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06 January 2007

 

Discurso de Ano Novo

Fui ler o discurso de Ano Novo do Presidente da República e só posso concluir que não é um bom discurso, não é um bom serviço ao país.
Antes de mais, porque possibilitou as múltiplas leituras de que o PR estva a exigir do Governo os "resultados" que desejamos e de que o país precisa. E tais resultados não podem ser esperados "do" Governo, mas de todo o país. Do Governo, também, mas - e muito - de todos nós. E o próprio PR dá a entender isso, quando diz que o desenvolvimento económico é tarefa sobretudo dos empresários, e que a educação é sobretudo responsabilidade de professores, pais e alunos. A leitura que se fez, e que o discurso permitiu com facilidade, vem ocultar estas responsabilidades e remetê-las para o Governo. Nunca iremos lá por essa via.
Em segundo lugar, o PR diz expressamente: «É muito importante que em 2007 se registem progressos claros em, pelo menos, três grandes domínios da nossa vida colectiva: desenvolvimento económico, educação e justiça.» A que os mais avisados acrescentam a "reforma da administração", embora possamos vê-la incluída no texto presidencial. Contudo, ou eu vejo mal ou não é possível, num ano, realizar esses "progressos claros". Podem mudar-se algumas coisas, podem fazer-se até mudanças substantivas nos sistemas de que se espera ver surgir esses resultados. Mas resultados já?
Só um exemplo. Portugal tem 14 juízes para cada 100.000 habitantes e a justiça é morosa e ineficiente; a Inglaterra tem 4 juízes para cada 100.000 habitantes e a justiça é célere e eficiente. Alguém duvida de que vai demorar anos e anos a recuperar algo de significativo?
Além disso, em cada um daqueles sectores, o Governo não é o único agente em acção e de que, portanto, dependa o resultado em causa. Podemos fazer uma pergunta simples e prática:
Este país, que espera e exige resultados, é capaz de aguentar que grau de mudanças e de conflitualidade?
O PR deu a entender que exige para 2007 o que só poderá ser realizado em décadas. O que significa que "prometeu" (embora sem prometer) para 2007 resultados que só poderão ser realizados em décadas.
Repito, "em décadas". Porque são, sobretudo, resultados dependentes de mudanças de cultura. E as máquinas podem-se comprar, as fábricas podem-se comprar, mas a cultura não. A cultura é como os bolos: uma e outros levam tempo a cozer.
Finalmente, o PR fez um discurso menos porque - e vêmo-lo nas leituras que dele foram feitas - veio negar uma verdade essencial. «O bom líder é aquele que vai à frente com uma bandeira, não aquele que vai atrás com um chicote.» Ora, uma boa parte dos comentários feitos dizem claramente: porreiro, ele já está de chicote no ar, podemos ficar descansados.

P.S. 1 - É claro que as intervenções do PR não se limitam ao discurso de Ano Novo.
P.S. 2 - É claro que há outras leituras do discurso. Mas quais é que fazem caminho?

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