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25 April 2006

 

Um episódio, pouco democrático

Na Rússia soviética, a ciência oficial era lamarckiana, disse atrás. O grande defensor desta teoria oficial era um tal Lisenko, que "cientificamente" sustentava a ideologia do regime e, por isso, tinha lugar de glória na sociedade local. Era o Presidente da poderosa Academia das Ciência da URSS.
Um dia, num congresso da Academia das Ciências, Lisenko afirmou, em nova defesa da tese indiscutível, porque evidente e oficial (ou: porque oficial, logo evidente?):
- Se continuadamente cortássemos as orelhas às vacas quando nascem, geração após geração, ao cabo de um certo tempo, as vacas nasceriam sem orelhas.
Pensam que alguém se atraveu a discordar? Quem ia discordar, mesmo numa Academia das Ciências, de uma verdade ao mesmo tempo científica e oficial?
Contudo, lá do fundo da sala, um jovem cientista, de que a História não conservou o nome, pediu a palavra e perguntou timidamente:
- Professor Lisenko, a ser verdade que se continuadamente cortássemos as orelhas às vacas quando nascem, geração após geração, ao cabo de um certo tempo, as vacas nasceriam sem orelhas, como se explica que todas as jovens da União Soviética continuem a nascer virgens?
Nesse momento começou a queda de Lisenko do alto do seu pedestal social e científico.
Mais uma vez, como tantas vezes, o maior número não garante que se esteja na posição certa. E uma voz solitária, e ameaçada, pode estar do lado da razão.

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