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27 May 2008

 
Manuel Lopes de Sousa
e
Júlia Pinheiro

Calma! Manuel Lopes de Sousa continua vivo e bem vivo, apesar da formosa idade que já apresenta.
Serve esta nota para alertar que vamos, certamente, tê-lo na tarde de quinta-feira, dia 29, na SIC, no programa de Júlia Pinheiro.
Quem puder não perca.

 
Sousa Casimiro ( ? – 2008)
Partiu demasiado cedo. Mas deixa obra feita.
Insisto com os meus alunos: a história é feita por pessoas comuns, pessoas como nós.
Dito de outro modo, a jeito de lema:
«Tu podes fazer a diferença.»
Estas palavras servem para nos lembrarmos de que Sousa Casimiro fez a diferença, alterou a nossa paisagem social, fez história.
Sem ele, nem Abrantes nem a rádio em Portugal seriam exactamente o mesmo. E isso lhe devemos. E isso convém lembrar nesta hora de despedida.
Ficamos agora mais sozinhos para fazer o muito que continua por / para fazer.
Que descanse em paz.

 
Vida de cão?
«Ainda pouco vinha no ônibus cansadíssima e pensava: meu deus do céu, o que fazemos com a nossa vida? Trabalha-se feito "cão" e nada de prazeres? Cheia de sacolas pesadas, num ônibus lotado, num engarrafamento infernal, eu só queria encontrar um buraco e me enfiar dentro...Sabe como é viver numa grande cidade, né? Então lembrei da foto anterior do seu cão. Pensei tanto que adormeci e perdi o ponto. Resultado: andei mais com aquelas malditas sacolas. Então, diante desta foto (que está uma maravilha), vamos combinar uma campanha pelo ócio já! Que beleza de exemplo nos dá esse cãozinho lindo!» Lilian Moura
Para perceber melhor, ver
http://olhares.aeiou.pt/um_cao_em_lisboa/foto1878363.html

24 May 2008

 
Abrantes
Insistem-me.
- Mas isto são conversas sobre Abrantes? Não era suposto aqui falar-se de Abrantes?
Creio que já respondi. Abrantes não é uma ilha. O que permite perceber e enfrentar os problemas em Abrantes são perspectivas de análise e resolução que são válidas em qualquer parte do mundo. Por outro lado, os problemas de Abrantes fazem parte dos problemas do mundo.
Abrantes é apenas um caso do mundo. E não há nenhuma contradição entre o local e o global, embora não se possam confundir. Tantas vezes o mais universal é o mais local.
Finalmente, a verdade é que vou tendo leitores de vários outros lugares, onde o que lhes interessa não é a especificidade de Abrantes, mas o que deste caso particular possa ser universalizável.
Por exemplo. Os problemas da escola em Abrantes não têm de ser pensados à margem do que se pensa por aí fora sobre esse tema. Bem pelo contrário. E o que se faz de bom (e mau) em Abrantes neste domínio não deixa de ser interessante para quem pense a escola sei lá onde.
Não, Abrantes não é uma ilha. Embora demasiadas vezes se feche sobre si mesma.

 
Nem de propósito
Público, Supl. Economia, 23 Maio
Géraldine Correia, de Barcelona, onde se reuniram presidentes executivos, reitores e académicos “para discutir as novas competências necessárias para líderes”.
«Um dos factores que lidera a mudança são novos talentos, que deixaram de aceitar um modelo de controlo e comando na liderança.»
Ainda um dia haveremos de discutir a indisciplina na sala de aula com base nesta pista de análise.

 
Na Suécia, a escola
Público – É possível um estudante chumbar?
Karin Nilson (Directora-Geral da Educação na Suécia) – Sim, mas a escola deve evitá-lo a todo o custo. Todos os períodos, os professores reúnem com os pais e os alunos para dialogar sobre a situação do estudante e os seus progressos. Depois, caso seja necessário, é feito um plano de acção para o estudante, com sugestões para melhorar. A responsabilidade é só da escola, não se diz aos pais que o aluno deve ir para casa ler mais ou fazer mais exercícios. Não, é a escola que tem de encontrar soluções que podem passar por aulas de apoio ou outras.
P – Mas há alunos que desistem da escola?
Karin Nilson – Sobretudo no secundário, mas a taxa de desistências é baixa. A maior parte dos jovens sabe que se não tiver um certificado, não será fácil entrar ou manter-se no mundo do trabalho. Outra razão para não desistirem é porque sabem que no sistema educativo não há becos sem saída, há sempre uma alternativa. Como temos uma boa oferta educativa para adultos, os jovens sentem que podem desistir, porque podem regressar mais tarde.
In Público, 17 Maio, 2008

Quer queiramos quer não, ou a escola portuguesa percebe o que se passa ou vai ser obrigada a perceber da pior forma. E a pior forma será o cerco comparativo com escolas privadas, que já começou mas ainda mal começou. E o curioso é que essa comparação também na Suécia é favorável às escolas privadas, embora Karin Nilson afirme não se perceber porquê.

22 May 2008

 
UEFA Final
Ao mais alto nível, entre quem ganha e quem perde vai por vezes uma unha negra.
E mesmo o melhor do mundo pode falhar na hora decisiva.
Isso dá-nos algumas lições. Dar-nos-ia, se quiséssemos aprender.
A verdade, porém, é que parece que nem sequer estamos interessados em ganhar. Queremos apenas ter o direito de estar entre os que levantam a taça da vitória sem termos estado na luta, digo, na construção dessa mesma vitória.

 
CNE 172 – Promessas
No sábado, velada de armas no Campo António Moreno, sobranceiro ao Tejo.
No domingo, às 9 da manhã, as promessas. Logo no início, uma chuva segura começa a tombar sobre os jovens e as suas famílias. Seria mais de uma hora à chuva. Mas ninguém arredou. Aguentar a pé firme, mesmo em condições adversas, cria jovens diferentes, mais resistentes à adversidade, nada flor de estufa ou ar condicionado.
O escutismo é uma escola. E tanta falta fazem homens e mulheres de qualidade.Gostei de Vê-los ali a fazerem-se em várias dimensões. Não gosto nada de saber que a maioria dos nossos jovens não têm oportunidades qualificadas para se tornarem naquilo que querem e merecem ser. (O que em nada quer dizer que essas oportunidades apenas surjam no escutismo. Quer apenas dizer que talvez a maioria dos jovens não têm uma oportunidade significativa para lá da escola – que para muitos não é flor que se cheire.)

 
E a justiça social?
A justiça e a injustiça continuarão. Continuará a ser necessário cultivar a justiça e combater a injustiça. Mas justiça e injustiça terão também roupas novas.
Porque o facto de o mundo ter uma lógica nova não significa sequer que ele seja melhor. Para ser melhor também é necessário aprender a construir nele uma vida boa.
Como sempre, nada está garantido à partida.
Afinal, sempre foi assim. Basta olhar para a História. Só que o processo acelerou. O que levava décadas ou séculos, ocorre agora em poucos anos. Nós é que esquecemos isso.

 
Maio, maduro Maio
Antes de Maio 68, a vida estava escrita antes de ser vivida. A minha avó Elisa viveu do mesmo modo que todas as mulheres da sua terra. É claro que exagero, mas não muito. O script estava escrito, passe o (quase) pleonasmo.
Em Maio 68 os papeis foram queimados. Desabadas as barreiras, tudo passou a ser possível.
Hoje, não há scripts susceptíveis de serem impostos ou adoptados. Até porque o mundo muda mais rapidamente do que as regras de nele viver. Daí a necessidade de cada um reinventar a vida para poder viver.
Há, contudo, um problema. A cultura dos mais velhos ainda é muito a de um mundo dado para ser vivido e não interiorizámos o suficiente que viver é construir um projecto instável sobre um território em permanente mudança.
Quem vem do passado, só pode achar esta ideia insuportável. Que vai para o futuro já sabe que não há alternativo.
Sei que estas afirmações podem ser lidas como um vender-se aos interesses instalados. Mas, por mais que eu olhe, não vejo qualquer possibilidade a uma vida estável, porque não vejo qualquer possibilidade de um mundo estável desde que se adoptou a inovação, a criatividade e a competitividade como norma de vida. E também não vejo qualquer interesse em voltar a um sistema de viver uma vida já antecipadamente escrita.
A criatividade veio para ficar, e isso é um bem. Daí que viver seja cada vez mais um reinventar a vida. Mesmo que seja uma vida na simplicidade poética com recursos pobres mas vividos intensamente.
Creio que viver será cada ver mais projectar e criar-se. Fazer-se, construir-se. E isso tanto no que diz respeito ás pessoas como às organizações e instituições. O que significa que a mudança tende a multiplicar-se de modo exponencial. Num mundo cada vez mais líquido, como pode o sólido manter consistência.

 
Ouro, latão
Creio que é uma boa imagem:
Ter de fazer uma escultura em ouro... mas com peças de latão.
Imagem do país, do concelho, da escola, da empresa.
Como se houvesse milagres.

 
Maio 2008
Creio que é uma boa hipótese. Os nossos jovens não vão muito à bola com a política porque vêem a política, dentro e fora, a quererem um jogo de cima para baixo, “o Governo tem de resolver”, e eles já intuíram que a solução tem de nascer de baixo para cima e de cima não pode vir o essencial.
Todos recordamos um dos princípios que fizeram pensamento, mas não tanto acção:
«Não perguntem o que o país pode fazer por vocês; perguntem o que podem fazer pelo vosso país.» John Kennedy
Eu acredito que os jovens já perceberam isso, por isso fazem pela vida.
Os mais velhos, ainda não.

15 May 2008

 
Mudar: o dentro e o fora
Observar de fora uma mudança noutro país ou num qualquer passado nunca é, nem de perto nem de longe, nada parecido com operar por dentro uma mudança, essa mudança que outros podem observar de fora.
De fora, quase todas as mudanças são fáceis de compreender e tantas vezes fáceis de executar. Por dentro, nunca o são. Nem de compreender, nem de executar.

 
Maio 68
Mas também se pode dizer de outro modo.
Maio 68 é a irrupção, no tecido social de base, de uma outra modalidade de Ética.
Até um tempo recente, a Ética era composta por regras que criavam uma ordem social. E o que estava de acordo com essa ordem social e, portanto, de acordo com as regras, era bom. E o contrário era mau.
Ética e Moral eram o mesmo. A Ética ou a Moral eram as regras. Violar a regra era violar a Ética ou a Moral, era, portanto, imoral ou anti-ético.
Mas o mundo estava a mudar. A n«mudar demasiado e demasiado depressa. As regras já não continham o corpo social, já não lhe criavam uma boa ordem. A ordem desejada, ou necessária para as forças em presença, era outra.
O que vemos em Maio 68 é a afirmação social de uma outra modalidade ou matriz de Ética. Uma ética de valores, mais que de regras, de causas, mais que de regras, de empatias, mais que de regras.
Mas Maio 68 não foi um caso isolado, uma ilha social. Foi um afloramento social, entre muitos outros, uma expressão do espírito do tempo.
Em 1955, em Montgomery (Alabama), Rosa Parks tinha sido um outro caso. Sendo uma mulher negra, recusou-se a ceder o seu lugar no autocarro a uma mulher branca, conforme lhe exigiam as regras então em vigor. Foi presa. E deu origem a um movimento social que defendeu um valor contra a regra instituída.
Dizem que hoje não há valores. Mas não é verdade. O que não há é outra coisa, não há é consenso sobre valores, há multiplicidade de valores em confronto num mesmo espaço social. E não há análise crítica e vontade política para, numa outra matriz, configurar uma nova ordem social.
Digo “configurar”, não digo “criar”. Porque, na verdade, trata-se mais de um trabalho de oleiro. Mas não de um oleiro que trabalha de cima “sobre” um bloco de barro. No trabalho social, trabalha-se por dentro, sem qualquer possibilidade de sair e ter uma visão exterior ou um poder exterior sobre a “coisa” a modelar. Seja o mundo, um país ou uma cidade, uma empresa ou uma escola...
Maio 68 trabalhou a França e o mundo por dentro. E ele nunca mais ficou com a mesma forma... de vida.

 
Maio 68
Não nos demos ainda suficientemente conta de uma novidade do Maio 68.
Até ao momento, as teorias e as ideologias em vigor apoiavam-se no modelo do “comando e controlo”, tanto ao nível dos estados como das empresas.
Mas Maio 68 não passou por aí. Não houve um “centro” de “comando e controlo” dos acontecimentos. Os acontecimentos não decorreram numa lógica vertical de cima para baixo, mas numa lógica completamente outra: múltiplas emergências de tensão criadora que se foram articulando e agregando na horizontal e de baixo para cima e que foram incorporando informação descendente vinda de nós de decisão tão efémeros como instáveis.
Por isso é que o Partido Comunista Francês não podia “estar com” o movimento, um movimento de matriz cultural que lhe era completamente estranha.
Por isso, também, é que Maio 68 alastrou pela sociedade, a partir de dentro e de baixo, sem que nada nem ninguém conseguisse impedir-lhe o sucesso.
Hoje, é possível e necessário superar Maio 68. Mas não contra nem para trás. A História não regressa a qualquer passado. Embora a História avance por um processo de refontalização que se alimenta de alimenta de passados significativos e míticos.
Maio 68 é ainda um mito. A superação de Maio 68 não encontro ainda forças e mitos capazes de fazerem mover a História.
Ou já encontrou e nós ainda não demos por isso?

 
António Tomás
Ninguém repara? Este homem “está em todas”.
Vimo-lo à frente da Tuna da UTIA.
Mas também o vemos à frente do Cant’Abrantes, do Orfeão de Abrantes.
E vemo-lo a cantar no Coral Misto do Orfeão de Abrantes.
E também soubemos da sua importante acção musical na Escola do 1º Ciclo Nº 2.
Ou seja, o professor Tomás, como é conhecido, tem vindo a exercer uma acção de profundo significado no panorama musical abrantino. (E deve faltar aqui informação.)
Mas, para quem não anda distraído, dá-se o caso de o professor Tomás estar à frente do Projecto Mocho XXI, que tem tido um assinalável êxito.
Ah, e continua a leccionar, como professor do primeiro ciclo.
E como “prémio” desta sua intensa e reconhecida acção de forte significado social, foi colocado a leccionar fora de Abrantes, em Longomel, no Conselho de Ponte de Sor.
“Assim se fazem as coisas”, já dizia Gil Vicente.
Para o professor António Tomás, vai aqui a medalha de mérito cultural e educativo.

 
UTIA: mais 10
Há dez anos, definimos uma série de objectivos e métodos de trabalho.
Mas o mais essencial foi o “projecto de investigação”. Universidade sem investigação não pode ser. E o projecto era:
Que é ser uma pessoa viva e digna na terceira idade?
Que temos de mudar para que cada pessoa da terceira idade possa ser uma pessoa de parte inteira?
Não me recordo dos termos exactos. Mas a ideia era esta. E é, ainda hoje, um projecto importante de investigação.
Porque não sabemos a resposta.
Porque a resposta não é dada, precisa de ser criada.
Porque os mais novos precisam de aprender com os mais velhos.
E são os mais velhos os protagonistas, vivendo, desta investigação crucial.Parabéns a todos os que têm as mãos na massa e estão a fazer História.

 
UTIA – Hino da Universidade
Refrão
Se fores até Abrantes
Ai vai, vai, vai, vai
Não é tudo como dantes
Ai, Ai, Ai Ai

Se passares por Abrantes
Pára e sobe à cidade
E verás os estudantes (bis)
Da nossa Terceira Idade

Refrão

Depois sobe ao castelo
Verás vistas deslumbrantes
Acharás tudo mais belo
Não é tudo como dantes.

Refrão

A nossa Universidade
É uma fonte dos amores
Apoia qualquer idade
Alunos e professores.

Autoria: letra e música
Maria Piedade Anselmo
(poetisa popular)

 
UTIA - Versos ao Estandarte
Viva o nosso Estandarte
Mais um símbolo p’rá cidade
É mais uma obra d’ arte
Da nossa Universidade.

Vou amar meu Estandarte
Que me impõe respeito e Paz
Quero cumprir a minha parte
Na mensagem que me traz.

Suas cores são suaves
Fez do emblema linda flor
Que vamos pôr, sem entraves
No peito, com grande amor.

A nossa Universidade
Nasceu num berço de Palha
Cresceu na nossa cidade
E na cidade trabalha.

Em qualquer lado do País
Representa a cidade
Tem uma forte raiz
A nossa Universidade

Autoria:
Maria Piedade Anselmo
(poetisa popular)

 
UTIA estreia
Os 10 anos de história foram o momento para a UTIA inaugurar quer o seu estandarte, quer a sua Tuna, que baptizou de Turma da Amizade. Apesar de ser um trabalho com pessoas da terceira idade, há ali espaço para a criatividade e para a inovação. (A propósito refira-se que a UTIA tem formação em informática.)
Aproveito para publicar aqui os versos feitos pela aluna mais idosa da UTIA, Maria da Piedade Anselmo, já bem para lá do meio da casa dos 80 anos.

 
UTIA 10 anos
Foi com imenso prazer que participei na sessão solene comemorativa do 10º aniversário da UTIA – Universidade da Terceira idade de Abrantes.
Pessoalmente, sinto-me privilegiado por ter podido acompanhar todo o processo e presenciar as maravilhas que a UTIA tem feito na vida de muitas pessoas.
A mim, coube-me narrar aos presentes os primeiros tempos. Já quase míticos, para os elementos que hoje fazem parte da UTIA. Recordá-los deve ser, antes de mais, reconhecer, como disse, que a História é feita por nós. O que a UTIA é hoje e o que fez nestes 10 anos deve-se àquilo que todos, já em dois anos de pré-história e dez anos de história da UTIA, temos vindo a fazer. A História é feita por dentro. Por nós. A História passada e a futura, aquela que queremos que seja feita e que, por definição, falta fazer.

 
(In)Disciplina na escola
Circulam textos e comentários sobre o tema. Sempre no mesmo tom: os alunos são uns selvagens.
Para que conste, transcrevo dois pequenos textos, publicados ambos em O Mirante, na sua edição de 9.2.2000. Assim:

Já não há respeito (parte I)
Na quinta-feira, no Entroncamento, no decorrer das IV jornadas pedagógicas, os mais de seiscentos professores presentes perdiam, de vez em quando, o respeito aos oradores e desatavam a falar ao mesmo tempo, tal qual os alunos das turmas mais endiabradas. Numa das vezes que isso aconteceu, a professor Clara Pinto correia ergueu o ponteiro e a voz e conseguiu calar a sala com um “Atão meninos!!...” muito alentejano. Menos sorte teve o Secretário de Estado da Administração Educativa. Augusto Santos Silva terminou o seu discurso no meio de uma tal algazarra que até meteu dó.

Já não há respeito (parte II)
Para os professores (na maioria mulheres) da Chamusca que assistiram à apresentação do plano de emergência daquele concelho, a manhã de sexta-feira foi um bocado bem passado. Habituados a aturar as diabruras da miudagem e a domar a reguilice à custa de raspanetes, decidiram mostrar às diversas entidades presentes o fado que passam todos os dias para conseguirem ensinar a ler e a escrever os homens e mulheres de amanhã. E tão bem o fizeram que alguns dos oradores, se tivessem uma régua à mão, lhes teriam dado de bom grado algumas reguadas para ver se baixavam o tom.

04 May 2008

 
Maio de 2008
«Tudo é possível», «sejamos realistas, exijamos o impossível», dizia-se há 40 anos, o tempo de juventude daqueles que hoje estão nos vários lugares de poder.
Foi uma época de romper as barreiras do presente lançar-se na conquista do impossível. Em consonância, durante décadas cantámos «sempre que um homem sonha o mundo pula e avança».
Era tempo de um profundo desprezo pela realidade, de uma aversão radical ao realismo. A realidade não existe, é coisa de atados de pés e mãos.
Curiosamente, a palavra de ordem é bem clara: não diz “façamos” o impossível, mas “exijamos” o impossível. São “eles” que têm de nos dar esse impossível que nos compete apenas reivindicar, exigir.
Hoje, a nova geração tem de dar um novo salto. Não porque alguém lho exija, mas porque só assim poderá ir aonde quer. Os novos já perceberam que o sonho faz avançar o mundo, que há inúmeros impossíveis ao nosso alcance. Mas também já perceberam que ninguém lhes dará “almoços grátis”, que o impossível é possível, sim, mas apenas para quem quiser e for capaz de conquistá-lo. Coisa que os mais velhos não aprenderam. Eles querem “o impossível, já”, mas dado como prémio pelo simples facto de existirem.
Os mais novos vivem já noutro mundo. Felizmente para eles.

 
Maio de 68
Os jornais, quando falam do Portugal de então, referem a imigração como fuga à fome, ao desemprego e à miséria. Na verdade, não havia mais fome, mais desemprego e mais miséria do que sempre tinha havido.
O que havia, de novo, eram novas aspirações, um novo poder de desejar, novas possibilidades de sonho e novas oportunidades de realizá-las. Lá longe, não aqui.
Por isso partiam, de um país que teimava em ficar na mesma quando os outros seguiam em frente.
Como hoje?

 
Maio de 68
Um pequeno contributo

Em 1974, portanto seis anos depois de Maio de 68 e já depois da Revolução de Abril, no Pego, aqui, perto, os estudantes esperavam a camioneta para Abrantes em completa segregação sexual.
Era em frente ao hoje Pelagus, à frente de uma casa de habitação, num espaço livre até à estrada. Da porta até à estrada havia uma “passadeira” de cimento. Os rapazes, todos os rapazes e nenhuma rapariga, nem uma única, ficavam no espaço da passadeira para o lado do café Martins, enquanto as raparigas, todas as raparigas e nenhum rapaz, nem um único, ficavam no espaço da passadeira para o lado do café Cabaço. Ninguém se atrevia a violar este muro invisível que separava as mentes.
Percebe-se melhor, assim, o que terá significado, como ícone, imagens do teor desta que podemos ainda hoje ver levantadas como uma bandeira:
http://college-de-vevey.vd.ch/auteur/Inedits/mutation_des_signes/liberte.jpg
Não é necessário fazer comentários. São dois mundos cujas diferenças se evidenciam. Mas, se hoje essas diferenças não se vêem - tanto – no terreno, deve-se a que o mundo evoluiu. Por isso alguns podem dizer: Nós ganhámos.
No Pego, havia então já um grupo de teatro, que tinha iniciado os trabalhos em 1973. Mas em Fátima, na sede de freguesia, um grupo de jovens que começou a ensaiar numa garagem foi apedrejado. E se no Pego a coisa foi mais pacífica, isso não significa que não tenha sido convulsionada.
Recordemos também que no liceu de Abrantes, uma aluna teve de abandonar a escola porque ficou grávida.
O corpo e o sexo viviam ainda na caverna de Platão.

 
Outras democracias
Mas não vale idealizar. O vencedor das eleições para a Câmara de Londres teve uma campanha com promessas de peso (nada de vender ilusões):
Prometeu que votasse nele faria "com que a sua mulher passasse a ter mamas grandes e aumentaria a possibilidades de ter um BMW M3". E foi eleito.
Como indicador de qualidade de democracia... não está mau.

 
A democracia portuguesa
Mas o estudo antes referido não é o único. Em
http://casadaliberdade.com/tag/qualidade-da-democracia/
podemos encontrar melhores notícias, embora apontem sobretudo para a democracia formal. Mas entre o formal e o quotidiano... é que a porca torce o rabo.

 
Os Jovens e a Política
Falta fazer um estudo em Portugal:
Qual a relação entre o interesse e a cultura política dos jovens e a abertura das suas escolas à vida social e política, tanto local como nacional.
Eu coloco uma tese: há uma correlação directa entre o (des)interesse e a (in)cultura política dos jovens e o fechamento das suas escolas à vida social e política, tanto local como nacional.

 
Os Jovens e a Política
A questão foi trazida à ordem do dia na sequência de um estudo da Universidade Católica. Os jovens portugueses nãos e interessam pela política.
E os adultos?
João Pedro Henriques, num texto “Democracia portuguesa é das piores da Europa”, no Diário de Notícias de 4 de Maio, explica-nos:
«A qualidade da democracia portuguesa está longe de ser comparar às melhores democracias europeias. Ao invés, encontra-se bastante abaixo da média, situando-se ao nível de países como a Lituânia e a Letónia, e só acima da Polónia e da Bulgária.«As conclusões são da Demos, uma organização não governamental (ONG) britânica que tem por principal objectivo "pôr a ideia democrática em prática" através, por exemplo, de estudos. A Demos divulgou no final de Janeiro um "top" de avaliação da qualidade democrática em 25 países da UE denominado "Everyday democracy index" (...).
«O escrutínio não se fica pelos aspectos formais da democracia (eleições regulares, por exemplo). Vai mais longe, avaliando o empenho popular na solução democrática dos seus problemas e, por exemplo, a qualidade da democracia dentro das relações familiares. (...)
«Portugal está em 21º lugar, ficando apenas à frente da Lituânia, da Polónia, da Roménia e da Bulgária. Vários países que até há poucos anos orbitavam no império soviético encontram-se melhores classificados, segundo este "top". (...)
«O que se passa então com Portugal? Olhando para o gráfico, percebe-se a resposta: de um ponto de um ponto de vista da democracia formal, Portugal fica em 14º lugar, acima de países como a Espanha ou a Grécia ou a Itália. O que puxa a democracia portuguesa para baixo são os outros critérios. Por exemplo: a participação. Aqui a posição portuguesa desce para 19º lugar. Ou seja, as instituições políticas formais estão pouco cercadas de associações cívicas que as escrutinem.»
Além disso, o estudo mostra ainda um outro aspecto: a geografia do desencolvimento económico tende a coincidir com a geografia da qualidade (ou do desenvolvimento?) democrático.
«... há um claro padrão geográfico na qualidade das democracias. Os países nórdicos são os melhores. As democracias vão-se fragilizando à medida que se desce no mapa europeu.»
Há, além disso, um aspecto importante, que deve ser sempre assinalado:
«Verificou-se, por outro lado, que não há uma relação directa entre a qualidade formal da democracia e a qualidade da democracia quotidiana, que é tanto aquela que se exerce numa assembleia de voto como aquela que se pratica na reunião familiar onde se decidem as férias do Verão.»
Talvez cheguemos também à conclusão de que temos insistido alguma coisa na democracia formal, mas a nossa educação democrática tem sido paupérrima.
E depois admiramo-nos de os nossos jovens coisa e tal.
In http://dn.sapo.pt/2008/05/04/nacional/democracia_portuguesa_e_piores_europ.html
Um comentário, em editorial, “Qualidade da democracia deixa muito a desejar” em
http://dn.sapo.pt/2008/05/04/editorial/qualidade_democracia_deixa_muito_a_d.html
E pode ir-se à fonte:
http://www.demos.co.uk/publications/theeverydaydemocracyindexbook

 
Violência na escola
Na escola? Então, e em casa?
«O número de queixas de agressões de filhos a pais não pára de aumentar em Portugal: se em 2006 a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) recebeu 349 denúncias de pais contra os filhos, no ano passado este tipo de violência doméstica disparou para 390 casos, uma subida de 12 por cento face a 2006. Os actos agressivos de jovens com idades entre 18 e 25 anos já representam 20 por cento do total das denúncias registadas pela APAV.»
Correio da Manhã, 4 Maio
http://www.correiomanha.pt

 
10 Anos
Estão a cumprir a
UTIA – Universidade da Terceira Idade de Abrantes
e o
Grupo de Teatro Palha de Abrantes.
Parabéns a quem continua, dia após dia,
anos após ano,
o trabalho que tantas alegrias tem dados.
Só quem conhece de pertopode perceber a importância que têm tido.

 
Mais Net
http://www.psabrantes.pt/

 
O telemóvel
Continuam a perguntar-me sobre o telemóvel nas salas de aulas.
No fundo, a maioria das vezes, querem apenas que eu subscreva a sua tese, que “é uma vergonha o que se passa”, que “estes jovens de hoje não têm educação”.
Já o disse uma vez. Se não têm educação é porque não foram educados. De quem é a responsabilidade de educá-los?
Além disso, basta participar em reuniões de adultos ou em espectáculos. Não conseguimos passar sem ouvir telemóveis a tocar e sem ver adultos a atender, a faltar ao respeito aos que estão à sua volta.
Como podiam eles educar os mais novos? E como podem eles acusar os mais novos?Sim, os telemóveis são um facto novo, que talvez não tenhamos ainda aprendido a digerir, ou a gerir, como queiram. Ele é, sobretudo, uma pedra de toque que nos obriga a revelar aquilo que somos e até onde somos capazes de ir. Aproveitemo-lo.

 
A chave
Tenho lido alguns comentadores da nossa praça a fazer críticas de arrasar ao Governo, ou a Sócrates, ou ao PS. Mas é curioso como quase tudo o que dizem se pode resumir numa chave leitura: assim não ganham as eleições. Qual é a conclusão que se deve tirar? Que deve(m) mudar de política “para ganhar as eleições”.
Como princípio de governação não está mal.

 
Jovens e Política
Não resisto a fazer copy/paste de um texto com o título acima, publicado no Diário de Notícias de 3 de Maio por João Miranda, um investigador em biotecnologia. Trago-o aqui para contrariar essa ideia, mais velha que o Matusalém, de que "os jovens de hoje não prestam para nada". Tanto quanto se sabe, diz-se isto há 5.000 anos. E, no entanto, esta "verdade terna" parece que tem vindo a ser desmentida pelos factos.
João Miranda não está com meias medidas. O que ele nos diz vem a seguir, o que nos ensina é que os jovens vão ser mesmo os responsáveis pelo mundo que aí vem e não têm de dar-nos dele grande conta. Até porque... não lhes faltam razões de queixa.
Então, a palavra a João Miranda.

A geração que fez o 25 de Abril politizou todos os aspectos da vida social e económica. Viu em cada decreto-lei, em cada greve e em cada novo direito social uma conquista e um progresso. Os membros desta geração não foram capazes de compreender que a luta política é, na melhor das hipóteses, um jogo de soma nula em que cada direito conquistado por uma parte da sociedade é obtido à custa do sacrifício de outra parte da sociedade ou das gerações futuras.Grande parte do progresso económico e social atingido ao longo dos últimos 30 anos é artificial. Foi conseguido através da progressiva atribuição, por decreto, de direitos sociais à geração que fez o 25 de Abril. Esta geração beneficiou, como nenhuma outra antes ou depois, de empregos vitalícios, salários acima das respectivas qualificações e pensões de reforma muito acima das respectivas contribuições. Os membros desta geração de privilegiados chegaram sem mérito nem trabalho a posições que nunca teriam alcançado se a vida pública não tivesse sido politizada pela revolução. Os chamados "direitos adquiridos" da geração do 25 de Abril estão a ser pagos pelas novas gerações. Os jovens não têm emprego vitalício nem reforma garantida, mas são forçados a trabalhar para sustentar os privilégios das gerações mais velhas.A intervenção do Presidente da República nas comemorações do 25 de Abril criou a ideia de que os jovens não se interessam pela política partidária. Este alegado desinteresse incomodou a geração de políticos que fez o 25 de Abril. A cultura revolucionária destes políticos impede-os de perceber que a excessiva politização da vida pública não é um valor a promover mas um vício a evitar. As sociedades politizadas premeiam a habilidade política e as demonstrações de força na rua. As sociedades despolitizadas premeiam o mérito individual, o trabalho e a iniciativa empresarial. O eventual desinteresse dos jovens pela política partidária é um bom sinal. É um sinal de que a sociedade falhada construída pela geração do 25 de Abril pode ter os dias contados.
In http://dn.sapo.pt/2008/05/03/opiniao/jovens_e_politica.html

03 May 2008

 
Ilusões
O Presidente da República puxou as orelhas àqueles que andam por aí, na política, a “vender ilusões”. Mas eu não sei se as orelhas daqueles que tiveram por lema “sejamos realistas, exijamos o impossível” conseguem entender tal puxão. Não há toda uma geração que aprendeu, de ciência “certa”, que se os factos não estão de acordo com o que defendemos, “pior para os factos”?

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