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04 June 2006

 

O Jaime

O Jaime é meu aluno, no 11º ano. O Jaime estuda, mas nunca consegue ter positiva. Desde logo, porque não consegue tirar grande coisa de um texto que lê. E depois, porque eu não consigo tirar grande coisa de qualquer texto que ele escreva. Palavra e pedaços de frases, decoradas do livros mas reunidas sem lógica nem conexão, uma escrita que aqui e ali nem se deixa ler, ideias esfarrapadas, por vezes em contradição. De viva voz, dá-me sobretudo o silêncio, ou afirmações sem sentido. Mas tu acreditas naquilo que estás a dizer?, pergunto-lhe. Pára e reponde: Não. O melhor que consegue é puro senso comum, sem grande rasto do que poderia ter ali aprendido.
O Jaime estuda. E preocupa-se. Sofre. Mas não consegue. Nem eu. Não consigo, com os tempos e os meios de que disponho, ir além do que me aparece como uma continuada tortura do Jaime.
O Jaime acredita que a culpa é dele. Mas não é de ninguém. Não é uma questão de culpa. Aliás, eu detesto o discurso da culpa, que só serve para alguns se aliviarem. A questão não é saber quem tem culpa. Mas saber o que se pode fazer. E o que é feito disso que pode ser feito.
O Jaime vai chumbar. Justamente. Justamente? É claro que sim e é claro que não.
São estes os casos que me pesam como professor. E o pior é que eu tenho vários alunos como o Jaime. O insucesso deles é o meu insucesso.

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