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20 August 2007

 
Saramago, o ibérico
Há algum tempo (15 Julho), Saramago voltou a bolsar o seu oráculo:
«Portugal acabará por integrar-se na Espanha».
Em Portugal houve sobretudo duas reacções: os que se indignaram com tais palavras e os que se indignaram com a indignação dos primeiros.
Saramago tem razão: Portugal parece estar a desistir a favor da Espanha. Cerca de 10% do nosso PIB é produzido por empresas espanholas e creio não estar enganado na informação de que 30% das nossas empresas cotadas em bolsa são já propriedade de espanhóis. A volta foi dominada nos 10 primeiros lugares por espanhóis. No Alqueva, por exemplo, os agricultores portugueses acumulam queixas contra o Governo, enquanto os espanhóis acumulam hectares adquiridos. E até no Espalhafitas se pode ver a diferença entre os filmes portugueses e espanhóis e se compreende que, enquanto os espanhóis acumulam êxitos de bilheteira, os portugueses acumulam queixas, como a de que «o cinema português é tão conhecido como o esquimó».
Saramago tem, por isso, razão. Ou parece ter. Ou melhor: tem a sua razão.
Desde sempre, em Portugal houve este conflito de integração com a Espanha.
No tempo de Afonso Henriques, houve os que queriam Portugal independente e os que estavam do lado de Espanha (Leão). No tempo de D. João I, havia os que estavam do lado de Portugal e os que estavam do lado de Espanha (Castela). No tempo de D. João IV, havia os que estavam do lado de Portugal e os que estavam do lado de Espanha (Castela ainda, creio eu). Agora, de novo, há os que estão do lado de Portugal e os que estão do lado de Espanha. A fala de Saramago diz sobretudo duas coisas: de que lado ele está e de que lado nos convida a estar. E essa é a sua razão.
No passado, as coisas penderam para o lado que sabemos: para o lado de Portugal quase sempre e para o lado de Espanha em 1580. Agora, não sabemos ainda o resultado. Mas sabemos o resultado a que Saramago nos convoca. Ele desistiu, há muito, de Portugal, pelas razões que conhecemos. E é por isso que não encontra qualquer razão para resistir a um movimento que vê – e que aceita, conformado.
Se vier a ter razão, é uma razão também por ele construída.
Porque uma coisa é verdade: há uma tendência, mas ela não é mais que isso. O resultado depende do que fizermos.
Imaginemos que o Presidente da República e o Primeiro Ministro tinham dito o mesmo que Sócrates. O nosso Nobel disse-o. E ao dizê-lo fez força numa certa direcção.Se Saramago tiver razão, a ele mesmo também se deve.

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