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13 November 2005

 

Inumano

Eu explico-me (se for capaz).
Incomoda-me quando alguém me acusa de ser do PS (ou de outra "coisa" qualquer) para desvalorizar ou ocultar os meus argumentos. Por quatro razões:
1 – Porque, ao recusar enfrentar aquilo que digo, recusa a posição de pessoa capaz de argumentar, de entender e responder aos meus argumentos. Atenta contra a sua própria dignidade e diminui a sua humanidade. E eu, se alguma coisa tenho feito, é lutar para que haja mais humanidade, isto é, para que as pessoas e as situações concretas sejam mais humanas. Donde, incomoda-me quando as coisas vão no sentido contrário.
2 – Ao tentar esconder e anular aquilo que digo, essa pessoa recusa aos nossos leitores o lugar de pessoa humana, capaz de pensar por si, de avaliar os argumentos em presença e concluir com lucidez. Alguém que recusa ao outro o lugar de humano inteligente só pode estar a atentar contra a dignidade deste. E a fazer perigar a sua radical condição de pessoa entre pessoas. E isso não pode deixar de me incomodar.
3 – E está a recusar a minha própria dignidade. Recusa-me o direito a expressar um ponto de vista e a que ele seja ouvido por aquilo que diz. Recusa-me a participação no processo de intercâmbio de opiniões e argumentos, que é aquilo que faz humanos os homens e as mulheres concretos. Como posso não me incomodar?
4 – Se se rebaixa a si mesmo, se rebaixa os potenciais leitores e me rebaixa a mim, recusando a todos e cada um o estatuto humano que nos constitui, alguém que faz isso reduz a nossa comunidade a um colectivo de estúpidos, de rebanho que obedece à voz do dono, de servos da plebe a quem apenas cabe curvar-se perante o seu senhor. Temos, por isso, obrigação de reagir, de resistir a esta estupidificação e coisificação activa. Temos de salvaguardar o melhor de nós, a condição humana que é a raíz de tudo o mais.
E essas são também as razões pelas quais não devemos pactuar com a mentira pública, aquela que nos quer levar pela ignorância, pela cegueira provocada, pela arregimentação através do ruído. Venha ela donde vier. Mesmo que seja da minha parte.
Se não resistimos ao inumano, de que somos feitos?
É que o humano não é uma condição metafísica, garantida, mas um equilíbrio instável que, se não é defendido, é destruído.

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