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19 February 2007

 

Ciências da Educação

Está na moda gritar contra as Ciências da Educação. Confesso que me sinto sempre incomodado. Não tanto com esses gritos, mas sobretudo com o pensamento que se (não) vê nesse gitar. Por isso, transcrevo aqui o que já deixei noutro lugar:

Utilizemos a própria acção central da escola – o ensino e a educação – e o tipo e grau de conhecimentos que a escola mobiliza para esse efeito. Ouçamos a ladainha contra as ciências da educação, que pressupõe que a escola é capaz e deve fazer ensino e educação sem ter em conta as ciências da educação.
Ouçamos o velho médico Fernando Vale, recentemente falecido, a falar da revolução que ocorreu na Medicina desde que ele se formou como médico. Essa revolução resulta da introdução das várias ciências no campo da acção médica. Ouçamos também o Expresso, que há pouco publicou um trabalho que dava conta da revolução que ocorreu no futebol com a introdução das várias ciências naquela modalidade desportiva. Lembremos que já antes essa revolução tinha ocorrido no atletismo. É sempre assim: quando as ciências são introduzidas numa qualquer actividade, provocam uma revolução radical nos processos e, por isso, nos resultados dessa actividade.
Mas nós insistimos num soberano desprezo pelas ciências da educação. Defendemos que, para educar e ensinar, o senso comum é mais que suficiente. Assumimos que somos hoje o único campo de acção em que, “orgulhosamente sós”, isto é, sem a ajuda de qualquer ciência, somos capazes de fazer aquilo que é a nossa função.
Dizemos altivamente, pela prática efectiva, que é a melhor forma de dizer, que a nossa acção, pessoal e colectiva, de ensinar e educar, não precisa de qualquer crítica nem de quaisquer contributos das ciências da educação. Que a psicologia da educação e a sociologia da educação, a filosofia da educação e a história da educação, o direito da educação e a economia da educação, a estatística, as neurociências, as ciências da saúde física e mental, as ciências da administração e as ciências da comunicação, as ciências da gestão e as ciências da organização do trabalho, a análise sistémica e a análise de redes sociais, o marketing, a higiene e segurança no trabalho, as metodologias da Qualidade... nada disto tem uma palavra a dizer sobre aquilo que é a acção da escola. Por isso, como podia ser de outro modo?, sobretudo reproduzimos a escola que sempre conhecemos.
Seja-nos permitido fazer uma pergunta. Há mais alguém, além dos professores, que partilhe desta convicção? Há mais alguma actividade, além da educação e ensino, em que seja possível, hoje em dia, esta postura?
Mas, se me argumentam, que esta convicção não existe, então seja-nos permitido encontrar rastos significativos – na prática e no discurso da escola – noutra direcção. Mostrem-me que estou errado, e eu retratar-me-ei.

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