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04 June 2006

 

A indignação

Ultimamente têm-me chegado, vivos, desafios de indignação. Como naquele abraço, apertado e quente, a recordar as coisas que havíamos conseguido. Fizemos o check-list dos reencontros: então como vão as coisas? E perguntou-me de imediato: - E que é que pensas disto tudo? Da ministra, percebi logo. Esperava labaredas da minha boca.
Mas eu não consigo indignar-me. Ia a escrever "já não consigo", mas não seria correcto.
Penso o que lhe disse. A ministra está a ocupar o espaço que lhe demos. Deixámos chegar as coisas a um ponto em que ela pode fazer o que quiser.
Não creio que ela consiga o que quer. Ela pode ter a opinião pública do lado dela, mas a opinião pública não dá aulas. E se ela quiser governar a escola com a opinião pública vai fazer dela aquilo que a opinião pública já fez da televisão. A opinião pública não vai além da miséria. Mas também não é possível governar contra a opinião pública.
Ora, nós deixámos, de muitas maneiras, que a opinião pública ficasse contra nós.
Nós esquecemo-nos que a grande maioria das pessoas tem uma dupla experiência da escola. A do seu tempo, e a dos filhos, netos, sobrinhos... que nos últimos anos têm andado na escola. As pessoas têm opinião.
E essa opinião não me parece que seja desfavorável à escola e aos professores. Mas é, sem dúvida, desfavorável a "certas coisas" da escola e a "certos professores" e à total impotência que sentem face a estas coisas. Digo isto pelo que tenho encontrado dentro e fora da escola.
Na minha escola, por exemplo. Somos mais de cem professores. Leccionamos as nossas aulas. E tenho a certeza de que o fazemos, no geral, com qualidade. Mas dentro daquilo que está, da matriz que nos é dada para funcionarmos.
E para lá disso? Nada ou quase nada. E estamos à espera de que estejam do nosso lado?
Todos temos ideias. Mas só existe o que fazemos E o que fazemos? Cada um faz, na sua sala. Mas os grandes problemas não se resolvem pela soma de trabalhos individuais. Disso não tenho dúvida, e os factos vêm-me confirmando.
A revolta estéril não me diz nada. Apenas faz sofrer. Uma colega acusava-me de, sem indignação, deixar as coisas na mesma. E com essa revolta toda já se fez alguma coisa mais do que mau ambiente e sofrimento a nós mesmos?
Só existe o que fazemos. E eu não vejo ninguém a querer fazer nada daquilo que sinto que é necessário fazer. Se fosse para fazer, ainda merecia apena mobilizar-me. Agora para sofrer?

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