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10 January 2007

 

Abrantes, cidade boa - 5

A propósito, lembrei-me de ir buscar uma crónica que publiquei há perto de uns 10 anos no jornal Primeira Linha. Creio que pode ajudar a ler, hoje, esta cidade.
A água
Este é outro mistério difícil de entender: Abrantes tem enormes recursos em água - o Tejo, o Zêzere bem perto, a albufeira de Castelo de Bode, e ainda as barragens de Belver e Montargil - mas não há nem tradição nem prática de desportos náuticos.
Temos alguma natação durante a época quente, mas sem verdadeira dimensão desportiva.
O Tejo e o Zêzere permitem a canoagem e durante algum tempo houve mesmo uma prova da modalidade que passava por Abrantes. Houve já tentativas, mas sem resultados duradouros. Noutros locais, há clubes que, por falta de condições, se deslocam longe para a prática da canoagem; nós, com os recursos ao pé da porta, não vamos nisso.
Na albufeira de Castelo de Bode, vieram de longe os desportos náuticos, por gente que sabe aproveitar a oportunidade. Por cá, nada se vê nascer. E a verdade é que "aquilo está mesmo a pedi-las".
Temos o mergulho, e o entusiasmo do Eng. Garcia, mas a prática não teve ainda desenvolvimento e resultados à altura das potencialidades que o local oferece.
Será um divórcio litigioso entre as nossas gentes e a água?
Era eu pequeno, íamos para o Tejo em família, para a zona da ponte do comboio, a pé, com a alcofa do farnel. Era a "praia dos tesos", dizia-se, mas o areal era povoado, mesmo pela parte alta da cidade.
De desportos tradicionais ligados à água, ficou apenas no Rossio a recordação da "caça ao pato", um jogo de perseguição, "primitivo" - porque se lança à água um simples pato, atiram-se os homens à água apenas com o próprio corpo e enfrentam a violência natural do rio. Foi o mais longe que fomos.
Na pesca de rio, sim, há tradição, clubes e praticantes. E neste caso já há equipamento e competição. Curiosamente, é um desporto sobretudo individual. Quando é por equipas, não são verdadeiras equipas, mas vários indivíduos inscritos como equipa. E os clubes de pesca têm andado em forte crise.
Rossio e Barreiras do Tejo têm rio, mas não sabem. Ou fecham os olhos e viram-lhe as costas.
Tem que haver uma explicação para o mistério deste divórcio das gentes de Abrantes com as suas águas. Tanto mais que os desportos náuticos seriam fonte de riqueza económica, de lazer, de educação, de divulgação externa, de prevenção social de vária espécie...
Uma hipótese será que algum trauma tenha afastado da água. A Norte, a construção da barragem e a expropriação das terras aráveis teriam impedido toda a relação saudável com o rio. No eixo central, a extracção de areias que ocupou o areal e a poluição do rio deixaram a população expropriada. É uma hipótese, mas não explica tudo.
Outra hipótese é ser Abrantes uma terra conservadora, avessa à mudança e ao risco, apegada ao que era, incapaz de enfrentar o novo. A confirmá-lo teríamos a forte implantação do futebol, desporto tradicional, e a quase nula implantação de qualquer outro desporto e não só dos náuticos.
Outra hipótese é em Abrantes, em todos os campos, dominar o individualismo, o cada um para si, a dificuldade em confiar e comprometer-se. Teríamos, a confirmar esta hipótese, a pesca e a caça como desportos com significado porque individuais e, mais recentemente, o ténis.
De qualquer modo, "aqui há gato" e eu gostava de perceber o que se passa. Então não é uma pena? E se algum dia vier o espelho de água, vamos inventar tudo de repente?

Comments:
Caro Alves Jana,
Relativamente à utilização da água, creio que não podemos ignorar o trabalho que, ao nível da canoagem tem sido feito no "Clube Desportivo os Patos", do Rossio ao Sul do Tejo. Dezenas de jovens, e menos jovens, têm perticipado, com bons resultados em dezenas de provas de dimensão regional e até nacional. No Rossio, todos os anos, temos várias provas organizadas por este clube. É verdade que esta não é uma realidade muito divulgada, mas o caminho está-se a fazer...
José Martinho Gaspar
 
É claro que Os Patos têm feito um trabalho importante. Reconheço-o sem esforço.
Não sei é se há 10 anos já assim era. Na altura eu não tinha disso informação. Se já existia, então a minha obervação - daquele tempo - deve ser revista.
De qualquer modo, naquele tempo, repito, mesmo com essa ressalva, o panorama não seria muito diferente do que o registado. Até porque, naquele tempo, recebi vários "toques" de acordo e nenhum em desacordo (que me lembre.
Hoje, por razões várias e por vários actores, o panorama é já diferente. E se publiquei este velho texto foi para insistir: compete-nos fazer a História que só nós podemos fazer.
Alves Jana
 
Procurei informações autorizadas e foi-me confirmado que Os Patos estão "na água" aí há uns 5 ou 6 anos.
Estava correcta, portanto, a minha informação de há uma década, o que em nada diminui o mérito do trabalho d' Os Patos, nessa área como nas outras a que se dedicam há bastante mais tempo.

Alves Jana
 
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