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03 June 2006

 

Mas, porém, todavia, contudo...

Anda por aí um enorme burburinho sobre a escola portuguesa. E com razão. Porque os problemas são muitos e ninguém está satisfeito.
Contudo, há que ajustar os óculos de ver a escola e colocar as coisas no seu devido lugar.
A escola portuguesa não é, nem de longe, tão má como a pintam. Ou melhor, a escola portuguesa nunca foi melhor do que é hoje. Os professores portugueses nunca forma melhores do que são hoje. E os alunos portugueses nunca foram melhores do que são hoje.
Eu sei que estas afirmações não calham a jeito nos tempos que correm. Mas são verdadeiras. Só as afirmações contrárias têm audiência. Mas são falsas.
Corro risco de me repetir, mas digo-o.
Se a escola "antigamente" era tão boa como apregoam, onde estão essas excelências, que nos estudos sobre literacia só aparecem analfabetos práticos?
Se a escola era tão eficaz como defendem, donde vêm as taxas de qualificação miseráveis com que Portugal se apresenta hoje no mundo?
Se a escola era tão qualificada a formar os portugueses, como é que nos encontramos nesta impotência colectiva para garantir produtividade e qualidade, organização e eficácia, inovação e competitividade?
Se a escola portuguesa era uma escola de verdadeiros valores, donde veio este Portugal desarrumado e porco, assassino nas estradas e violento em casa, cheio de desrespeito pelos outros e faltado de autoconfiança, autoestima, autodisciplina, capacidade para enfrentar os problemas à ribatejana, isto é, pelos cornos?
Não me lixem. Só quem é cego, surdo e mudo é que pode dizer que a velha escola foi melhor do que é hoje a nova escola. Não andaram lá? Perguntem a quem lá andou. Mas não digam que vêm desta discussão envenenada.
Eu não tenho medo de dizer: os meus alunos, hoje, são melhores do que nós éramos no meu tempo; os professores dos meus alunos, hoje, são melhores do que eram os meus professores quando eu tinha a idade deles.
Cito: «Se se isolar o grupo dos 3% melhores alunos da actualidade, obtemos um grupo comparável ao que no tempo do liceu [1955/56?] acedia a estes cursos [ciências e engenharia].» Retirei a citação de Nuno Crato, que também a cita, mas sem comentar a sua informação. Apenas comenta, de fora: «Esta negação peremptória de sinais de crise é espantosa...» (p. 25).
Mas a verdade é outra. Há crise, sim, e há muito que o venho dizendo, a ponto de os professores quase me considerarem inimigo da classe. Há crise, mas não onde a apontam. E é por isso que, com base num erro de diagnóstico, dificilmente a solução trará melhoras.

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