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30 October 2007

 
O simbólico
O homem é um animal simbólico. Isso quer dizer que o homem, além de gestos que valem aquilo que são (ex: coçar uma orelha), é capaz de gestos que valem muito para lá daquilo que são (ex: dar um aperto de mão).
Por ser um animal simbólico, criou e é capaz de viver a um nível superior da sua chã vida animal. O simbólico eleva o homem e o homem eleva-se através do simbólico.
E quando se diz “homem”, estamos a referir-nos tanto à pessoa singular, homem ou mulher, como à colectividade.
Ora acontece que até há pouco tempo as nossas colectividades tinham uma vida com uma estrutura religiosa. Toda a vida era marcada pela dimensão religiosa e era essa dimensão que exprimia o simbólico colectivo.
Mas as nossas sociedades secularizaram-se, o que significa que as nossas vidas colectivas deixaram de ser estruturadas pelo religioso. E, por isso, distinguimos o religioso da sociedade civil. E pretendemos mantê-los separados.
Como resultado, temos que as nossas colectividades deixaram de ter forma civil ou não religiosa de celebrar os seus mortos.
Morreu o Manuel Maurício. O próprio funeral foi expressão de que não nos era indiferente. Bem pelo contrário.
A Igreja, no caso a católica, utilizou os seus ritos fúnebres para se expressar no momento. E a sociedade civil?
Vi que o caixão ia coberto por uma bandeira, se não erro a do AFC. Mas... só isso? É demasiado pouco. Não somos capazes de mais?
Incomoda-me profundamente esta nossa incapacidade simbólica face à morte, dói-me que não sejamos capazes de uma palavra, um gesto, que não tenhamos um ritual civil para “dizer” o nosso respeito e a nossa gratidão por aquele ou aquela que nos deixa.
Já por duas vezes, no funeral de Maria do Carmo Dantas e no de Eduardo Campos, fiz questão que quebrar esse silêncio, de esboçar um pequeno gesto. Embora aproveitando um momento religioso, quis significar essa necessidade de nos situarmos acima do chão plano do silêncio impotente.
Mas continuamos incapazes de encontrar um ritual civil para celebrar os nossos mortos.

P.S. - Acabo de saber que nma missa do sétimo dia houve um sentido gesto para lá do ritual estritamente religioso. Ainda bem. O Manuel Maurício merecia.

 
A propósito
Não tenho dúvidas de que Manuel Maurício tinha possibilidades à partida para mais elevados voos. Se não lhe foi possível voar mais alto ficou-se a dever ao meio em que viveu. O nosso meio.
Por cá tudo voa baixinho. Tudo, salvo algumas ilhas pequeninas, é relativamente medíocre. E por isso mediocrizante. E nós, medíocres satisfeitos e convencidos, incapazes de levantar voo altaneiro, voamos baixinho a fingir de águias.
Tivesse Manuel Maurício, e outros como ele, encontrado outras condições e outras oportunidades e... outro galo cantaria.

 
Manuel Maurício
«Morrer jovem e de rosas coroado»
escreveu António Botto.
Sem maiores comentário, importa assinalar que Manuel Maurício dedicou a sua vida inteira a causas que são causas colectivas, ainda que, inevitavelmente, do seu ponto de vista. E nisso é um exemplo.
Desde cedo foi um apaixonado militante da Juventude Socialista e depois do Partido Socialista. Ultimamente vimo-lo a militar no Abrantes Futebol Clube. Ouviamo-lo nas Festas da Cidade a apresentar espectáculos e a desejar-nos «Façam o favor de ser felizes».
E sempre, sempre, empenhado na sua – e nossa – Abrantes.

12 October 2007

 
A luta essencial
Muitas das análises que se podem ler e ouvir na nossa comunicação social dão claramente a entender um dos pontos de vista errado a presidir à análise. O de que a nossa luta essencial é entre os partidos pelo poder. Naturalmente, é sobretudo uma luta entre o PS e o PSD pelo poder.
Mas não é verdade. Nem pode ser.
A nossa luta essencial é a do país contra quilo que ele não quer e por aquilo que ele quer. E quando digo “ele”, o país, também não estou a referir-se aos partidos. Porque não são eles que são o país. Eles são sobretudo mediadores desse querer e organizadores do país a partir de um complexo sistema de formas no qual actuam e do qual fazem parte.
E, por isso, um partido do governo, qualquer que ele seja, e um partido da oposição, qualquer que ele seja, devem ser avaliados por aquilo que estão a fazer ao país e não pelo simples facto de estarem a agir no sentido do poder ou contra o poder.
Porque há outro pressuposto errado – sim, errado – de que tudo o que é poder é mau e tudo o que é contra-poder é bom. E é por isso que alguns órgãos de comunicação e alguns jornalistas se afirmam expressamente como contra-poder.
Uma tal posição não pode merecer o meu respeito.
Um órgão de comunicação é, antes de mais, ele próprio um poder. O poder de fazer aquilo que faz, e o dever de fazê-lo bem - como qualquer outro poder.
E é por isso que o jornalismo, sobretudo o bom jornalismo, é imprescindível, tal como o é um governo num país, ou a direcção numa escola, ou o treinador numa equipa de futebol. (Por que é assim tão importante que Scolari tenha de ficar fora de jogo nos próximos desafios da Selecção?)

 
A insatisfação
Se lermos muitos dos nossos comentadores percebemos um raciocínio deste tipo:
As medidas do governo têm gerado insatisfação, logo são más medidas e devem ser combatidas.
Mas este raciocínio é uma falácia.
As medidas de um governo não podem ser medidas apenas e só pela satisfação ou insatisfação presentes.
Um governo tem de ser avaliado pelos resultados da governação – a curto, médio e longo prazo. E mostra a História, até portuguesa e mesmo não muito longínqua, que há medidas erradas que provocam satisfação a curto prazo e medidas acertadas que geram insatisfação a curto prazo.
Do mesmo modo, aproveitar a insatisfação de uma medida qualquer não é, à partida, nem bom nem mau. Resta saber sobretudo para onde se move esse aproveitamento, isto é, para onde é investida a capitalização dessa insatisfação.Na comunicação social, nós ouvimos os factos, mas ouvimos também um ponto de vista sobre os factos. E muitas vezes esse ponto de vista é suportado em falácias enganadoras.

 
A auto-imagem
A anorexia é uma doença que, entre outros sintomas, se caracteriza por uma auto-imagem distorcida. Apesar de a balança e as tabelas de peso dizerem que a pessoa está magra, ela acha-se gorda, por vezes muito gorda, apesar de ser já mais pele e osso que outra coisa. E nem o espelho consegue desmenti-la. Porque cada um de nós vê mais o que tem na cabeça que o que tem à frente dos olhos.
É o mesmo quanto à nossa auto-imagem colectiva. Os rankings dizem-nos que, em muitos aspectos, estamos em boa posição. Mas nós insistimos em sentir o contrário.
Não quero, como o tenho aqui escrito, afirmar que podemos descansar. Pois não basta o lugar em que nos encontramos. Mais importante é perceber o movimento em que nos encontramos, o para onde ele se dirige.
É da maior importância lutarmos pelo que desejamos. Mas o mais importante é, por um lado, não matarmos a energia que nos pode fazer lutar e, por outro, garantirmos uma boa direcção às nossas lutas.
Ora eu creio que há um duplo equívoco geral entre nós:
1 – que estamos num dos piores lugares do mundo;
2 – que toda e qualquer luta ou sinal de indignação é boa por natureza.Nem uma coisa é verdade nem a outra. Daí à asneira, é um passo curto.

 
Qualidade de Vida: Portugal em 19º
Um estudo da revista britânica Economist coloca Portugal em 19º lugar no mundo quanto à qualidade vida, relativamente a 2005.
http://www.economist.com/media/pdf/QUALITY_OF_LIFE.pdf
A Espanha encontra-se em 10º lugar. Mas atrás de nós estão países como a Áustria (20º), a França (25º) ou a Alemanha (26º).
Não é necessário afirmar o papel insuspeito da Economist, embora convenha dizer que se trata de um estudo cujos resultados (como sempre) depende dos critérios utilizados.
Um deles foi a alimentação e não há dúvida de que a “dieta mediterrânica” nos deu ali uma boa ajuda. Mas se tivesse incluído a nossa propensão para dizermos mal do que é nosso e para nos considerarmos os piores do mundo, os resultados teriam sido outros.

 
Saúde: Portugal – 19º em 29
«Os cuidados prestados aos doentes valeram a Portugal o 19.º lugar num ranking que avaliou os sistemas de saúde 29 países europeus. Uma posição atrás de estados como o Chipre, a República Checa, a Estónia ou a Eslovénia, numa lista que tem como objectivo aferir quais os serviços mais amigos do doente. A comparação foi ontem divulgada pela Health Consumer Powerhouse, uma organização sueca que visa avaliar e defender o papel do cidadão perante os diferentes sistemas de saúde.«O desempenho do sistema de saúde português ressentiu-se dos resultados em áreas como a espera por uma consulta de clínica geral ou de especialidade e por uma cirurgia; a mortalidade por enfarte ou AVC; as operações às cataratas e os cuidados dentários disponíveis nas unidades públicas. Em todas estes pontos, o País recebeu uma classificação negativa.»
http://dn.sapo.pt/2007/10/02/sociedade/19o_lugar_para_portugal_cuidados_sau.html

 
Três espectáculos – 3
D. Quixote e Sancho Pança visitaram-nos sob a forma de teatro pelo grupo do Chapitô.
Foi um espectáculo magnífico, apesar da sua simplicidade. Explorando a linha do “teatro do gesto”, os actores exploram ao máximo as potencialidades do gesto de modo a, com poucos recursos, produzirem o máximo de efeitos. Isso exige um papel activo da parte dos espectadores, que foram até chamados a apedrejar os actores em palco, o que fizeram com todo o empenho.No final, o agrado era notório no rosto de quantos aproveitaram a oportunidade. E não foram lá muitos.

 
Três espectáculos – 2
No dia Mundial da Música, 1 de Outubro, o Orfeão de Abrantes trouxe-nos à Igreja da Misericórdia um excelente concerto de viola por um prestigiado executante, cujo nome não recordo. Para lá da arte da música, foi de destacar a ausência dos praticantes dessa arte em Abrantes.

 
Três espectáculos – 1
Decorreu recentemente em Abrantes um magnífico espectáculo de dança contemporânea pelo Dança Quorum Ballet. Foram apresentadas 4 peças de Daniel Cardoso no próprio dia em que era divulgado que ele tinha sido contratado para leccionar dança contemporânea na grande escola de dança de São Petersburgo.
Sou analfabeto em dança, mas adoro ver dança contemporânea.
Não aprecio mundo a dança clássica. Aquelas meninas todas de igual, vestidas de avestruz branca, a fazerem os mesmos passos todos geometricamente desenhados num ambiente de água oxigenada... não fazem o meu gosto.
Prefiro a dança contemporânea, muito mais livre mas não menos exigente (digo eu), em que vejo uma imagem clara do nosso mundo: cada um faz movimentos que parecem desencontrados, mas depressa vemos que tudo aquilo bate certo. Não é assim o nosso mundo que pretende compatibilizar o máximo de liberdade individual com uma articulação entre todos? Depois, a maior liberdade formal, o incentivo à exploração de novos caminhos, o jogo de cores e formas, desde o vestuário aos cenários e às luzes... fazem da dança contemporânea uma arte e um espectáculo soberbo. E foi o caso.
«Superaram as minhas expectativas», disse-me uma conhecedora do meio.Bonito foi ver ali os alunos das nossas escolas de dança.

 
V Jornadas de História Local
Vão decorrer no dia 19 de Outubro, sexta, as V Jornadas de História Local, das 10h00 às 18h00, na Biblioteca António Botto.
Do programa constam
A Salvaguarda do Património Religioso: causa fracturante ou imperativo nacional?, por José António Falcão, Director do Departamento de Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja; O Oratório Nambam do Convento do Sardoal, por Francisco Valente; Novas Formas de Inventário – As novas tecnologias ao serviço da cultura, por João Soares, Carlos Reis, João Carlos Martins e Sara Remígio; A Quinta do Constâncio: Um projecto de preservação, por Carlos Sousa; Intervenções de Restauro na Igreja de Rio de Moinhos, por Helena Salvador; O Centro Histórico de Abrantes e o seu património artístico edificado – Uma visão de conjunto, por Joaquim Candeias da Silva e Sara Morgado; O Retábulo do Altar da Capela de S. Brás, em Belver, por Carlos Grácio; e o Lançamento do livro “O Souto – Uma Cultura – Um Povo”, de Manuel Baptista Traquina.
Para pormenores:
http://www.cm-abrantes.pt/pt/1bc45b21-8117-45e6-96dc-b2c77b1ab08f.htm

 
Karate em Abrantes
Começaram já no início de Outubro as aulas desta modalidade das artes marciais em Abrantes, na modalidade de Shotokan. A iniciativa pertence à ANAM – Associação Nacional de Artes Marciais
www.anam-pt.com
O Centro Karate-Do Shotokan Abrantes funciona no ginásio da Escola Dr. Manuel Fernandes, às segundas e quartas, das 19h30 às 20h30.

 
Um pouco de baba
Daniel Jana
Já agora, não faz mal um pouco de baba. Se não temer sujar-se, pode visitar
http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/137875

 
Manuel Lopes de Sousa
«Aos 83 anos Manuel Lopes de Sousa continua a criatividade como lema de vida.»Assim começa a entrevista da revista APMA, ou seja, da associação Portuguesa de Mecanização Agrária, de setembro de 2007.
Ao longo de oito páginas de texto e fotografia a cores, temos uma visita guiada à vida e obra deste inventor abrantino.
Parabéns ao entrevistado.

 
Os abrantinos ilustres
Nos últimos tempos têm vindo a ser realizadas em Abrantes, sobretudo pela Cãmara Municipal, mas não só, importantes iniciativas visando dar a conhecer, de diversos modos, a Vida e a Obra de alguns abrantinos ilustres, vivos ou mortos. Lembro-me da exposição retrospectiva e de uma pequena brochura relativa a Mário Cordeiro, ou de uma edição sobre a obra de Maria Lucília Moita, de que foi também feita uma exposição retrospectiva em Lisboa. Recordo também a exposição, homenagem e a eduição de uma obra sobre Eduardo Duarte Ferreira. E algo similar relativamente a Solano de Abreu, sobretudo pela sua escola. E (pelo menos) uma exposição a dar a conhecer a obra escultórica de José Pimenta, outra do também escultor Santos Lopes. Ou ainda as celebrações memoriais de Maria de Lourdes Pintasilgo e do Actor Taborda. Manuel Lopes de Sousa foi também, entre outros, objecto de um trabalho de memória na revista Zahara.
Esta é uma linha trabalho que merece ser continuada e desenvolvida. Há muitos abrantinos que merecem ser revisitados, ou seja, que nós precisamos de revisitar, mortos e vivos. Deixo dois nome que, salvo erro, nunca foram objecto de um tal acto de memória, apesar de nunca terem sido esquecidos. Um ainda vivo, embora vivendo fora, outro ausente em definitivo: Victor Marques, professor e escultor, e António Bandos, professor, autarca e colaborador activo de inúmeras actividades de cultura e jornalismo.
Muito pode ser feito neste campo.

 
Duarte Castel-Branco, a obra e a vida
... são o tema de uma exposição na Biblioteca António Botto.
A iniciativa deve-se ao Núcleo da Ordem dos Arquitectos em parceria com a Câmara municipal de Abrantes e visa homenagear a obra deste importante abrantino. E como a melhor homenagem é dar a conhecer a obra, justamente uma (mas não a única) das facetas que justificam a homenagem, aí está a exposição. E uma...
Visita guiada
... às obras projectadas por Duarte Castel-Branco. No sábado dia 13 de Outubro, pelas 17h, os interessados devem juntar-se à porta da biblioteca.
http://www.cm-abrantes.pt/pt/7283030e-2aab-4539-968a-890ccf4d021a.htm

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