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18 September 2005

 

Da importância e das oportunidades

Mas, afinal, porque falo eu do meu lugar na nossa história local?
Digamos, para começar e para acabar com essa discussão, que foi por vaidade. Pelo menos, procuro ter orgulho naquilo que faço bem, embora não soberba, que é coisa bem diferente. Não sou nada de me diminuir. O compromisso com a verdade passa também por aí. Estamos quites?
Mas há duas outras razões. As principais, digo eu. Que vêm na linha daquilo que eu há muito defendo. Assim:

os lugares decisivos não estão apenas no topo mas em todos os lugares do corpo social
e ainda
aquilo que cada um de nós é e vale depende das "oportunidades" que lhe foram dadas.

Ou seja. O meu lugar nesta nossa comunidade, repito-o, tem sido importante. Mas nunca alguém me ouviu dizer que sou excepcional. Não, há muitos outros, em todos os escalões desta nossa sociedade local, que têm assumido comportamentos decisivos. Eu até costumo utilizar a expressão "importantíssima pessoa pouco importante". Mais: eu sei que não é possível construir uma sociedade só a partir do topo. Os "de cima" nunca têm aquele poder que por vezes se pensa que têm. A qualidade de um país ou de um concelho e de uma escola ou empresa está dependente daquilo que são e fazem cada um dos pontos do sistema complexo que cada um deles é. Por isso, quando eu digo da importância que tenho tido estou sobretudo a dizer a importância que cada um de nós deve ter – e tem sempre – para os níveis de qualidade com que vivemos. Nas minhas actividades de jornalismo tenho procurado realçar alguns desses casos, menos visíveis do que as personagens que ocupam os lugares de topo. E esse é um erro, um logro, em que nos induz o nosso sistema de comunicação e informação.
Mas há uma segunda mensagem. Eu sou sobretudo o produto do que fizeram de mim. É certo que tenho margem de autonomia e decisão, mas ela só ocorre dentro daquilo que já sou. Ou seja, é só naquilo que sou e a partir do que sou que posso decidir. O que tenho sido na comunicação social abrantina devo-o ao meu pai e ao meu professor de Português, mas também às oportunidades que me foram criadas. É verdade que tomei a iniciativa de escrever para os jornais de Abrantes e que fui continuando a escrever. Mas esse não foi – nunca é – um passo original. Há pessoas que falam em génios que arrancam do nada. Não discuto isso, aqui, concedo que sim. Mas nem eu nem a maioria de nós somos génios. Somos pessoas normais. E é assim que as coisas se passam com as pessoas normais.
A conclusão é simples. Nada substitui o cuidado que devemos ter em criar oportunidades que abram possibilidades às pessoas. Também há muito que o digo. Há muito, igualmente, que insisto que é pobre, neste domínio, esta nossa comunidade local. A forma como vivemos puxa mais para baixo que para cima. Como havemos, então, de subir colectivamente?

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