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15 November 2005

 

D. Lorena

A minha educação começou 20 anos antes de eu nascer. (Como a de toda agente.)
O meu avô Eduardo, um pequeno merceeiro no bairro operário de Alcântara morreu cedo, deixando a minha mãe órfã com 9 anos. A minha avó Rosária era doméstica e analfabeta, e ficou sozinha com duas filhas.
Como sobreviveram as três e como foi educada a minha mãe?
Anos antes, uma cautela da lotaria tinha dado a sorte ao meu avô, que com ela comprou um pequeno prédio que as iria sustentar as três na sua ausência. A minha mãe teve de deixar a escola, onde só andara dois anos, na primeira e na terceira classe (era possível, então), mas quis a sorte que encontrasse na D. Lorena e no seu marido, médico, quem soube dar-lhe o sentido da curiosidade cultural, da atenção às coisas da cultura, do gosto pelos livros.
Hoje, aquilo que eu sou devo-o, em grande parte a estas duas sortes: a da lotaria e a deste casal que são os meus avós em termos culturais. Sem desprezar a minha herança cultural a partir dos meus avós biológicos, de origem rural no concelho de Mação.
De que posso eu gabar-me, no que sou, se aquilo que sou o devo muito a outros e não tanto a mim? Se não fossem aquelas duas circunstâncias, tão longe da minha decisão, que seria eu hoje?

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