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15 May 2008

 
Maio 68
Mas também se pode dizer de outro modo.
Maio 68 é a irrupção, no tecido social de base, de uma outra modalidade de Ética.
Até um tempo recente, a Ética era composta por regras que criavam uma ordem social. E o que estava de acordo com essa ordem social e, portanto, de acordo com as regras, era bom. E o contrário era mau.
Ética e Moral eram o mesmo. A Ética ou a Moral eram as regras. Violar a regra era violar a Ética ou a Moral, era, portanto, imoral ou anti-ético.
Mas o mundo estava a mudar. A n«mudar demasiado e demasiado depressa. As regras já não continham o corpo social, já não lhe criavam uma boa ordem. A ordem desejada, ou necessária para as forças em presença, era outra.
O que vemos em Maio 68 é a afirmação social de uma outra modalidade ou matriz de Ética. Uma ética de valores, mais que de regras, de causas, mais que de regras, de empatias, mais que de regras.
Mas Maio 68 não foi um caso isolado, uma ilha social. Foi um afloramento social, entre muitos outros, uma expressão do espírito do tempo.
Em 1955, em Montgomery (Alabama), Rosa Parks tinha sido um outro caso. Sendo uma mulher negra, recusou-se a ceder o seu lugar no autocarro a uma mulher branca, conforme lhe exigiam as regras então em vigor. Foi presa. E deu origem a um movimento social que defendeu um valor contra a regra instituída.
Dizem que hoje não há valores. Mas não é verdade. O que não há é outra coisa, não há é consenso sobre valores, há multiplicidade de valores em confronto num mesmo espaço social. E não há análise crítica e vontade política para, numa outra matriz, configurar uma nova ordem social.
Digo “configurar”, não digo “criar”. Porque, na verdade, trata-se mais de um trabalho de oleiro. Mas não de um oleiro que trabalha de cima “sobre” um bloco de barro. No trabalho social, trabalha-se por dentro, sem qualquer possibilidade de sair e ter uma visão exterior ou um poder exterior sobre a “coisa” a modelar. Seja o mundo, um país ou uma cidade, uma empresa ou uma escola...
Maio 68 trabalhou a França e o mundo por dentro. E ele nunca mais ficou com a mesma forma... de vida.

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