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22 April 2007

 

Os professores

É claro que os professores (do ensino não superior) também são um produto do sistema de que eles próprios são agentes. Estudaram neste sistema. E, como se sabe, ensinam sobretudo como foram ensinados, sendo uma das formas de reprodução do sistema.
Também eles foram o produto da selecção inicial, da selecção em andamento e da selecção final do sistema. Vêm sobretudo de estratos sociais baixos, embora de famílias capazes de investir no futuro dos seus filhos. Vêm sobretudo de estratos sociais com pouco capital cultural: fizeram um curso superior, mas um curso não dá cultura, dá instrução. Muitos deles só são professores porque não conseguiram entrar em nenhum outro curso mais cotado socialmente.
Mesmo assim, são a fatia do meio dos seus lugares de origem: a fatia de cima foi para melhores destinos; a fatia de baixo nem a professor chegou.
Sociologicamente falando, as coisas não andam muito longe disto. Há excepções, é claro, para ambos os lados, mas as excepções não alteram o panorama de fundo.
Agora falo eu. Sou professor e sou, como os outros, um produto do sistema. Tive um percurso atípico, mas não tenho nisso mérito pessoal.
Continuo a falar eu. Os nossos professores são aqueles que temos. Os nossos “melhores”, porque os únicos. E é com estes que temos de fazer a educação em Portugal. Não é um fatalismo, é a realidade. E uma nobre realidade. O contrário seria barbárie.
Continuo a ser eu a falar. Tenho o mesmo respeito por cada um dos professores que tenho por cada um dos alunos. Um respeito de quem não conhece o que eles fazem e muito menos as histórias de vida que os trouxeram até ao presente. Também cada professor é o resultado de um património biológico único, de uma acção social única e de uma história pessoal única. Como posso eu classificar aquilo que desconheço? A pessoa.
Mas isso não nos deve impedir de, se for caso disso, analisar o desempenho de um professor. Como também, sem avaliar a pessoa dos meus alunos, eu devo avaliar o seu desempenho. Normalmente não faço isso com os meus colegas, porque – felizmente – não exerço funções que me obriguem a fazê-lo. Mas, por vezes, fui/sou chamado a fazê-lo, como pai, como profissional, como cidadão.
Devo acrescentar que respeito os professores, mas não respeito a organização dos professores. Porque, como já o disse várias vezes, considero-a estúpida. Porque não é a organização para obter os resultados para que os professores são chamados a trabalhar e que, na sua maioria, dizem os estudos, eles trabalham. Também sei que sendo os professores pessoas inteligentes, como as outras, alguma da estupidez da (má) organização acaba por recair sobre nós.Finalmente, porque isto vai já grande demais. Eu não costumo falar de professores, mas de escola. Justamente por todas as razões que aqui expus e por muitas outras. Como o problema do sucesso dos alunos não está apenas nos alunos, também a solução da prestação dos professores não está apenas neles. O que não significa que os professores, tal como os alunos, não sejam co-responsáveis pelas suas prestações.

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