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06 April 2007

 

A nossa escola, de novo

O comentário de Pedro Oliveira ao meu anterior texto deve ser levado a sério. Por que não é apenas um texto; é toda uma família de discursos.
Há nele duas componentes fundamentais: uma científica e outra ideológica.

A componente científica diz, em síntese, que a Estatística é uma fraude, que não vale nada. “Eu, filho de pessoas de baixa escolaridade, tirei um curso superior.” E supõe-se, embora não o diga, que fica desmentida a Estatística. Apenas diz, é claro, «só posso falar por mim», mas quer dizer/significar mais do que diz.
Faz-me lembrar a tese dos alentejanos que demonstraram que o tabaco não provoca o cancro. Havia dois irmão gémeos, um, que fumava, mas que morreu aos 90 anos, e outro, que morreu à nascença e nunca fumou. Logo, o tabaco não provoca o cancro.
Mas o discurso de Pedro Oliveira, pelo simples facto de ser dito, não desdiz apenas a Estatística. Ele nega também a Sociologia, e a Antropologia, a Teoria geral dos Sistemas e Física dos Fractais, a Psicologia e a Neurologia, entre outras ciências do Sec. XX. Ou seja, aquelas afirmações só podem ser produzidas se se desfizer grande parte das ciências, exactas e sociais, do Sec. XX. O que quer dizer alguma coisa, não?

A componente ideológia, que não é estranha à primeira parte, está sobretudo presente em duas afirmações:
1) «Nós somos aquilo que construímos», e
2) «Derrotismos à partida nada resolvem».
A primeira é falsa, porque não tem nenhum suporte na realidade, a não ser aquele que lhe é dado pelo senso comum, que vale o que muitos já demonstraram que vale.
A segunda é bem intencionada, sem dúvida, mas o «não derrotismo» nunca esconderá que uma acção feita sobre um falso conhecimento só pode levar a resultados catastróficos. Recusar-se (e não falo aqui de intenções, que desconheço, mas de factos) a enfrentar os factos é, de certeza, avançar por uma acção que poderá fazer mais vítimas que salvamentos. Aliás, é isso que vemos quase todos os dias. Com as melhores intenções, talvez, porque não?, os resultados são catastróficos. E quem os sofre?

P.S. 1 – O meu pai tinha a quarta classe, a minha mão só tinha a terceira, feita em dois anos; dos meus quatro avós, três eram analfabetos. Eu tenho um mestrado. Mas a Estatística sabe disso.

Comments:
«mas quer dizer/significar mais do que diz»

Caro camarada das lides «blogosféricas» disse exactamente aquilo que queria dizer se pretendesse dizer algo diferente tê-lo-ia feito.
As estatísticas ou a Estatística (se preferir) vale o que vale se eu comer um frango e o meu amigo não comer nenhum, a estatística dirá que dois homens comeram um frango, o que dá uma média de meio frango por pessoa.
Considero que este «post» está ferido de alguma «desonestidade intelectual» contudo penso o mesmo em relação a alguma hermenêutica e maiêutica socrática.
(a minha opinião é como a estatística: vale o que vale)
 
A hora é tardia, mas tocou um ponto que considero essencial, a saber: falou em Teoria Geral dos Sistemas.
Não sei se, pelo adiantar da hora (o tempo é sempre relativo...) se, por incompetência cientifíca, filosófica, poética, literária ou outra(s), não fui capaz de apreender a relação que procurou estabecer entre o teor do comentário de Pedro Oliveira e a Teoria Geral dos Sistemas.
A questão daria um bom post, tal como a visão da Estatística pela óptica da teoria Geral dos Sistemas. e, ainda, a análise do tal «esforço» pela mesma óptica.
 
Desculpe a insistência. Já de saída, ainda proponho uma tentativa de articulação fundamentada cientifica ou filosoficamente entre as taxas de sucesso/insucesso dos alunos e alunas portuguesas e a proveniência social da (des)classe de professores que fazem, também, a escola que temos.
Como certamente saberá, os estudos (estatisticos também) explicam.
 
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