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15 November 2005

 

Rosa Parks

Quem foi Rosa Parks? Ninguém.
Quem foi Rosa Parks, cujo corpo esteve em câmara ardente no Capitólio? Aí foi a primeira mulher, o segundo negro, num lugar reservado a pessoas tão importantes que apenas lá estiveram o corpo de uns 30 cidadãos americanos. Quem foi, então, Rosa Parks? Apenas uma costureira negra americana, que morreu com 92 anos.
Quem foi Rosa Parks que, anos antes, recebeu das mãos do Presidente a mais alta condecoração da América? Ninguém, apenas uma costureira negra, activista dos direitos humanos, que um dia, há 50 anos, portanto em 1955 (1 de Dezembro), se recusou a levantar-se no autocarro para, de acordo com a lei, dar o lugar a um branco que lhe exigia que o desse.
Ninguém, ou uma mulher comum, num dia comum, num lugar qualquer da América fez o gesto imprevisível, porque ilegal, de recusar aquilo que de direito lhe exigiam. Recusou, foi presa, pagou a respectiva multa e, quando saíu, não conseguiu emprego: teve que se mudar para outro Estado.
Foi um pequeno grande gesto. Só que o terreno estava propício. O seu gesto e a sua prisão motivaram a indignação dos negros que fizeram um boicote à empresa de camionagem durante 381 dias. O seu gesto e a indignação que se gerou fizeram sobressair um jovem pastor protestante que - em boa hora - liderou o movimento: Martin Luther King.
Aquele simples gesto, aquela indignação tornada acto, mais a onda de choque que provocou, levaram à publicação de uma série muito significativa de legislação que deu aos negros, e a muitos outros, um novo lugar de direito na sociedade americana. Por isso ela é conhecida como «a mãe dos direitos cívicos».

Em qualquer lugar é esperado um gesto importante que mude as coisas. Em qualquer lugar pode ser feito um gesto para mudar as coisas. Em qualquer lugar se decide entre a mudança ou a permanência das coisas.
É verdade que um gesto, por si mesmo, não faz muito. Está dependente do estado do sistema. Mas o estado do sistema resulta daquilo que cada um dos outros elementos do sistema fazem: se actuarem no sentido da mudança, o sistema está pronto a mudar; se agirem no reforço do que está, o sistema está pronto a resistir. Ninguém está fora, não há ninguém inocente. Todos somos parte activa, mesmo quando somos passivos.

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