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11 April 2007

 

A questão

Pedro Oliveira é um homem de coragem. Convenhamos que é preciso ousadia para, de uma penada, se dar ao luxo de, publicamente, reduzir a nada uma das disciplinas matemáticas mais credenciadas, a Estatística. E de sustentar que é sobre essas cinzas que sustenta a sua tese, que eu digo apenas ideológica, de que os resultados escolares dependem apenas, ou sobretudo, mesmo decisivamente, do esforço ou empenho que os alunos põem na sua aprendizagem.
Esquece, porém, que esta afirmação não se sustenta apenas nas cinzas da Estatística, mas igualmente da Sociologia, da Física, da Neurologia, da Psicologia, etc.
Convenhamos que uma tal tese só consegue sustentar-se sobre as cinzas de uma grande parte do saber do Se. XX. A mim, custa-me ver fazer isto sem pestanejar, mas...
Só que... reduzir a Estatística à «ciência que, tendo uma criança comido duas bananas e outra comido uma, prova que cada uma delas comeu uma banana». Esta é a formulação que eu uso com os meus alunos para lhes mostrar o que é uma má estatística. Ou seja, isto é falar de uma Estatística que apenas conhece a média, portanto que desconhece a moda (que aqui não é fashion), o desvio, os intervalos. Ou seja, isto é reduzir a Estatística a nada. E, de facto, a escola só pode manter-se com o seu discurso reduzindo a nada as várias ciências que vêm mostrando que o rei vai nu. Mas o rei nunca saberá vê-lo.
Por isso é que as escolas, sobre o seu postulado de que o esforço é que produz os resultados, vai dizendo aos alunos com menos bons resultados «se te esforçares, vais ter boas notas». Mas a escola que diz isto a um aluno é a mesma que, tendo-se ele esforçado, lhe vai dar uma negativa contra o que profetizou. Afinal, se promete uma positiva se o aluno estudar, não devia dar-lhe se ele de facto estudar?
Para se inocentar, olha para o lado e assobia, para não ver... aquilo que sabe que está à vista. Todos o sabem, menos os cegos que não querem ver: os resultados escolares não dependem do esforço dos alunos. Dependem de outras coisas. Embora, é claro, não dispensem esse esforço. Em Lógica diz-se desse esforço: é uma condição necessária mas não suficiente. O pior é que nem sequer é sempre necessária.
A escola sabe isto, mas continua a funcionar como se não soubesse e a proclamar, contra a própria evidência escolar, que a verdade é outra.Que havemos de fazer?

Comments:
Em que ficamos?
É condição suficiente para o sucesso* ou é condição necessária?
A Estatística é, efectivamente, um nada...quanto ao sucesso ou insucesso educativo.
Ouso perguntar: "a escola" é uma entidade abstracta? Se, no seu post, tivesse definido rigorosamente o conceito escola, talvez o tivesse (ao conteúdo) compreendido melhor. Digamos que, seria condição necessária definir aqui "escola".

*educabilidade efectiva do educando (pleonasmo intencional)não a sua escolarização (passagem pelo sistema educativo em diferentes momentos da sua infância e juventude)
 
Basta olhar para os factos e procurar resposta:
se há alunos que não se esforçam e passam (e há), não é condição necessária;
se há alunos que se esforçam e não passam (e há), não é condição suficiente.
Não há outra coisa que se possa dizer a partir dos factos.
É a partir daqui que se vê, também pelos factos que...
as probabilidades de sucesso têm uma correlação muito positiva com o facto do aluno ser filho de um certo tipo de famílias.
Só destruindo toda a ciência do Sec. XX se pode dizer que essa correlação não tem significado.
E a verdade é que não o tem para a escola, o que já diz muito acerca da escola.
Jana
 
1. Não existem factos neutros. o facto só por si nada interessa. facto e valor, não é isso que lhes ensinamos nas nossas aulas, logo no 10º ano?

2. O facto só por si não é condição suficiente para a compreensão do insucesso.

2.1. O que se entende por insucesso? os valores numericos inscritos em escalas?
O insucesso na disciplina que lecciona é a correlação entre o valor numerico que o aluno obteve? O insucesso (estatisticamente até estamos bem...) dessa disciplina não será antes o de não ser capaz de desformatar as cabeças mal pensantes?...os preconceitos que levam (das tais familias [ricas pobres e assim asssim]para a escola?....

3. Óbvio que existe uma correlação entre a proveniência social dos alunos e dos professores e o sucesso/insucesso da e na escola. Indiscutível. Contudo, na minha modesta opinião não é esse o factor primordial para a sua compreensão e é preciso cuidado para não cairmos em interpretações sociololigantes (inventei agora)de trazer no bolso.

4. Jamais destruiria a(s) ciência(s) do século XX. Permitiram-nos chegar ao século XXI, mostrando-nos que ela(s) própria(s) são crenças. umas mais objectivas do que outras...perspectivas do real ou da realidade......
 
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