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18 September 2005

 

De regresso às aulas

Primeiro dia. Tive uma turma nova, 11º B, 22 alunos, dos quais 3 já forma meus alunos no 10º ano. Que pensam os alunos sobre o professor no primeiro dia? Duma coisa estou certo, estudam-no. Para saberem o que os espera e para estudarem até onde podem ir. A primeira aula é decisiva, sei-o muito bem.
Apresentámo-nos e gostei muito que, logo uma das primeiras alunas a apresentar-se me tenha dito "... e não gosto de Filosofia". É óptimo quando as pessoas podem dizer aquilo que sentem. Que tenham coragem para dizê-lo e que isso não lhes acarrete qualquer prejuízo. Os outros sentiram-se à vontade para dizerem o mesmo ou diferente. Pelo menos disseram-no.
Eu, pela minha parte, aproveitei para definir algumas regras que eu penso que devem ser sagradas na relação que vamos manter ao longo do ano.
Primeira regra. Direito à asneira. Não como palavrão ordinário, mas apenas a expressão de que está a aprender não deve ser obrigado a mostrar que sabe tudo. Aliás, no tempo de aprender, é mais importante a resposta errada que a certa – porque a errada permite a sua correcção. Já no tempo de avaliação é diferente: se possível, que não haja respostas erradas. Mas também aí... errar é humano.
Este direito à asneira implica duas consequências. Eu reconhecer-me o direito a errar, eu não Ter medo de errar. Se errar... corrige-se, que é para isso que cá estamos. E é a errar que se aprende, embora a escola não saiba. Além disso, cada um de nós tem de reconhecer aos outros o direito a errarem. Sem ser penalizado por risos castigadores. Se tiver piada, rimo-nos da piada, e não da pessoa, muito menos contra a pessoa.
Segunda regra. A sala de aula é uma lugar de trabalho. Uma oficina. "Os vossos pais não me pagam para eu vos fazer festas", disse-lhes. Pagam-me para que saiam daqui mais capazes para a vida. "Não se criam competências só com ternura", afirmei. E a medida do resultado do nosso trabalho está na diferença entre aquilo que cada um é hoje e o que será no último dia. Essa diferença é que é o importante.
Terceira regra. Não vamos estudar o livro. (Algumas caras de surpresa.) Vamos, sim, estudar pelo livro, que é uma coisa diferente. O livro é instrumento. O que vamos estudar é a Vida. A vida que vivemos e a que viveremos ao longo dos anos. E estudar a vida para vivê-la melhor.
"E, se me permitem, o grande objectivo da vida é só um: ser feliz hoje e em cada um dos dias da vida e, no momento final, sentir que valeu a pena e se salvou a vida vivida." É isso mesmo que eu penso e que costumo dizer aos meus alunos. E sinto que é um objectivo que eles reconhecem como seu. Ser feliz hoje e amanhã e depois de amanhã. Por isso, não vale matar o dia de hoje para ser feliz amanhã. Nem ser feliz hoje à custa dos dias de amanhã e depois de amanhã.
Por isso, à despedida, disse-lhe, como costumo dizer: Sejam felizes, que o dia de hoje e o próximo fim-de-semana não volta.
Senti que saímos amigos. Oxalá, que é a melhor cama para se deitarem os dias difíceis que também teremos.

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