.comment-link {margin-left:.6em;}

15 June 2006

 

Do método

Há muito que percebi que ninguém tem já paciência para ouvir, muito menos para ouvir exposições longas. E os jovens estão "viciados" numa linguagem audiovisual de sedução continuada através de um fluxo sempre renovado de estímulos. Deixei, por isso, há muito, de fazer exposições. As aulas de Filosofia não são para eu falar. São, sobretudo, para os alunos falarem. E para eu os obrigar a ir mais longe.
Começo, normalmente com um problema que os obrigue a procurar uma resposta. Ninguém quer respostas para problemas que não tem. Começo, por isso, pelo problema. E procuro induzir um percurso de resposta. A começar pelas respostas que eles mesmo dão de modo espontâneo. Daí partimos para níveis mais elaborados, normalmente através dos materiais que nos são fornecidos pelo manual. Ou ao contrário. Começo por uma afirmação do manual e digo "não percebo". Compete-lhes, então, explicar-me o que aquilo significa. Em qualquer dos casos, compete-me levantar obstáculos às suas respostas, para obrigá-los a descobrirem novas abordagens. E par exigir-lhes que pensem com mais rigor. Se a Filosofia é aprender a pensar, é sobre o pensar deles que se deve centrar o meu / nosso trabalho. As minhas aulas procuram ser uma oficina de pensamento. Também aqui, "não há caminho, o caminho faz-se caminhando" (ª Machado)
O importante, sempre, é o percurso que os alunos fazem. O importante, no fim, é a diferença entre o ponto de partida e o de chegada. Se não houver diferença, foi nulo o nosso trabalho.
Um outro aspecto tem a ver com os textos. A Filosofia pode ser dita como um género literário. E é pela escrita que os alunos prestam provas, nos testes durante o ano ou no exame final. Não há, penso eu, qualquer alternativa. Trata-se de desenvolver uma prática praticando-a, de treinar para uma prova praticando-a. Não é isso que se faz em todas as actividades? Pratica-se intensamente a prova que se vai disputar. Porque não há-de ser assim na escola? Porque reagem, então, os meus alunos? Talvez porque a escola não funcione assim, mas, nesse caso, com que lógica funciona?
Nisto sou como o José Mourinho. Treinar é fazer aquilo que se vai fazer. Pensar, argumentar, testar argumentos; pensar por escrito, escrever, construir textos.
Os meus alunos todos os anos gostam da discussão e reclamam contra a escrita, mas sempre no final "agradecem" o método e pedem que eu continue a fazer assim com os próximos. E eu dou-lhes razão.

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?