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06 March 2006

 

Uma correcção

Quando escrevi sobre a crise da Segurança Social e o problema das reformas, eu não queria dar a entender, se é que o fiz, que sou um iluminado e que há muito que percebi o que ninguém mais percebeu. Nem de longe.
É verdade que há pelo menos uma década vários economistas vêm a anunciar esta crise. Mas sempre se ouvia responder que aquelas eram vozes ao serviço do grupo das seguradoras, que queriam fazer negócio. Ao longo deste tempo, eu nunca tive oportunidade de dirimir esta questão. Eu sei, de longa data, porque aprendi, que as vozes que se fazem ouvir representam sempre algum interesse. Percebi claramente que havia interesses evidentes das seguradoras e que havia interesses dos beneficiários da Segurança Social. Nunca, porém, as coisas foram discutidas de forma a eu saber se a ameaça anunciada era real ou apenas propaganda.
Até muito recentemente. Talvez, não sei já bem, durante o Governo de Durão Barroso e depois, na última campanha eleitoral. Este tempo próximo foi o momento em que o país (e eu com ele) ficou seguro de que o problema era real e não apenas marketing.
Mas tudo isto foi acompanhado por dois fenómenos. Um, que eu já enunciei noutra entrada, os abusos que todos nós fomos constatando, e com eles pactuando, como se o saco do dinheiro fosse inesgotável. Vemos agora que não é.
O outro, para mim mais decisivo, foi o conhecimento de experiências interessantes. Raras, mas significativas. De tempos a tempos, eu ia tendo conhecimento de que uma empresa, sobretudo no Japão, mas não só, em vez de despedir trabalhadores tinha criado uma outra empresa em que esses trabalhadores puderam continuar activos. E sempre me admirei de nunca ouvir falar nesse tipo de solução. Imagino os milhões de contos que foram despendidos em rescisões amigáveis, que podiam ter sido investidos e assim contribuirem para mais um tijolo na economia e menos um buraco na Segurança Social. Mas porque é que nuca se falou disso? Porque nunca foi ao menos uma reivindicação?
Eu percebo porquê. Mas isso não anula que a teta da vaca esteja agora a secar.
Eu também não concordo nada que me estejam a roubar uma reforma que seria dentro de três anos e a troquem por outra para daqui a uns 12 anos, quando eu certamente já cá não estarei.
Mas "não concordo" é uma expressão tola. Porque o problema, pelos vistos, não é da ordem do "concordas ou não concordas", mas do tipo "agora até 2.015 ou mais tarde e talvez para sempre". Ora um problema mal colocado não tem solução. Ou só pode ter uma falsa solução.
Se tivéssemos discutido o problema a tempo, teríamos certamente evitado a crise hoje. Como evitámos a discussão, temos a crise hoje. Aliás, é quase sempre assim.

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