, em várias oportunidades, fora da sala de aulas.
Mas vê-los, antes e ali em palco, a construírem um êxito objectivo e a receberem o merecido troféu do sucesso, é outra coisa. E não há pessimismo que resista àquilo que esta juventude mostra de facto.
Só do alto de uma presunção egocêntrica ou gerontocêntrica é que se continua a afirmar que “no meu tempo é que…”.

 

I Gala Comic Awards

Por mais que se queira, não há outro modo que suplante o aprender fazendo acado com a formação teórica. Também é conhecido o carácter teórico, excessivamente teórico por falta de uma forte componente prática, da nossa formação académica. Registe-se que no intercâmbio que a ESTA tem desenvolvido com o Brasil tem ficado claro que os alunos portugueses apresentam uma melhore preparação teórica e os brasileiros uma melhor preparação prática.
A I Gala Comic Awards tem este sentido de aposta numa formação prática, na preparação dos alunos através do acto de fazer em contexto real, de colocar os alunos à prova sem aquele (inevitável? Não!) espírito de faz-de-conta que caracteriza tantas vezes o fazer escolar.
Não há melhor escola que a escola da vida, diz-se. Isto no pressuposto de que a escola é uma coisa e a vida outra. Mas não é verdade. Nunca é verdade, mesmo quando a vida na escola se reduz ao mínimo de fingir que é.
Importa, no entanto, dizer que a I Gala Comic Awards não recebe o troféu de primeira aposta na vida ao vivo. Há muito que essa aposta se vem fazendo. Desde os “velhos” e sempre continuados estágios em jornais, rádios e televisões, logo desde os primeiros anos do curso (de Comunicação Social, que é o que melhor conheço da ESTA), até à produção pelos alunos do Encontro de Comunicação, passando pelo trabalho de cobertura que a Escola faz para pareceiros do exterior, o jornal da escola, etc. Outros cursos da ESTA têm a mesma dimensão de desafio em contexto real, mas estou menos informado.
De qualquer modo, este é o caminho. E a passada, neste caso, foi larga.

 

I Gala Comic Awards

Quero aqui destacar o papel decisivo que tiveram as professoras Hália Santos, Gorete Lopes e Isabel Pitacas. Creio que pode dizer-se que arriscaram tudo… e ganharam.
São professoras, senhoras doutoras, num país engravatado. “Deviam”, por isso, dar-se ao respeito e não se baixarem a este tipo de coisas. Isto segundo o senso comum engravatado. Mas não. Assumiram com seriedade o lado cómico da vida, procuraram o lado irreverente da sua juventude evidentemente não perdida, apostaram num trabalho lado a lado com os alunos, encarnaram papéis de humor que levaram com inegável qualidade ao espectáculo, e venceram em toda a prova. É claro, subiram uns pontos na consideração de todos.
São assim as mulheres fortes, que estão acima das circunstâncias. E que sabem distinguir entre as convenções que é necessário respeitar e as que são para abanar por dentro.
Foram, sem dúvida, uma das revelações da noite.

 

I Gala Comic Awards

Foi um êxito absoluto a I Gala Comic Awards, promovida pela ESTA no âmbito da Semana da Educação. (É verdade que não há êxitos absolutos, mas a expressão pode ser usada como hipérbole, justa hipérbole, aliás.)
O espectáculo teve várias virtudes maiores. Foi desenvolvido por uma equipa de alunos e executado sobretudo por alunos; teve um nível de qualidade muito apreciável; decorreu sem falhas significativas; teve humor, irreverência e capacidade crítica sem nunca cair na chacota de baixo nível; foi capaz de mobilizar a participação de professores, sobretudo de três professoras; proporcionou-nos a revelação de capacidades dos alunos insuspeitas ou quase ocultas no quotidiano escolar; foi um espaço de poder e expressão de uma das partes mais fracas duma escola, os alunos; foi a afirmação da importância do humor e da crítica e de uma saúdavel abertura ao menos formal e menos académico por parte da instituição; foi, antes de tudo o mais e sobre tudo o resto, uma oportunidade de aprender fazendo e fazer-se a si mesmo fazendo para os alunos que assumiram este projecto e o levaram a bom porto. Que recorde, apenas dois aspectos negativos: ter começado um pouco atrasada e ter sido demasiado longa, tanto mais que era véspera de um dia de trabalho.
Mas, sem dúvida, um PARABÉNS gritado sobre os telhados da cidade, de modo a que possa ouvir-se nas terras donde são os alunos que ofdereceram a Abrantes e à sua Escola um novo ponto alto do calendário escolar.

16 March 2007

 

(In)justiça

Sabemos como Anabela Rodrigues se tem entregado de alma e coração ao projecto de animação da biblioteca / centro de recursos da sua escola, ou melhor, do seu agrupamento de escolas. Temos visto o reconhecimento público unânime ao seu trabalho no sentido de fazer as crianças ler e elevar o estatuto social do livro e da leitura. Eu próprio, na pista de uma criança com cancro, em Abrantes, pude testemunhar como foram importantes a atenção e o trabalho de Anabela Rodrigues.
Agora, o Ministério da Educação vem dizer, através da grelha de avaliação dos professores, que isso a que a Anabela se tem entregado de alma e coração… afinal não tem grande valor.
Malhas que o império tece. Resultados inevitáveis de quem quer dirigir todo o império a partir de um centro que só pode ser cego, surdo e mudo relativamente ao que acontece na periferia.

 

A Europa

Está de parabéns, a Europa. Faz 50 anos do seu actual projecto, embora sujeito a múltiplas evoluções.
O principal objectivo foi evitar a guerra entre os seus constituintes, o que foi conseguido. E foi também, desde o início, um projecto económico, em que se obtiveram notáveis resultados.
Mas, hoje, a Europa está em crise. Não apenas a crise natural de crescimento, mas uma crise a vários níveis: de identidade, de sustentabilidade interna, de concorrência externa e de liderança.
Os EUA e o Japão têm vantagens nos processos de inovação e desenvolvimento; os países emergentes oferecem-se como alternativa para processos de deslocalização, a China e a Índia afirmam-se como potências emergentes capazes de alterar as regras do jogo internacional e a Europa não parece estar a conseguir assegurar um lugar que lhe interesse no próximo mapa do mundo. Entretanto, a pressão da imigração ilegal e o terrorismo internacional desafiam-lhe as seguranças e as competências. Além de que a Europa se encontra envolvida numa guerra, no Afeganistão e no Iraque, que não pode perder mas que também não pode (parece) ganhar.
E como vamos de liderança?
A França tem um presidente em fim de mandato, mas há anos politicamente enfraquecido e em conflito com o único aliado potencial da Europa, os EUA. A Inglaterra tem um líder em fim de mandato e, embora aliado aos EUA, a contas com uma guerra no Iraque que lhe arde no currículo. A Alemanha é a única que pode, e quer, assumir um papel de liderança, mas é menos que suficiente para consegui-lo.
Não vai ser fácil, o caminho da Europa.
E esta falta de liderança parece ser sintoma de um enfraquecimento interno, que torna e Europa incapaz de reagir eficazmente aos desafios com que se defronta. Ao que parece, porque não se deu conta de que não há milagres: o futuro que queremos não está garantido por qualquer garantia metafísica, mas resulta apenas daquilo que nós fizermos e deixarmos os outros fazer.
E não podemos esquecer, nunca, que aqui em Portugal não estamos imunes, antes somos dependentes, do que acontecer na Europa.

 

A morte / A vida

No momento de partida sem retorno para Miguel Baptista Pereira, nascia uma outra criança que vinha “substituí-lo”. Mas MBP tinha levado 77 anos a construir e era um homem raro, com uma bagagem muito fora do comum.
Aquele que nasceu agora é uma criança a iniciar os primeiros momentos, ainda completamente para produzir. Terá de aprender tudo o que vier a ser…
Podemos dizer que este é um sistema de forte desperdício. Tudo o que levou tanto tempo a construir foi agora deitado a perder.
Mas é isso mesmo, este sistema de desperdício, que nos permite a História. O novo homem tem agora de ser feito, e nunca será a cópia do que se perdeu. Nem sequer a continuação, permitindo-lhe, por isso mesmo, ser completamente diferente.
É este um dos grandes segredos da humanidade.
Também cada um de nós é continuação e também alternativa àqueles que viemos substituir.

 

Miguel Baptista Pereira

Com 77 anos, faleceu Miguel Baptista Pereira, catedrático da Universidade de Coimbra, entretanto jubilado. Foi meu professor de mestrado durante dois anos e durante dois anos tive o prazer de ouvi-lo reflectir com mestria sobre os mais variados assuntos. Era do tipo de pessoas que encanta e que, por isso, não cansa.
E não posso esquecer que foi ele quem me pôs no caminho a obra de Pedro Laín Entralgo, que veio reunir num feixe algumas das minhas linhas de pensamento, sobretudo a sua obra Teoria do Corpo Humano. Laín Entralgo, hoje já tem várias obras traduzidas, mas era, então, um autor praticamente desconhecido entre nós. Foi MBP que me pôs em contacto com a sua obra e aceitou que eu fizesse sobre ele a minha tese de mestrado, o que viria a ser decisivo no meu pensamento.
Recordo-o com gratidão.

08 March 2007

 

A China em Abrantes

Na Biblioteca Municipal, está patente uma exposição de fotografias sobre a China, da autoria de Fernando Penim Redondo. Não são um retrato da China, mas impressões de um viajante. Não está ali a China da poluição, do trabalho escravo, da repressão política, etc. Mas estão fotografias que nos desinstalam das imagens diárias e nos desafiam a uma atenção mais cuidada a esse país que se prepara para liderar o mundo em várias (não em todas as) dimensões. A China já está a ditar regras e vai fazê-lo cada vez mais. Vale a pena, por isso, focar as nossas lentes para o dragão que desperta.
A Biblioteca aproveitou para expor alguma da bibliografia que ali pode ser consultada. Sim, afinal a China fica aqui perto: http://www.bmab.cm-abrantes.pt
E dizem-me: se gostas de fotografia, vai ao Google, escreve o nome do fotógrafo e vê.

 

Às minhas mulheres

Hoje, Dia da Mulher, cumpre-me prestar homenagem às minhas mulheres.
Em primeiro lugar, às de casa, a minha mulher e a minha filha. Depois, às minhas alunas e às minhas colegas. E também às minhas amigas. Finalmente, àquelas com quem vou tratando na lida de todos os dias: nas lojas, nas repartições, nos encontros de rua…
A minha homenagem, pois. Não às mulheres, mas às minhas mulheres, aquelas que me entraram e permanecem no coração. Aquelas que, a vários níveis, dão uma cor especial às horas e aos dias e um sabor particular à vida que fazemos em comum. Porque há mulheres que não merecem qualquer homenagem, algumas são mesmo piores que uma praga.

P.S. – Não esqueci as minhas mulheres que já partiram. A essas, a minha homenagem é mais silenciosa.

 

A propósito

Aproveito e cito António Barreto, da mesma fonte:
1. «A maior parte dos portugueses exibe uma insatisfação estranha perante a vida, o País e a sociedade. E isso deve-se ao facto de termos o máximo de informação que se pode ter no mundo, isto é, pertencemos a um país rico, ao grupo dos 35 países privilegiados do mundo, mas há 150 mais miseráveis do que nós. Nós partilhamos o mundo privilegiado mas estamos no fundo desse grupo.»
2. «Os portugueses são dos povos que mais desperdiça. Desde a paisagem ao mar, à floresta, ao dinheiro, aos orçamentos públicos. Desperdiça-se, desperdiça-se…»
3. «Falta[-nos] a organização, f alta[-nos] a experiência.»
4. «Estou convencido de que os melhores mil alunos do meu tempo não são tão bons como os melhores mil de hoje. Sabem muito mais (…). A minha experiência na universidade diz-me que são muito melhores. Depois há a massa que não sabe escrever, nem falar, nem pensar.»

 

Na saúde, também

António Barreto dizia no Expresso/Única (3 Março) que na Saúde também se passa assim:
«Vi que com os meios que temos é possível fazer melhor. E já se fez. Vi centros de saúde bem organizados em que, se a pessoa marcou consulta para as 8h da manhã é a essa hora que é atendida. Ao lado, noutro centro de saúde, havia filas de espera das 6h da manhã às 3h da tarde. O centro que funciona bem não tem mais dinheiro que o que funciona mal. Servem 15 ou 20 mil pessoas, recebem a mesma dotação. Isto depende dos médicos, dos enfermeiros, da capacidade de organização e dedicação.»
Ele disse “organização”?!

 

Na escola, sim

Há tempos, escrevi aqui que, se quiséssemos, podíamos, em poucos anos, uma boa escola. Que, por isso, uma grande parte do que é uma escola decide-se no modo como essa escola se organiza. Chamaram-me, na altura, alguns nomes feios.
Agora, o Diário de Notícias (4 Março) vem confirmar que assim é.
Uma escola de Estremoz, «em pânico» por se ter dado conta de uma taxa de reprovação de 38% no 7º ano de escolaridade, desenvolveu um projecto e o insucesso caiu logo no primeiro ano para 16%, portanto para menos de metade.
Dito de outra forma, mas generalizando. Um(a) Ministro(a) da Educação não consegue reduzir de modo significativo o insucesso escolar a nível nacional, porque se conseguisse já o tinham feito os vários que o quiseram fazer; mas uma escola pode fazê-lo com relativa facilidade. Há muitas que o têm feito.
Dito ainda de outro modo. A revolução que é preciso fazer-se na educação em Portugal não p ode fazer-se no/do centro e no/do alto do Ministério da Educação. Tem de ser feita nas escolas.
Outro exemplo. Há dias um grupo de deputados foi visitar a escola do Monte da Caparica. Não sei o que viram. Mas sei que houve um tempo em que estávamos habituados a ouvir essa escola nos noticiários pelos piores motivos. A escola organizou-se, em cooperação com o ministério, e os problemas, embora não tenham sido resolvidos – porque a escola não pode resolver problemas daquele tipo -, ficaram controlados e elevaram os níveis de prestação da escola naquela que é a sua missão central, que é educar e ensinar.
Foi a modernidade, com base na mecânica clássica, que nos convenceu que era possível e desejável governar grandes sistemas a partir de cima.
Mas a física clássica já “morreu”, neste caso às mãos da física quântica e da matemática dos sistemas não lineares.

07 March 2007

 

Insólito

A Ministra da Educação “recuou” e as faltas por maternidade não são agora, só agora!, penalizadoras para os professores (professoras e professores).
O mais interessante disto tudo não é mesmo o facto de um(a) ministro(a) ter sequer pensado em que a maternidade seja penalizadora profissionalmente?
E não é igualmente interessante que uma pessoa possa ser penalizada na carreira pelo facto de ter estado uns dias doente? E até por doença para a qual o Estado exija que a pessoa fique em casa?
Pois se até se pode ser penalizado por faltar estando a cumprir ordens de serviço…
Alguma doença rara anda lá pela 5 de Outubro.
Mas o mais grave é que isto não deu um estremecimento sequer, senão entre os professores.

05 March 2007

 

Iraque

Lemos no Expresso (3 Março) as palavras de Bill Odom, que chegou a ser chefe do maior organismo de espionagem dos EUA e faz parte do Conselho Nacional de Segurança:
«A invasão do Iraque foi do interesse do Irão, que odiava Sadam e queria ter mais influência no mundo árabe. E também da Al-Qaeda, que ainda não tinha entrado no Iraque. Mas não dos EUA. Não se pode vencer uma guerra que é do interesse do inimigo. Se os vossos leitores [nós] não entendem isto, o melhor é desistirem deles!»

 

O mesmo

Ouvimos as notícias sobre a nova onda de instabilidade em Timor e perguntamo-nos porque não têm juízo e não aproveitam a oportunidade que têm entre mãos?
Lembramo-nos da continuada instabilidade na Guiné Bissau e lamentamos que não façam o que é necessário fazer para aquele pobre país oferecer melhores condições de vida aos seus.
Entramos por dentro da situação real em Angola, por muitos considerado o país mais corrupto do mundo, e damo-nos conta de que, assim, é impossível criar condições de qualidade de vida "para todos", apesar das condições favoráveis de que o país usufrui.
Cada país vive numa dada situação, que é ao mesmo tempo um campo - limitado - de possibilidades e um universo de constrangimentos - ultrapassáveis em parte. Sempre. E nunca essa situação responde apenas aos sentimentos que podemos ter acerca dela. Por isso é sempre mais visível de fora que de dentro.
O mesmo se passa connosco.
Também nós temos vivemos uma situação, a nossa, com potencialidades e limitações. E as condições de futuro que vivemos nunca dependem apenas das nossas boas intenções. Sobretudo se essas intenções não se apoiam numa análise cuidada, e sistémica, da nossa situação real e do seu contexto (que faz parte da situação).
Tal como Timor, Guiné Bissau e Angola, Portugal não acontece apenas em resposta aos nossos desejos.
E o pior que nos acontece é pensarmos que o sistema social que formamos pode gerar um produto diferente permanecendo ele – nós – na mesma.

02 March 2007

 

Diamantes

Já agora, no Milénio está um filme recomendável a vários títulos: Diamantes de Sangue.
Uma lição sobre África, sobre o homem e sobre muito mais.

 

Estónia em concerto

Belo também foi o concerto que a Estónia ofereceu a Abrantes, no passado dia 28.
«Hedvig Hanson é uma jovem cantora de jazz estoniana que já editou dois álbuns internacionais e ganhou vários prémios musicais na Estónia.» Quer dizer, é do melhor que há na Estónia.
A acompanhá-la esteve Andre Maaker, «um jovem guitarrista do jazz estoniano que estudou e colaborou com os melhores músicos estonianos». Portanto, dois artistas dos melhores.
«Desde 2003 que dão concertos como duo, e com a sua emocionalidade artística imediata e ao mesmo tempo precisão técnica, são assim tão amados pelo público como pelos críticos.» E a verdade é que os CD's que traziam esgotaram de imediato.
A Biblioteca António Botto estava bem composta para os ouvir, mas muitas mais pessoas podiam ter aproveitado. Repito:
É preciso avisar toda a gente... de que há coisas magníficas que se perdem por falta de atenção.

 

Sérgio Vieira

Continua patente na Galeria Municipal de Arte, em Abrantes, a exposição de Sérgio Vieira. Um nome que virá a dar que falar, pela força que já mostra.
«Sérgio António Vieira é residente em Abrantes, cidade onde nasceu em 1976.» Um jovem cá do burgo, portanto. Mas não é por ser vizinho que tem valor, é pela qualidade daquilo que faz. Ao mesmo tempo com um toque de surrealismo, mas também de cartoon e banda desenhada, de onítico e humorista, de cuidado e instantâneo, de infantil e demolidor.
A ver, sem dúvida. E que siga, para a frente e para cima.

 

Saúde e boas intenções

Laurie Garrett defende agora na Foreign Affairs uma tese que eu há anos defendo. Passe a imodéstia. «A tese do artigo é inesperada como um soco [diz o Público, 25 Fev]: o texto defende que as grandes inicitivas filantrópicas de combate a doenças em países do Terceiro Mundo (...) pioram a situação sanitária nos países onde actuam, em vez de a melhorar.»
A minha leitura decorre dos estudos, breves, que fiz de dinâmica das populações. Todos percebemos que se, num dado ecosistema, tirarmos um elemento, por exemplo um roedor, todo o sistema se desequilibra, a começar pela expansão do que era o alimento do roedor. Foi o que aconteceu com a introdução dos coelhos na Austrália. Ou com a campanha de caça aos pardais na China: feritas as contas, os chineses viram que os pardais lhes roubavam milhões de toneladas de cereal, pelo que lançaram uma campanha de gigantesca de caça ao pardal. Apanharam-nos às carradas de camioneta. Mas, contra o que era esperado, ã produção de cereal decresceu, porque entretanto se multiplicaram as pragas que, antes, eram dizimadas pelos pardais, mas que agora comiam o cereal. E os chineses tiveram que importar pardais.
Todos sabemos isto, de um modo ou outro.
Mas esquecemos que o homem é sempre elemento de um ecosistema. E que um dado ambiente humano é, em princípio, um ecossistema relativamente em equilíbrio. E que diminuir a morte dos homens é provocar um desequilíbrio no ecossistema.
Um dia, perguntei a um professor de Biologia se o meu raciocínio estava certo ou continha algum erro. Disse-me que estava certo. Perguntei-lhe então se, por exemplo, fazer campanhas de vacinação não seria um erro que iria até certo ponto impedir o desenvolvimento, se não seria preferível investir directamente no desenvolvimento de que resultaria uma saúde melhor. Respondeu-me que mais uma vez eu estava certo.
Desde então, fiquei convencido de que uma campanha de vacinação é mais favorável à farmacêutica que vende as vacinas que à população vacinada. Se não me engano, já escrevi há anos osbre isto em Abrantes. (Atenção: o caso da SIDA é completamente diferente.)
Agora, «como um soco», diz o Público, Laurie Garrett explica-se por outra via. As campanhas filantrópicas pioram as coisas «porque se focam nas doenças mais mediáticas em vez de reforçar infra-estruturas de saúde que teriam um impacto positivo global. Porque definem objectivos de curto prazo em vez de fazer apostas que teriam benefícios mais profundos mas mais tardios. Porque absorvem os escassos recuros dos países onde actuam, desertificando à sua volta o sector dos cuidados primários».
Mas não sabemos todos, há muito, que um bom projecto de saúde para um território só pode ter por base os cuidados primários?
Então, se sabemos, porque aceitamos que nestas campanhas seja diferente?
E não sabemos, que desequilibrar um ecossistema pela multiplicação de um dos elementos não tem resultados benéficos garantidos?
Então, se sabemos, porque não nos damos ao trabalho de examinar o interesse objectivo das boas intenções subjectivas?
Peço desculpa, mas a mimñha resposta continua a ser a mesma. Porque atribuímos aos valores uma substância metafísica absoluta. Valem porque sim, independentemente de toda e qualquer outra consideração.
E os pobres que paguem o preço das boas intenções.

 

Irão

Bush insiste na ameaça de atacar o Irão.
Nós há muito que sabemos que os EUA têm a sua capacidade ofensiva esgotada.
Alguns «dos mais destacados comandantes militares» dos EUA ameaçam demitir-se «para não terem de aporvar um ataque temerário». E explicam: «Todos os generais sabem perfeitamente que não têm capacidade militar para enfrentar o Irão de forma significativa».
O Irão ouve Bush, ouve os generais e... ri-se? Pelo menos, insiste no nuclear. E diz-se preparado «mesmo para a guerra».
Entretanto, nós esperamos as cenas dos próximos capítulos.

 

De novo à venda

Estava esgotada, mas já está de novo à venda a obra aqui já referida: A criança que não queria falar, de Torey Hayden (Presença).
Quatro edições em dois meses é caso para dizer que, também em Portugal, alguma coisa significa.
A ler.

 

Novo Velho blogue

Só agora, por razão de ter ido à Escola do Rossio, dei com o blogue de uma turma ali da escola. Ainda por cima, com uma forte documentação sobre um importante projecto da escola. A ver:
http://arrefinfanabilha.blogspot.com/

«Olá!Este é o nosso Blog! O Blog da Turma D da Escola de Rossio ao Sul do Tejo.Aqui colocaremos o que cada um de nós produzir e ousar partilhar, sem qualquer tipo de limitações.A selecção será, inteiramente, da sua responsabilidade.Quando não gostar do que vê... feche os olhos !Quando não gostar do que lê... desligue!E quando lhe apetecer apontar defeitos... tenha em conta os dedos que ficaram virados para si!(são a triplicar)Mas fique bem, com a certeza de que gostamos de o ver por aqui!Américo Pereira»

 

Serão no Rossio

No dia 28, fui à Escola do Rossio, para um serão com pais (e professores) das crianças do primeiro ciclo e do jardim de infância. O tema era "como ajudar os nossos filhos a ter sucesso na escola?"
Foi uma hora de conversa, embora desequilibrada, pois acabei por falar mais do que os participantes. Haverá muitas razões, mas uma delas, sem dúvida, é o facto de estarmos pouco habituados ao poder da palavra.
A palavra é um poder. E a verdade é que não somos educados no uso da palavra, como não o somos de outros poderes. Uma das mães, a quem eu agradeci ter participado activamente na conversa, dizia-me à saída: «Eu, quando tenho alguma coisa a dizer, digo.» E disse. Como outra mãe que se "atreveu", e muito bem, a discordar de uma coisa que eu disse. Não há nenhuma razão para estarmos todos de acordo, não é?
Aliás, é o desacordo que faz andar a História.
Em suma, gostei daquele serão. Até porque é muito bom contactarmos com gente real fora das nossas relações e fora dos ambientes em que habitualmente circulamos. O mundo nunca é como o vemos. Por isso, faz muito bem olharmos um pouquinho para lá do que estamos habituados a ver.

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