18 September 2005
A dissolução, a operacionalidade
Há quem me acuse de dissolver a responsabilidade e há quem me acuse de fazer análises que não são operatórias.
Ao contrário de outros. Que concentram a responsabilidade num só e que sobre a concentração podem fazer propostas simples e operatórias. Por exemplo, Bush foi o responsável pela má resposta em Nova Orleães, demita-se Bush e vote-se nos democratas. É um exemplo lá longe, em vez de inúmeros entre nós. Só que... as coisas não são assim.
Grande parte do nosso pensamento social e político é herdeiro da mecânica clássica e das matrizes clássicas de pensamento forjadas nessa ciência... já ultrapassada, porque se reconheceu que descreve apenas uma pequena parte da realidade. E que só vale quando aplicada a essa pequena parte. (Ultrapassada não significa, portanto, invalidada, mas superada.)
A realidade não é como a mecânica clássica a descreve. A realidade social não é como esse pensamento ingénuo a imagina.
Por isso, quando eu procuro descrever a realidade social de outro modo, a partir de uma modelo, mais actual, é compreensível que as minhas análises pareçam estranhas. Outra coisa não seria de esperar. Sempre assim foi.
Mas não é verdade que eu dissolva a responsabilidade. Bem pelo contrário, eu mantenho-a inteira em cada um dos pontos do sistema social. São os outros que a dissolvem e anulam na generalidade dos pontos do sistema, para depois a descarregarem toda onde ela não se pode alojar. Podem, então, ser muito operacionais, mas nunca poderão ter os efeitos que esperam, pois trabalham com o mapa de uma realidade que não existe.
Um exemplo simples e acessível. Enquanto pensarmos que o problema ecológico em Portugal está nas mãos do Primeiro Ministro ou do Ministro do Ambiente, ou no concelho, nas mãos do Presidente da Câmara ou do Vereador do Ambiente, não há solução possível, por melhor que eles façam o seu trabalho. Apenas e só quando cada um dos governantes nacionais e locais e dos industriais e dos comerciantes e dos consumidores... e dos professores e dos jornalistas... assumir a sua responsabilidade e fizer o seu trabalho é que haverá resultados significativos.
Por isso, uma boa estratégia, que seja operatória de facto, não se pode concentrar apenas num dos lugares do sistema. Isto é elementar e já se percebeu há muito. Mas continua a ser muito pouco praticado. Os militares sabem isto há séculos. A gestão empresarial já o compreendeu há muito. Quanto ao resto...
P.S. – Não confundir com outra lógica assassina: "Eu faço se todos também fizerem". O uso dessa expressão em causas sérias devia ser penalizado como crime público. O que eu digo vai justamente contra este tipo de não-pensamento e de anti-acção.
Ao contrário de outros. Que concentram a responsabilidade num só e que sobre a concentração podem fazer propostas simples e operatórias. Por exemplo, Bush foi o responsável pela má resposta em Nova Orleães, demita-se Bush e vote-se nos democratas. É um exemplo lá longe, em vez de inúmeros entre nós. Só que... as coisas não são assim.
Grande parte do nosso pensamento social e político é herdeiro da mecânica clássica e das matrizes clássicas de pensamento forjadas nessa ciência... já ultrapassada, porque se reconheceu que descreve apenas uma pequena parte da realidade. E que só vale quando aplicada a essa pequena parte. (Ultrapassada não significa, portanto, invalidada, mas superada.)
A realidade não é como a mecânica clássica a descreve. A realidade social não é como esse pensamento ingénuo a imagina.
Por isso, quando eu procuro descrever a realidade social de outro modo, a partir de uma modelo, mais actual, é compreensível que as minhas análises pareçam estranhas. Outra coisa não seria de esperar. Sempre assim foi.
Mas não é verdade que eu dissolva a responsabilidade. Bem pelo contrário, eu mantenho-a inteira em cada um dos pontos do sistema social. São os outros que a dissolvem e anulam na generalidade dos pontos do sistema, para depois a descarregarem toda onde ela não se pode alojar. Podem, então, ser muito operacionais, mas nunca poderão ter os efeitos que esperam, pois trabalham com o mapa de uma realidade que não existe.
Um exemplo simples e acessível. Enquanto pensarmos que o problema ecológico em Portugal está nas mãos do Primeiro Ministro ou do Ministro do Ambiente, ou no concelho, nas mãos do Presidente da Câmara ou do Vereador do Ambiente, não há solução possível, por melhor que eles façam o seu trabalho. Apenas e só quando cada um dos governantes nacionais e locais e dos industriais e dos comerciantes e dos consumidores... e dos professores e dos jornalistas... assumir a sua responsabilidade e fizer o seu trabalho é que haverá resultados significativos.
Por isso, uma boa estratégia, que seja operatória de facto, não se pode concentrar apenas num dos lugares do sistema. Isto é elementar e já se percebeu há muito. Mas continua a ser muito pouco praticado. Os militares sabem isto há séculos. A gestão empresarial já o compreendeu há muito. Quanto ao resto...
P.S. – Não confundir com outra lógica assassina: "Eu faço se todos também fizerem". O uso dessa expressão em causas sérias devia ser penalizado como crime público. O que eu digo vai justamente contra este tipo de não-pensamento e de anti-acção.