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06 March 2006

 

Angelina - 4

Continuo sem saber o que se pode e deve fazer à Angelina. Mas isso não me preocupa. Porque a Angelina é um caso extremo e não me passará pelas mãos, ao que dizem. Pelo menos por enquanto.
O que me preocupa... é a Adelaide e o José Miguel.
A Adelaide anda no 11º ano e é minha aluna. Tem uma vontade enorme de ter positiva e trabalha que se farta, mas nunca conseguirá ter uma resultado que se aproxime de uma positiva real. E não é deficiente, nem estúpida, nem... Apenas chegou ao 11º ano neste estado. E eu não sei o que hei-de fazer(-lhe).
O José Miguel não é parvo nenhum. Talvez por isso, já percebeu que não vai conseguir o que queria. Ele até gostava, mas já viu por experiência própria que, mesmo que estude, o resultado não compensa. Por isso desistiu. Vive de estratagemas. A ver se consegue aquilo que de outro modo nunca conseguirá. E eu não sei o que hei-de fazer(-lhe).
Mas também me preocupam os casos do Júlio e da Fernanda.
O Júlio não vive neste mundo. Anda na escola porque nem sequer lhe é possível não andar. Mas aquilo que se passa na escola não lhe diz nada, não lhe interessa, não percebe o que anda ali a fazer. É claro que não estuda, mas porque haveria de fazê-lo?
A Fernanda sabe muito bem o que quer, perdão, o que queria fazer: trabalhar com crianças. Mas já sabe que nunca conseguirá ir para um curso que lhe permita realizar o seu sonho. Anda na escola a ver morrer as suas esperanças e a ver as colegas a terem notas que lhes permitirão ir para o curso que querem tirar. Que anda a Fernanda ali a fazer?
E eu tenho um programa a cumprir. E notas para dar. E um diploma com credibilidade a perguntar-me se pode ou não ser dado à Fernanda, ao Júlio, à Adelaide e ao José Miguel. (Nomes supostos, é claro, casos-tipo.)
A Angelina, se bem percebi, foi para o CRIA e o problema foi disfarçado. Nos casos acima não houve qualquer disfarce. Há apenas uma reclamação: ponham-nos na rua, que não andam lá a fazer nada.
Ou será que é a escola que não anda a fazer-lhes nada?
Para cerca de metade dos nossos alunos, crianças e jovens, a escola é sobretudo uma instituição de tortura. E ninguém a denuncia à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco... porque é uma tortura autorizada e legitimada publicamente.
E nisto ninguém é inocente. Nem eu.

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