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26 April 2006

 

Geologia abrantina

Na próxima Sexta-Feira, dia 28, em Lisboa, será feito o lançamento de uma obra sobre a Geologia da região de Abrantes.
Da autoria de Fernando Lança Polidoro, professor na Escola Dr. Manuel Fernandes, o livro chama-se "Aplicações didácticas da geologia: a geologia regional como exemplo". Na obra, que é uma extracção da tese de mestrado (se bem percebi), aparece muita informação sobre a nossa zona, desde Belver até Almourol.
Não é necessário acrescentar a importância desta obra, que vem cobrir um domínio que, até aqui, era quase como se não existisse. Quase como se não houvesse chão onde pormos os pés ou esse chão fosse indiferente. Ou invisível. Mas não é.
E Fernando Polidoro mostra-o.

 

Matou o pai

A história parece simples, mas histórias destas nunca são simples.
Um jovem matou o pai com duas dezenas de facadas. Porque o pai se recusou a dar-lhe dinheiro. Mais dinheiro, certamente. Pai que havia pouco lhe tinha comprado um carro.
Foi lá para cima, perto de Vila do Conde.
Mas é ocasião para assinalar que por cá... há várias famílias prisioneiras de filhos que usam da violência para extorquirem aos pais o dinheiro que lhes é indispensável para a dose diária.
Podem dizer que um toxicodependente é sobretudo um doente. Podem dizer que precisa é de ser tratado. Concordemos.
Mas concordem então, também, que os pais têm que ser defendidos dos doentes que são ameaçadores. E, já agora, que os outros cidadãos têm que ser defendidos dos outros métodos, todos os dias utilizados, para obterem o suficiente para a dose diária.
É necessário dizer que a droga é uma peste que está a empestar a nossa sociedade de uma forma socialmente invisível mas muito nítida nas relações de proximidade.
Alguém tem dúvidas de que iremos pagar os custos deste nosso desmazelo?

 

Abrantes: cidade tecnológica

O estudo propõe para Abrantes a identidade de “cidade tecnológica” do Tejo ou, talvez melhor, do Vale do Tejo.
Mas, a ser aceite, isto é assumido, há que apostar claramente no desenvolvimento de dinâmicas que tornem Abrantes uma cidade tecnológica, ou seja, uma personagem activa e reconhecida no sistema tecnológico nacional e europeu.
Não sei como, mas talvez não seja de todos descabido lançar algumas pistas. (Que não serão as do sistema militar como tal.)
Abrantes tem algumas hipóteses já em cima da mesa.
Primeira hipótese: Centro Tecnológico Alimentar. Não está previsto que as pessoas deixem de comer e está previsto que grandes evoluções vão acontecer no sector. Além disso, o vale do Tejo tem grandes potencialidades agrícolas, mas não está a saber encontrar um lugar ao sol no sector. Veja-se a permanente crise no tomate e no melão. Mas veja-se, também, como o vinho tem sabido reconverter-se e tem futuro, se não se descuidar da permanente reconversão tecnológica. Além disso, o sector alimentar está, por natureza, integrado com as biotecnologias, que são já um dos sectores do futuro. Se assim é, se há já “coisas” concretas, embora ainda por concretizar (passe a contradição, que não é apenas retórica), se há parceiros disponíveis e interessados… não se ganha nada em deitar fora a cautela premiada.
Segunda hipótese: novos materiais compósitos. A ESTA pode afirmar-se como um centro de competências neste sector. Há já algum trabalho nesse sentido, há um doutoramento a sair do forno, há ligações ao sistema produtivo… Além disso, um dos clusters de futuro em Portugal será o da “pequena aviação” e passará pelo Alentejo. Ora a ESTA já tem ligações no sector, em Ponte de Sor coincidem duas pontas, do Alentejo e da produção de ultra-leves.
Outros dois sectores com futuro será o do transportes e da energia. A hipótese de ligação ao MIT engloba estes dois campos de actividade. Não esqueçamos que a ESTA tem um sector de Mecânica e que um dos projectos da Escola tem a ver com a economia de combustível no movimento automóvel, tendo já organizado uma prova da especialidade. Além disso, Abrantes tem uma forte tradição e cultura no sector automóvel, de que um dos símbolos é Santinho Mendes.
Talvez não seja necessário inventar a pólvora, para Abrantes ter futuro. Talvez seja suficiente escavar sob o lugar em que nos encontramos sentados.

 

Abrantes: Marketing territorial

Há cerca de um mês (?), esteve disponível na página da Câmara na Net um outro estudo, este ainda com mais interesse geral. Dizem-me que ainda lá se encontra, mas eu não consegui localizá-lo.
Tratava-se de Abrantes, cidade Tecnológica do Tejo: Estudo de Marketing Territorial Aplicado a Abrantes.
Desta vez não pude assistir à sua apresentação. Mas tive pena, porque dizem-me que foi uma boa sessão.
Entre os vários pontos de interesse parece ter caído bem a “descoberta” do mercado militar como algo que pode afirmar-se como uma “boa ideia” para o desenvolvimento de Abrantes.
Não esqueçamos que as cidades procuram, cada vez mais, afirmar-se com uma imagem, como uma marca, com uma identidade que seja reconhecida de fora e de dentro e seja factor de dinamização e desenvolvimento. O Tramagal, por exemplo, apostou na imagem de Vila Convívio, Constância em Vila Poema, Rio Maior em Cidade Desportiva, Coimbra em Cidade do Conhecimento
Abrantes é uma cidade militar. Além do RI2, Tancos e Santa Margarida estão-lhe à cintura e Entroncamento, Torres Novas e Tomar estão à mão de semear. Podemos dizer que durante séculos, Abrantes teve de suportar (leia-se sustentar) as várias guarnições militares, mas nunca terá sabido aproveitar o seu contexto militar em benefício próprio.
Isso é verdade. O contexto militar de Abrantes existe. Mas, existindo, não é seguro que seja um mercado.
A estratégia de equipamento militar nunca soube prever uma participação significativa da indústria nacional. Veja-se, por exemplo, como o meio próximo dos quartéis está, na prática, ausente no fornecimento de bebidas e alimentação. O mesmo se passa com os equipamentos: é por dentro que a instituição militar garante a manutenção.
Por outro lado, mesmo que a instituição militar decidisse abrir-se ao exterior, a relação de fornecimento ou os contratos não têm na proximidade geográfica um factor muito decisivo. A distância cobre-se, cada vez mais, com um clique na Internet.
Não, não creio que o mercado militar seja uma oportunidade significativa para Abrantes. Aliás, se o fosse, já estava a ser.
Ou seja, numa estrutura de cidades cada vez mais especializadas, Abrantes tem de procurar outra forma de afirmar-se e sobreviver.

 

Abrantes: Estudo de Mobilidade

Na página da Câmara Municipal na Internet encontra-se disponível o Estudo de Mobilidade do Sistema de Transportes de Abrantes.
Conhecer estudos da realidade na qual vivemos ou sobre a qual temos de intervir é essencial. No mínimo para não falarmos de uma realidade que não existe.
Estive na sessão de apresentação do Estudo, há cerca de uma semana. Procuro ir, porque o meu tempo para estudar documentos não é muito. Sendo assim, ganho logo alguma coisa e posso seleccionar melhor.
Acontece que, neste, o meu cansaço, o escuro da sala e a letra miudinha no écran não me deixaram ver muito, porque acabei por dormitar. Fui apenas acompanhando de longe.
Dei-me conta, no entanto, de que não era contemplado um circuito ferroviário entre Abrantes e Alferrarede. Eu sei: ainda não se justifica. Ainda. O que quer dizer que lá virá o tempo em que uma “navette” entre as duas estações da cidade, e talvez o Tramagal, será de ter em conta. Porque em Alferrarede está o Parque de Negócios e o Tecnopolo, porque o petróleo está escasso e caro, porque as restrições ambientais impedem o consumo “inútil” desse combustível, porque a CP precisa de viabilizar-se… nesse tempo, que não andará muito longe, o transporte ferroviário será mais um elemento do sistema de transportes de Abrantes. Por enquanto… não o é.

 

Democracia: o mais grave

Martim Borges de Freitas, Secretário-Geral do CDS, está pronto para formalizar a acusação interna a um militante que destruiu uma urna numa eleição interna no mesmo CDS. «A verificarem-se os factos, o militante deverá ser expulso», declarou. E explicou: «não respeitar um acto eleitoral é a coisa mais grave em democracia».
Mas não – e não falo já daquele caso, que não conheço. Mais grave, ainda, é viciar um acto eleitoral, é fazer batota, é ludibriar as regras do jogo. Isso é que é o mais grave em democracia, porque a destrói por dentro. Mas talvez Martim de Freitas inclua esses actos de vigarice (pouco) democrática entre as cárias formas de «não respeitar um acto eleitoral». Nesse caso, estaria de acordo.
Porque a democracia, ao contrário do que alguns pseudo-democratas pensam, não é, não se reduz a fazer eleições.
A democracia é outra coisa.

25 April 2006

 

Uma revolução silenciosa

Se há revoluções que resultam de uma acção militar, há outras que decorrem de outro tipo de forças. É o caso, entre nós, da revolução desportiva a que vimos assistindo.
Estou a falar do espectáculo continuado de pessoas a andar a pé ou de bicicleta, a correr, a andar de mota ou de moto-quatro, a praticar canoagem, para já não falar no karting.
Além disso, se formos às piscinas de Abrantes ou do Tramagal, facilmente encontramos pessoas de todas as idades, desde crianças a adultos. Sobretudo pessoas mais idosas, e entre estas, senhoras, bastantes, a fazerem aquilo que até há pouco era impensável, a terem uma relação muito diferente com o corpo, a fazerem do movimento uma parte integrante da sua vida e dos seus cuidados de saúde.
Não esqueçamos o atletismo, o clássico futebol, na cidade e nas freguesias, e os outros desportos colectivos. Não há qualquer dúvida de que estamos perante uma revolução silenciosa. Não sabemos ainda quais serão os verdadeiros efeitos, mas sabemos que os terá.
Quanto às causas, são várias. Desde a acção autárquica, na construção de equipamentos, em programas de financiamento e em dinâmicas de animação, até às novas posturas dos médicos que receitam desporto e movimento como dantes receitavam botica, passando pela influência das modas e dos modelos célebres que se apresentam em forma e em comportamentos desportivos.
Importa lembrar que nada destas conquistas é definitivo, antes tudo pode perder-se muito mais facilmente do que podemos imaginar. É necessário, por isso, continuar a insistir nessa boa direcção. Além disso, quando estas coisas acontecem, chega um momento (já chegou?) em que são necessários novos níveis de resposta, de organização, de equipamentos, de objectivos.
Também aqui é necessário dizer que "a revolução continua".

 

"Quinta do Lago"

Decorreu hoje a inauguração de um empreendimento turístico, em Alferrarede Velha, com o nome, não sei se definitivo, de "Quinta do Lago".
A iniciativa é do que já foi o proprietário de "O Gaveto", em Alferrarede.
Quem conheceu o percurso hoteleiro do Luís viu-o a trabalhar no café do Cinema, que era do irmão. Depois, criou O Gaveto, numa esquina em frente daquela que foi a sua Segunda criação, O Gaveto renovado, onde hoje ainda se encontra. Tinham-me dito que O Gaveto tinha sido vendido. Hoje foi a inauguração da "Quinta do Lago".
É um em empreendimento para "marcações" e já tem sucesso (quase) garantido. (E digo "quase", porque o sucesso nunca está garantido.) Já tem marcações de casamentos – 2 por Sábado – até Outubro e já 17 marcados até Setembro de 2007. É obra.
Além dos casamentos, estão em hipótese – "Não houve ainda tempo para pensar em tudo o que vamos fazer, está ainda em estudo", explicou-me o Luís. Mas promete algumas iniciativas interessantes.
Para lá de casamentos, está disponível para receber outras iniciativas "por marcação". E como o espaço é óptimo, é bem possível que em tempo propício haja serões animados. Seria uma pena se não houvesse.
Aqui temos um homem que sabe criar riqueza, que cria postos de trabalho, que os cria dando respostas que faltam no meio à sua volta. Que tenha mais um êxito, é o que devemos desejar-lhe e nos é permitido adivinhar, não só pelos créditos do empreendedor como pela resposta do público no primeiro dia. Ainda bem.
Não é sabido que a actual crise só tem uma verdadeira porta de saída? A criação de riqueza. Ora aí está.

P.S. – Se a criação de riqueza é a única porta de saída, ela precisa de muitas estruturas de apoio ou batentes: a reforma do Estado, o reforço da Ética pública, uma educação de qualidade, o aprofundamento do conhecimento a todos os níveis, uma melhor organização em todos os campos e também a todos os níveis, muito melhor fiscalização, mais justiça social e melhor eficácia na integração dos excluídos, etc. Mas nada disso substitui a criação de riqueza. Quer a nível nacional, que a nível concelhio.
Que o empreendimento tenha êxito é o que devemos desejar.

 

"O Alcaide"

Junto ao castelo e pelo braço armado do Miguel Roldão, "O Alcaide" abriu junto ao castelo.
Foi na Sexta-feira passada. E quem não soubesse desconfiava, pelo corropio de gente que por ali passou a andar. Gente diferente, muita dela, que não costuma ver-se nos cafés, o que significa que "criou" novo público.
Com janelas e varandas sobre o vale, o ambiente é agradável e a decoração revela bom gosto. Além disso, vem beneficiar toda uma zona, e o castelo em particular, que estava desguarnecida deste tipo de equipamento.
Esperemos que haja cuidado com o ambiente e a com frequência, para que o sucesso seja o que se espera.
Aqui está um bom exemplo do que poderia, e deveria, acontecer no centro histórico, onde a falta de casas do género mantém uma certa desolação. Veja-se, por exemplo, as instalações da velha Casa Salgueiro. Não estava ali mesmo a calhar uma pastelaria, um café ou similar? Dizem-me que vai abrir uma óptica. Era mesmo o que falta fazia, não era?
Se fosse eu que mandasse, criava um fundo misto, público e privado, para financiar a compra de instalações reservadas para cafés, pastelarias, bares, com vista à revitalização do centro histórico.
- Um fundo misto? Quem queria participar nisso?
- Os comerciantes e proprietários do centro histórico, é claro. Seriam eles quem mais beneficiaria.
- Deves estar é parvo.

 

25 de Abril

Quando, em 24 de Abril, os militares saíram à rua, sabiam que estavam a arriscar a própria vida. As coisas correram bem. Mas não estava garantido que corressem assim. Podiam ter dado para o torto. Aliás, foi mesmo celebrada a nível mundial como a primeira revolução sem mortos.
Hoje, quando festejamos o 25 de Abril estamos, entre outras coisas, a agradecer àqueles que arriscaram a vida para que nós pudéssemos viver em democracia. Obrigado.
Mas a revolução sem mortos também significa que foram capazes de fazê-la sem matar. E houve muitos momentos em que podiam tê-los feito.
Um homem que não é capaz de dar um tiro é talvez um medroso ou um cobarde. Um homem que, sendo capaz de dá-lo, é sobretudo capaz de não o dar é um herói.
Termos tido a oportunidade de depor um regime sem termos, para isso, usado o sangue daqueles que o representavam ou o sustentavam é sinal de uma superioridade que não devemos menosprezar. Aos heróis de Abril, também por isso, Obrigado.

 

Nem a vida

Sim, nem a vida é um valor absoluto. Quantas vezes não vimos pessoas a darem a vida por um ideal ou por outra pessoa?
Não pedem todos os povos aos seus guerreiros que lutem "com o sacrifício da própria vida" para defenderem a sua terra? Não admitia a Igreja católica, tão defensora da Vida, a pena de morte na primeira versão do seu Catecismo?
Sim, em última análise, nem a vida é um bem absoluto.
E, se nem a vida, que mais poderia ser?

 

Um episódio, pouco democrático

Na Rússia soviética, a ciência oficial era lamarckiana, disse atrás. O grande defensor desta teoria oficial era um tal Lisenko, que "cientificamente" sustentava a ideologia do regime e, por isso, tinha lugar de glória na sociedade local. Era o Presidente da poderosa Academia das Ciência da URSS.
Um dia, num congresso da Academia das Ciências, Lisenko afirmou, em nova defesa da tese indiscutível, porque evidente e oficial (ou: porque oficial, logo evidente?):
- Se continuadamente cortássemos as orelhas às vacas quando nascem, geração após geração, ao cabo de um certo tempo, as vacas nasceriam sem orelhas.
Pensam que alguém se atraveu a discordar? Quem ia discordar, mesmo numa Academia das Ciências, de uma verdade ao mesmo tempo científica e oficial?
Contudo, lá do fundo da sala, um jovem cientista, de que a História não conservou o nome, pediu a palavra e perguntou timidamente:
- Professor Lisenko, a ser verdade que se continuadamente cortássemos as orelhas às vacas quando nascem, geração após geração, ao cabo de um certo tempo, as vacas nasceriam sem orelhas, como se explica que todas as jovens da União Soviética continuem a nascer virgens?
Nesse momento começou a queda de Lisenko do alto do seu pedestal social e científico.
Mais uma vez, como tantas vezes, o maior número não garante que se esteja na posição certa. E uma voz solitária, e ameaçada, pode estar do lado da razão.

 

Democracia à Lamarck

Lamarck ficou célebre por ter afirmado que, na evolução das espécies, o adquirido era conservado, ou seja, transmitido geneticamente à geração seguinte.
Na Rússia soviética, a ciência oficial era lamarckiana. Evolucionista porque sustentava o ateismo militante e lamarckiana porque garantia, oficialmente, que a sociedade comunista iria perpetuar-se, por via genética, às gerações seguintes.
A nossa democracia tem a mesma fé. Acreditou – ingenuamente – que o simples viver em democracia faria com que os valores democráticos iriam ser "património" das "novas gerações". Serão como as estrelas do céu, se os procurarmos, os textos nesse sentido.
Só que Lamarck não tinha razão. O adquirido não se transmite geneticamente. Por isso mesmo, a seguir à queda do regime soviético, não encontrámos o "homem novo", mas uma clique mafiosa e uma população a suspirar pelo consumismo e em viagem acelerada para o abismo. Tal como, entre nós, mesmo no interior do regime democrático, descurada a educação democrática, encontramos com a maior facilidade verdadeiros déspotas apenas com falta de oportunidades públicas para se afirmarem. Mas as oportunidades têm essa característica singular, nunca tardam muito a chegar. E quando chegarem... cada um será aquilo que é.
Não, não estamos à beira de um golpe de estado autoritário ou fascista. Estamos, todos os dias, confrontados com um estado de coisas que é autoritário disfarçado de democracia. E alguém se incomoda?

 

Nem a democracia

Outros pensam, e agem, como se a Democracia fosse um bem absoluto. Mas não é. (Mais uma heresia, dizê-lo no 25 de Abril.)
O PS, se não erro, inventou em Portugal "as directas", a eleição directa do líder pelos eleitores de base do partido. Como é democrático é – absolutamente – bom. E como é – absolutamente – bom, o PSD vai agora seguir o "bom" caminho.
Recentemente, o PS de Santarém também esteve eleições para o seu líder distrital. Como a Democracia é um bem – absoluto, está bom de ver-se – foram os eleitores de base que escolheram. Mas, ao mesmo tempo escolheram, democracia obriga, os delegados ao Congresso distrital. Ora, acontece que para a liderança concorreram Nelson Carvalho e António Rodrigues, e cada um dos grupos candidatou uma moção estratégica para o Congresso. António Rodrigues ganhou a liderança, mas dizem-me que Nelson Carvalho terá ganhado em delegados eleitos para o Congresso. Daí que, a confirmar-se, o resultado normal – e absolutamente democrático – é António Rodrigues vir a ser o líder distrital do PS mas estar obrigado a servir uma estratégia do seu adversário – que ganhou! Ou que perdeu?
Nada disto é novo. José Sócrates ganhou a liderança nacional do PS. Mas Manuel Alegre poderia (por absurdo? está a ver-se que não) ter ganhado o Congresso.
Quem é que dá a cara por esta engenharia suicida? Ninguém, certamente. E porque é que este erro de base foi possível? Pela tendência metafísica em absolutizar os valores, sem cuidar de testar-lhes os efeitos.
Agora... esperemos que o PSD não tenha caído na mesma ratoeira do PS.
Mas, sobretudo, esperemos que possamos aprender alguma coisa com estes episódios. O que, diga-se de passagem, não é nada provável.

 

Nem a liberdade

Eu sei que é uma heresia manifesta dizer, em Portugal, no 25 de Abril, que nem a Liberdade é um valor absoluto. E, no entanto, assim é.
Um exemplo.
No Brasil, como era de prever e a novela Sinhá Moça, que a SIC está a passar, bem demonstra, a escravatura era uma das traves mestras da sociedade. Até ao momento em que a escravatura foi abolida.
- Finalmente a Liberdade!, terão dito e sentido alguns negros. Mas por pouco tempo.
A abolição da escravatura passava pela criminalização de todos os que continuassem a servir-se do trabalho escravo. Mas naquele tempo e naquela sociedade não se vivia ainda num tipo de relações contratuais por escrito. Por isso mesmo, ninguém de bom senso queria um negro a trabalhar para si. Era demasiado perigoso. Podia ser acusado de continuar a Ter escravos. Acusado e penalizado por isso, de vários modos.
Ou seja, os negros viram-se na triste situação de prisioneiros da sua nova liberdade. Ninguém os podia legalmente possuir como escravos, mas ninguém se atrevia a t~e-los como trabalhadores.
E os negros no Brasil foram escorraçados para fora da sociedade. Por exemplo, para os morros. E aí nasceram as favelas, que hoje são verdadeiros cancros a ameaçar toda a sociedade brasileira.
Não, nem sequer a liberdade é um valor absoluto. A liberdade só é valor em certas condições. E o que está sujeito a condições não é, por isso mesmo, absoluto.

18 April 2006

 

Curiosidade

Por vezes fala-se da Internet como a gruta dos tesouros onde só há preciosidades e todas as preciosidades. E talvez seja verdade.
Trago uma, a apresentação do livro Ética, de Adela Cortina e E. Martinez. Assim:

«A Ética é autor a disciplina filosófica entretanto que se ocupa da adela cortina & e. martinez complexa dimensão livro da vida humana que é Ética a moralidade. Em decorrência dessa complexidade, o fenômeno da moral foi interpretado de diferentes maneiras ao escritor longo da história, autor dando lugar a outros adela cortina & e. martinez tantos sistemas best-seller éticos. É nesse sentido que Ética seria preciso falar de "éticas", no plural, mais que de "Ética". Contudo, a existência de uma livraria pluralidade de enfoques escritor em Filosofia Moral constitui adela cortina & e. martinez um fator entretanto de enriquecimento que nos ajuda Ética a não perder de vista a riqueza e a diversidade das realidades humana. A Ética pode sucesso hoje abordar sem livraria complexos a tripla tarefa adela cortina & e. martinez que desde autor os inícios da filosofia grega Ética já havia sido incumbida de realizar: em primeiro lugar, esclarecer em que consiste a moral; em compre segundo lugar, fundamentar sucesso ou fornecer razão suficiente adela cortina & e. martinez desse fenômeno escritor humano; e, por último, aplicar Ética o que se descobriu nas tarefas anteriores aos problemas morais cotidianos (Ética aplicada). Neste livro premiado apresentam-se as linhas compre fundamentais dessas três tarefas adela cortina & e. martinez a partir livraria de uma perspectiva comprometida com Ética a razão prática. Uma razão interessada em que se consiga o bem de todas e de leitura cada uma das premiado pessoas, entendido de modo adela cortina & e. martinez plural em sucesso um âmbito de justiça. Uma Ética razão histórica, sentimental e aberta para a vida, mas nem por isso arbitrária, relativista ou desprovida venda de rigor. »

Para confirmar, é simples: www.planetanews.com/produto/L/67078

16 April 2006

 

Guerra e Paz

Eu não tenho uma posição absoluta contra a guerra. Por duas ordens de razões.
A primeira, que eu poderia chamar teórica, e que outros chamariam de metafísica. Não sou em absoluto contra a guerra porque não acredito em absolutos, positivos ou negativos. A Paz não é, para mim, um valor absoluto, como a guerra não é um mal absoluto. Talvez eu não seja suficientemente radical, ou bom, ou santo... como Gandhi, por exemplo, para perceber o bem absoluto que talvez seja a "não violência activa", que é uma forma de luta activa, mas activamente contra a luta violenta. Mas a verdade é que eu não sou capaz de encontrar valores absolutos, nem seque na Paz. Portanto, não tenho uma posição absoluta contra a Guerra.
A segunda razão, que também se articula com a primeira, é de razão prática, ou pragmática. Digo-a através de um exemplo, prático, portanto.
Paul Ricoeur era filho e órfão de um herói da I Guerra Mundial. E ensinaram-lhe o orgulho no sacrifício da vida do seu pai. Até que um dia descobriu que as coisas não se tinham passado como lhe haviam dito e... , descobrindo a "inutilidade" do sacrifício da vida do pai, tornou-se um pacifista.
Mas rebentou a II Guerra Mundial. E Paul Ricoeur foi feito prisioneiro dos alemães e internado num campo de concentração, felizmente não daqueles em que se trabalhava para eliminar os prisioneiros. E foi então, na experiência prática, que Paul Ricoeur verificou que o seu pacifismo era uma cedência perante a loucura de um regime que tinha nas armas um método corrente de acção. E passou a viver com uma certa mágoa ou "culpa" perante uma situação que ainda hoje, a todos nós, deve fazer pensar.
Não, não sou em absoluto contra a guerra. Mas também não acho que a guerra seja um valor absoluto ou sequer um modo corrente de resolver um problema.
Sim, o valor da guerra e da paz decide-se na vida. O pior é que o balanço só se faz no fim. Que o diga, entre muitos outros, Hitler por exemplo. Ou Churchill, também por exemplo.
Por isso mesmo é que nos é exigido o máximo cuidado "contra" a guerra. Que só é mesmo o último recurso.
Mas a avaliação de uma guerra pode ser feita em duas perspectivas: a partir dos "meus" interesses ou a partir dos interesses de "todos" os envolvidos. E essa é uma questão fundamental.

 

Combater, é preciso

Há muito, mesmo há muito tempo que defendo a necessidade de combater.
O mundo é assim mesmo: tem sempre uma forma. Se não for "esta", é "outra".
Por isso, dado que o mundo é essencial e estruturalmente dinâmico, há que combater para que o mundo tome as boas formas e não as más. O mundo, isto é, no mundo. No mundo real e objectivo é que se decide a questão dos valores, isto é, da luta entre o bem e o mal.
Se eu acredito num determinado valor, tenho de lutar por ele. Aliás, acreditar é isso mesmo, decidir-me por, viver de acordo com... esse valor.
e se eu não lutar por um valor, outros lutarão por um valor contrário, e o mundo ganhará essa "outra" forma, menos boa, ou mesmo má.
Lutar, combater é preciso. Caso contrário, o mal ganhará.
Não o mal absoluto e metafísico, mas o mal concreto da realidade que éá, isto é, que faz mal àqueles que a vivem.

 

Combater ou fazer a guerra

Há pessoas que confundem combater com fazer guerra. Mas não são a mesma coisa.
Podemos dizer que o combate - lutar por um objectivo - é próprio da vida. O contrário de combater é aceitar, sujeitar-se, dão de mão beijada aquilo que o outro quer.
A guerra é outra coisa. Normalmente consideramos a guerra como um combate em que a destruição do outro faz parte do próprio jogo. Na guerra, é impossível que ambos ganhem. Na guerra, a morte de outro é normal, se não é mesmo um objectivo. Por isso mesmo, a guerra é o último recurso quando tudo o mais falha.
Não têm, pois, qualquer razão aqueles que dizem que não fazer a guerra é aceitar a derrota perante o adversário.
Não! Há outras formas de combater. A diplomacia, por exemplo, é uma forma de lutar por objectivos antes de chegar à guerra.
Por isso mesmo, condenar uma guerra não é, necessariamente, conceder a vitória ao adversário antes de combater.
São sofistas, pois, todos os que colocam a disjuntiva: ou és a favor da guerra ou estás do lado deles. Desistiram de pensar.

 

ETA

A ETA foi (ainda é?) uma organização terrorista que manteve a Espanha suspensa do próximo atentado terrorista.
Durante décadas, a Espanha desenvolveu uma luta activa contra a ETA. Polícia secreta, polícia civil e tribunais mantiveram uma "luta sem tréguas" E sem grandes resultados. A ETA parecia imune e a vitória parecia-lhe destinada a prazo.
Um dia, porém, a luta mudou. Saiu para a rua e milhões de pessoas manifestaram-se publicamente contra o terrorismo da ETA, milhões de espanhóis disseram publicamente "basta", milhões de espanhóis afirmaram com o corpo na rua "não temos medo", "não pactuamos com o medo".
E foi nesse momento que a ETA verdadeiramente perdeu a guerra.
Há pouco tempo, declarou, sabe-se lá com que sinceridade, o fim do seu terrorismo. A vitória é sobretudo de todos os que, por várias vezes sairam à rua, unidos contra o terrorismo.
Não foram as armas, nem a polícia, nem o exército, que calaram o terrorismo da ETA. Mas a força dos cidadãos livres, que se manifestaram pela liberdade, na rua, contra o medo, a opressão do terror, o terrorismo.
A solução nem sempre está onde parece.

 

Páscoa de Ressurreição

O Dia de Páscoa é sinal de contradição. Não basta ganhar. Ganhar pode ser uma forma de perder.
Ao longo dos séculos, muitos foram os que, perdendo, ganharam.

 

Sexta-Feira Santa - 2

Sexta-Feira Santa é também o Dia de Judas.
A versão de que Judas é apenas e só o mau, o traidor, é a que se tem imposto no imaginário popular. Mas não suporta uma leitura crítica. Aquele que guardava o dinheiro devia ser um homem de confiança. Talvez mesmo de muita confiança.
A exegese tem visto em Judas um homem devotado à causa da libertação de Israel, que apostava em Jesus como O Libertador. A entrega de Jesus por Judas foi seguramente um serviço a essa causa. Talvez por pensar que ele estava a trair a verdadeira causa, talvez por acreditar que uma vez traído Jesus iria mostrar todo o seu poder e libertar Israel... Seja como for, parece que Judas estaria cheio de boas intenções.
Mas de boas intenções está o Inferno cheio.
Judas é também o símbolo daqueles que acreditam que não é necessário calcular os efeitos no mundo dos factos, pois apenas basta ter em conta as boas intenções.
Judas é também o símbolo de todos os que, confiando apenas em boas intenções ou em valores metafísicos, acabaram escaldados.

 

Sexta-Feira Santa - 1

Este é um dia memorável, altamente simbólico.
Dum lado, a turba anónima, os responsáveis políticos e os responsáveis religiosos. Do outro, um homem só, acusado e abandonado por todos.
Dois mil anos depois, podemos perguntar: de que lado estava, então, a razão?
A resposta tem múltiplas implicações em múltiplos domínios. Um deles, a democracia. A presunção de que a verdade e o bem estão sempre do lado do maior número é confundir qualidade com quantidade, verdade com opinião.

12 April 2006

 

Criatividade e inovação

Abrantes, na lógica da sua participação na Região Centro, vai apostar na ideia se assumir como Cidade Criativa e Inovadora.
Podemos perguntarmo-nos quem terá tido tal ideia. A verdade dos factos é que Abrantes é uma cidade, e um concelho, conservador, reaccionário à inovação e à criatividade, com um empenho sistemático na reprodução, no não te rales e na má língua. São estes os modelos dominantes. Confirmados de mil maneiras.
Não há, por isso, grandes forças a trabalhar no sentido da criatividade e da inovação. E, no entanto, a criatividade e a inovação não nascem de geração espontânea. Exigem um clima, uma terra lavrada, fertilizante, rega continuada... O contrário do que vemos entre nós.
Batalha perdida? Aposta errada?
A aposta é certa, a batalha está ainda por decidir.
Porque o ambiente é aquele que é, torna-se ainda mais importante remar em sentido contrário. Ou seja, porque as coisas são como são, faz ainda mais sentido avançar nessa nova direcção.
Mas nestas coisas não há milagres. Só haverá resultados se se derem passos nesse sentido. Passos concretos, com efeitos concretos.
Em Abrantes há pessoas e organizações com capacidade de realização de modo criativo e inovador. Há provas dadas. No terreno. São poucas pessoas e poucas organizações, são uma pequeníssima minoria, mas existem. Contudo, para lá de serem poucas, estão desarticuladas, cada uma para seu lado, cada uma a puxar sozinha contra marés que lhe são desfavoráveis.
O projecto da Cidade Criativa e Inovadora só lá vai se forem procurados e obtidos resultados no número, na qualidade e na organização dos agentes criadores e se forem desenvolvidas acções capazes de criar uma ambiente, um ar, uma cultura de criação e inovação. O resto são flores: vem um sol mais forte... e murcham.

 

Novos heróis

Cada sociedade tem os seus heróis. E antes disso, cada sociedade tem um modelo do que hão-de ser os seus heróis. Uma sociedade guerreira, por exemplo, tem heróis guerreiros, que servem de modelo de comportamento a quem quiser ser alguém.
Mas um dos nossos grandes combates é o de criar postos de trabalho e, entre estes, criar empregos.
Assim sendo, parece natural que criemos um modelo de heróis: o que cria um posto de trabalho. Ou o que cria um emprego.
Parece natural, mas as coisas correm em sentido contrário. Verdadeiros heróis só me surgem com o currículo de terem abatido postos de trabalho nas empresas que gerem. Disso ouvimos falar. Dos que os criam...
Basta ver como as questões da criação de emprego são normalmente pensadas através do modelo de investimento exterior que "aqui" se vem fixar. Uma atitude de espera, ou uma criação de incentivos para captação de empresas do exterior...
Mas precisamos também de políticas, activas e agressivas, que fomentem a criação local de postos de trabalho. Essa é uma fonte preciosa que não é suficientemente explorada.

 

Criar emprego / Criar trabalho

Deslocar a questão do procurar emprego para o criar trabalho é uma tarefa urgente e global. Como é que podemos sentirmo-nos comodamente numa civilização que prepara as pessoas para obterem um emprego e ao mesmo tempo vai destruindo de vários modos os empregos que lhes promete? Fraude, poderíamos dizer.
Penso que este combate, que é de um combate que se trata, deve ser travado aos vários níveis: desde as políticas europeias e nacionais, passando pelas políticas locais e de escola, até às políticas pessoais, ou seja, aos projectos de vida. E nisto não há inocentes.
Podemos dizer que não há empregos, mas há muito trabalho para ser feito.
Podemos dizer também que quase tudo prepara para os jovens procurarem emprego, e quase nada prepara para as pessoas – não necessariamente jovens – para criarem o seu posto de trabalho.
Há uma mudança cultural a fazer. Global e pessoal. E a primeira é não nos deixarmos enganar por falsas promessas nem nos enganarmos a nós mesmos.

 

França: juventude e emprego

Ao que parece, os jovens ganharam na rua ao Governo: agora têm garantido que não serão despedidos de um emprego que dificilmente terão. Ou nunca.
Não quero com isto dizer que deviam ter aceitado o PEC, ou que o problema em debate não era importante. Era. Não é certo e seguro que a solução tenha sido boa, mas o que me parece certo é que o verdadeiro problema é outro.
Há vários anos que os sociólogos têm vindo a alertar para a diminuição do emprego. E os mais pessimistas chegam mesmo a profetizar que nos aproximamos de um tempo em que, a continuarem assim as coisas, haverá pessoas que passarão a sua vida activa (?) sem nunca terem conseguido um emprego.
Ou seja, o verdadeiro problema está noutro lado: a morte dos empregos face à mão de obra disponível no mercado de trabalho. E um segundo problema, também verdadeiro é o facto de que os jovens e os sindicatos se mobilizaram contra o PEC, mas não os vejo mobilizarem-se contra a raiz do problema.
Que interessa a segurança num emprego que nunca se terá?
Em Portugal, por exemplo, só há dois concelhos, Aveiro e Constância, em que os postos de trabalho disponíveis são mais que o número de trabalhadores disponíveis. Não é difícil calcular que o saldo positivo nestes dois concelhos não cobre o saldo negativo dos restantes. Felizmente um deles é aqui à porta, mas isso não resolve o problema do desemprego no concelho de Abrantes.
Há dias, duas ex-alunas vieram-me pedir ajuda. Estão a tentar criar uma empresa porque não arranjam nenhuma hipótese decente para trabalharem. E desabafaram:
- Fomos preparadas para arranjar emprego, não para criarmos uma empresa. Mas estamos a ver que se não a criarmos, não conseguimos ter trabalho com futuro.
Podemos discutir a segurança no emprego. Mas como será possível colocarmos na ordem do dia o problema da criação de emprego e, melhor ainda, da criação de postos de trabalho (que não é o mesmo)?
E o mais interessante é que se viu, nas ruas de França, o que podem as pessoas quando organizadas. Então, que é que falta para que se obtenham os resultados necessários?

 

Outro exemplo

O caso da exempla in-segurança numa obra fez-me lembrar um outro, este de natureza diferente. Refiro-me à obra que assentou arraiais no prédio que faz esquina da R. Luís de Camões com a R. do Montepio. No Verão passado, andava a obra nas traseiras do edifício e já era manifesto no cartaz de licença afixado que tinham sido ultrapassados os prazos de conclusão. Mas a obra lá continua, com todos os inconvenientes para todos nós, frequentadores do prédio e transeuntes nas duas vias. Sem mais.

09 April 2006

 

Visita pastoral

Terminou a visita pastoral do Bispo D. José Alves da Diocese de Portalegre e Castelo Branco ao arciprestado de Abrantes. O acontecimento, acompanhado da visita da "imagem peregrina" de Nossa Senhora de Fátima, foi ocasião de nítidas manifestações de religiosidade popular. Como se costuma dizer nestas ocasiões, a vida da igreja local ficou "mais viva e mais forte".
Mas podemos perguntarmo-nos se fora da vida eclesial houve algum estremecimento. Por exemplo, se na sociedade local houve alguma ideia, algum gesto, algum movimento que tenha gerado ondas, provocado uma reflexão, obrigado a uma reflexão nova.
Devemos interrogar-nos se fora do meio dito "popular" houve algum reflexo desta visita.
A resposta é que "é pouco provável". Porque a nossa igreja diocesana há muito que se refugiou no universo popular, abandonando, por incapacidade ou por receio?, a tarefa de ouvir e de se fazer ouvir nos meios mais eruditos ou menos populares. A prazo, isso vai-lhe custar caro. Mas, por enquanto, o sucesso nos meios populares vai ocultando o que se passa nesses outros meios. São escolhas.

 

Democracias

Não tenho uma catalogação para diferentes tipos de democracia. Mas vejo-os muito claramente em acção. Não só lá fora, mas muito perto de nós.
Aliás, já escrevi e mantenho, que a nossa democracia, mais formal que outra coisa, cometeu o erro – mais uma vez metafísico - de não educar as novas ( e velhas) gerações para a democracia. Hoje, temos muito boa gente que apenas aceita a democracia como um regime em que podem fazer o que quiserem sem serem apanhados ou sem terem de pagar muito por isso.
Não admira, pois, que se desenvolvam comportamentos e teses autoritárias, por vezes mesmo ditatoriais, sob a aparência da defesa da democracia. Noutros casos nem sequer essa aparência é salvaguardada.

P.S. 1 – A propósito. Na democracia implantada, felizmente, no Afeganistão, vigora uma república islâmica onde, infelizmente, é punida com sentença de morte a rejeição do islão. Ainda há pouco um homem foi, em conformidade, condenado à mote por se ter convertido ao cristianismo.
P.S. 2 – Em Portugal não vigora a pena de morte, mas estão em vigor outras penas para aqueles que não professam a mesma fé que.

 

Capitalismos

A propósito, lembrei-me de fazer uma transcrição:
«... há mais do que um tipo de capitalismo. Na verdade, há capitalismos. Que se baseiam, por vezes um tanto vagamente, nos mesmos princípios. Mas são, certamente, diferentes. (...)
«Primeiro, temos a versão europeia do capitalismo sócio-liberal com um estado bastante forte que pode e irá interferir. (faça o que quiser até certo ponto.) Depois, há o capitalismo de mercado norte-americano, com intervenção mínima. (Faça o que quiser.) Um terceiro tipo é o capitalismo colectivo do Extremo Oriente, erigido sobre a confiança e um estado muito forte. (Todos nós sabemos o que fazemos e o governo também.) Uma última versão é o capitalismo do roubo, ou a "cleptocracia" que actualmente encontramos em diversos países da antiga União Soviética e em algumas regiões da América Latina. (Faça o que eu quero ou destrui-lo-ei.)»
Assim falam as vozes de Jonas Ridderstrale e Kjell Nordstrom, em Funky Business (Porto, Fubu Editores, 2005, pp. 60/61), um livro que se recomenda.

 

Democracia

Há tempos chamaram-me, neste local, de democrata. Creio que sim, que sou democrata. Mas gostaria que esse adjectivo "democrata" fosse por sua vez adjectivado.
- Não, dizem alguns, não há democracia adjectivada. Ou é democracia ou não é.
Mas eu não concordo. Porque não é verdade.
Não sou adepto de uma democracia em que cada um faz o que quer e não tem que dar satisfações a ninguém. E democratas desses há por aí muitos. Não sou adepto de uma democracia em que as regras só são para serem cumpridas se não conseguirmos não ser apanhados. E democratas desses há por aí muitos. Não sou adepto de uma democracia em que tudo é equivalente, nem bom nem mau, apenas há a diferença entre o que é proibido pela lei e o que não é. E democratas desses há por aí muitos. Ainda há dias uma dos nossos "rapazes" mais conhecidos dizia que «a ética republicana é a lei» (cito de cor). E não é o único, pois democratas desses há por aí muitos.
Também não jogo na mesma democracia de Mahamoud Abbas, presidente palestiniano, que depois da vitória do Hamas, por um seu porta-voz, declarou: «O Hamas fará o possível para que falhemos e nós faremos o mesmo. São as regras do jogo.» E há muitos democratas desses por aí, visíveis não só no que dizem mas muito mais naquilo que efectivamente fazem, tantas vezes pela calada. Mas eu penso que o jogo da democracia tem de ser outro, muito diferente.
Por isso penso que não há uma única modalidade de democracia, mas várias. E também por isso penso que a democracia deve ser adjectivada.
A única alternativa é dizer claramente que estas não são modalidades de democracia, mas corrupções.

 

A metafísica

O texto de Filomena Mónica é um exemplo de metafísica em acção. Há uma ordem metafísica, ou seja, para lá da realidade das coisas do mundo, que torna justa e eficaz uma "coisa" que no mundo dos factos se não revela nem justa nem eficaz.
Este modo de pensar é velho e resiste a qualquer argumento factual, pois que, por definição, situa-se para lá de qualquer facto.
Estamos no Iraque a dar força e argumentos a todos os que estão e vão estar contra a "civilização ocidental" que ali dizemos defender. Estamos a tornar insustentável uma imagem digna dessa mesma civilização. Estamos a tornar impossível qualquer simpatia pelo mundo ocidental. (Veja-se, a propósito, a entrevista com Yaroslav Trofimov, no Público de ontem, Sábado, dia 8.)
Ou seja, na ordem dos factos os resultados apresentam-se o contrário do que dizemos defender e fazer. Mas há uma outra ordem – metafísica – onde é verdade e bom aquilo que nos domínio dos factos é falso e mau.
É isso a metafísica. É esse o perigo.

 

Resistir?

Não se trata, portanto, de uma alternativa entre «a invasão ou a inacção».
Somos capazes de nos colocarmos de acordo, pelo menos muitos dentre nós, e a respeito de muitas coisas: é necessário resistir. Ou seja, não podemos "aceitar e calar".
Mas coloquemo-nos mais uma vez de acordo: o essencial são os resultados.
Portanto, talvez seja melhor pensar um pouco menos naquilo a que queremos resistir e mais, muito mais, nos resultados que queremos construir. E garantir, na medida em que isso estiver ao nosso alcance.
Construir no mundo real e efectivo das pessoas e da sociedade, e não no mundo dos piriquitos, que é onde muita gente habita confortavelmente, pelo menos enquanto pensa

 

Filomena e o Iraque

Filomena Mónica, na Pública de hoje, traz uma crónica justamente sobre a invasão do Iraque. Trata-se de um texto importante para vermos como pensam alguns dos nossos pensadores públicos.
O texto é longo. Por isso, limito-me a algumas observações.
«Saddam continuava a rir-se das Nações Unidas»;
«não se tratava de optar entre o Bem e o Mal, coisa fácil, mas de escolher entre o menor de dois Males, a saber, a invasão ou a inacção»;
«o Presidente americano e o Primeiro-Ministro britânico... [na] verdade... pretendiam incutir o pavor nas almas terroristas...»;
«Jamais imaginei...»;
«continuo a pensar que a invasão foi honrosa».
Como quem diz: estás a rir-te de mim? não posso ficar quieto, não consigo imaginar outra coisa que dar-te uma sova; levei na cara, mas fiquei de honra lavada.
E é esta incapacidade de imaginar outras possibilidades de acção senão a guerra que aprisiona estas cabeças ao modelo militar de resposta aos problemas. A solução é, neste caso, sempre boa, independentemente dos resultados.
(Esquece-se, aqui, que um dos resultados pretendidos pela indústria militar era o que de facto aconteceu: a guerra. Como também se esquece que uma parte da recuperação económica dos EUA está afazer-se com base na recuperação e desenvolvimento dessa indústria de guerra. Eu não sei exactamente o que isso significa, mas tenho a certeza de que significa muita coisa.)

 

Três anos de Bagdad

Há três anos que as tropas americanas conquistaram Bagdad. Nesse dia, em que ganharam a batalha, perderam a guerra. Pensavam que iriam encontrar uma forte resistência e aniquilar as forças militares de Saddam. Mas não encontraram. Para grande surpresa dos americanos, mas nenhuma dos que conhecem um pouco de estratégia militar.
Também em Portugal, se houvesse uma invasão dos espanhóis, as tropas portuguesas não seriam capazes de os conter. Nesse caso, estão preparadas para fazer o mesmo que as tropas iraquianas fizeram: passar a uma guerra de guerrilha, numa resistência activa e incontrolável.
Passados três anos, do ponto de vista militar, esta guerra de resistência continua e os americanos estão a perder a batalha na retaguarda enquanto os guerrilheiros estão a ganhá-la tanto na retaguarda como nas várias frentes em que pontual e sistematicamente actuam. O que não encerra nenhuma razão para nos congratularmos. Antes pelo contrário. A grande verdade é que ninguém parece capaz de adivinhar o resultado de uma derrota que cada vez mais se apresenta inevitável.

 

EDP e Telecom

Fomos há dias premiados com uma dupla boa notícia. A EDP e a Portugal Telecom tiveram, no ano passado óptimos resultados financeiros. A EDP, se não erro, alcançou mesmo o melhor resultado de sempre de uma grande empresa portuguesa. Belo.
Mas eu não posso esquecer-me de que tanto a EDP e a Portugal Telecom fecharam as lojas que tinham em Abrantes. De cada vez que eu vejo as pessoas em fila, na rua, por vezes à chuva e em breve à torreira do calor, não posso esquecer que foi também assim que as nossas grandes empresas conseguiram obter os grandes resultados financeiros com que nos "devemos" alegrar.
Também não podemos esquecer as declarações do responsável pela CGD, uma das accionistas da EDP: estamos na EDP apenas para realizar lucros. Ou seja, eu pensava que a EDP era uma empresa que fornecia electricidade aos consumidores, mas afinal é, sim, uma empresa que sobretudo deve fornecer lucros aos seus accionistas. Pelo menos na óptica da accionista CGD – que é do Estado.
Assim, talvez seja mais fácil de perceber que não haja qualquer inconveniente em nós estarmos na fila à chuva ou ao calor. Se possível, até com um sorriso.

 

Esventramento

Uma empresa anda a abrir valas na parte alta da cidade velha, para instalação de condutas de gaz. A obra é necessária e, por isso, compreende-se o transtorno que faz a habitantes e a transeuntes.
Sim, mas só até ao ponto em que virmos que há boa gestão do transtorno e não se estão a pedir sacrifícios desnecessários. Ora as obras estão a decorrer de um modo que parece estar a ser menos correcto do que devia. Não só pelo perfil dos trabalhos como pelo tempo que as ruas estão por reparar e pela pouca qualidade da reparação que deixam.
É que não esquecemos que, em tempos, uma outra empresa esventrou toda a cidade para colocar condutas para telefones e não causou metade dos transtornos. Talvez este trabalho seja mais exigente. Mas a verdade é que um leigo via ali qualidade e agora consegue ver pouco mais que confusão.

 

Cartaz

Sábado, 8 de Abril, Praça Barão da Batalha, de manhã. Sol e gente ao sol.
Na antiga Casa Salgueiro, uma obra apresenta-se como um "cartaz vivo" de até onde pode ir a inconsciência de algumas das nossas empresas e de alguns dos nossos trabalhadores.
Sobre o telhado em remodelação e sobre as varandas, em equilíbrio instável, exibe-se um compêndio ilustrado e ao vivo do muito que não se pode fazer em matéria de (in)segurança.
- Isto acaba por se reflectir, como uma vergonha, sobre todas as empresas do sector, queixava-se um empresário da construção civil.

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