12 September 2005
Até onde
Uma pessoa vale (em muito) aquilo que os outros acreditam nela.
Conta-se que uma família foi forçada a sair de sua casa quando tropas inimigas invadiram a localidade onde viviam. Para fugir aos horrores da guerra, perceberam que sua única chance seria atravessar as montanhas que circundavam a cidade.
Se conseguissem êxito na escalada, alcançariam o país vizinho e estariam a salvo. A família compunha-se de umas dez pessoas, de diversas idades. Reuniram-se e planejaram os detalhes: a saída de casa, que alimento levariam, por onde tentariam a difícil travessia, etc.
O problema era o avô. Com muitos anos aos ombros, ele não estava muito bem. A viagem seria dura.
- "Deixem-me", falou ele. - "Serei um empecilho para o êxito de vocês. Somente atrapalharei. Afinal, os soldados não irão se importar com um homem velho como eu".
Entretanto, os filhos insistiram para que ele fosse. Chegaram a afirmar que se ele não fosse, eles também ali permaneceriam. E, vencido pelas argumentações, o idoso cedeu.
A família partiu em direção à cadeia de montanhas. A caminhada era feita em silêncio. Todo esforço desnecessário deveria ser poupado. Como entre eles havia uma menina de apenas um ano, combinaram que, a fim de que ninguém ficasse exausto, ela seria carregada por todos os componentes da família, em sistema de revezamento.
Depois de várias horas de subida difícil, o avô se sentou em uma rocha. Deixou pender a cabeça e quase em desespero, suplicou: - "Deixem-me para trás. Não vou conseguir. Continuem sozinhos".
- "De forma alguma o deixaremos. Você tem de conseguir. Vai conseguir", falou com entusiasmo o filho.
- "Não", insistiu o avô, "por favor, deixem-me aqui".
O filho não se deu por vencido. Aproximou-se do pai e enérgicamente lhe disse: - "Vamos, pai. Precisamos do senhor. É a sua vez de carregar o bebê."
O homem levantou o rosto. Viu as fisionomias cansadas de todos. Olhou para o bebê enrolado em um cobertor, no colo do seu neto de treze anos. O garoto era tão magrinho e parecia estar realizando um esforço sobre-humano para segurar o pesado fardo.
O avô se levantou. - "Claro", falou, "é a minha vez. Passem-me o bebê". Ajeitou a menina no colo. Olhou para o seu rostinho inocente e sentiu uma força renovada. Um enorme desejo de ver sua família a salvo, numa terra neutra, em que a guerra seria somente uma memória distante tomou conta dele.
- "Vamos", disse, com determinação. - "Já estou bem. Só precisava descansar um pouco. Vamos andando".
O grupo prosseguiu, com o avô carregando a netinha. Naquela noite, todos da família conseguiram cruzar a fronteira a salvo.
Esta história chegou-me através da minha amiga Cristina Castilho, de Jundiaí (S. Paulo, Brasil)
Conta-se que uma família foi forçada a sair de sua casa quando tropas inimigas invadiram a localidade onde viviam. Para fugir aos horrores da guerra, perceberam que sua única chance seria atravessar as montanhas que circundavam a cidade.
Se conseguissem êxito na escalada, alcançariam o país vizinho e estariam a salvo. A família compunha-se de umas dez pessoas, de diversas idades. Reuniram-se e planejaram os detalhes: a saída de casa, que alimento levariam, por onde tentariam a difícil travessia, etc.
O problema era o avô. Com muitos anos aos ombros, ele não estava muito bem. A viagem seria dura.
- "Deixem-me", falou ele. - "Serei um empecilho para o êxito de vocês. Somente atrapalharei. Afinal, os soldados não irão se importar com um homem velho como eu".
Entretanto, os filhos insistiram para que ele fosse. Chegaram a afirmar que se ele não fosse, eles também ali permaneceriam. E, vencido pelas argumentações, o idoso cedeu.
A família partiu em direção à cadeia de montanhas. A caminhada era feita em silêncio. Todo esforço desnecessário deveria ser poupado. Como entre eles havia uma menina de apenas um ano, combinaram que, a fim de que ninguém ficasse exausto, ela seria carregada por todos os componentes da família, em sistema de revezamento.
Depois de várias horas de subida difícil, o avô se sentou em uma rocha. Deixou pender a cabeça e quase em desespero, suplicou: - "Deixem-me para trás. Não vou conseguir. Continuem sozinhos".
- "De forma alguma o deixaremos. Você tem de conseguir. Vai conseguir", falou com entusiasmo o filho.
- "Não", insistiu o avô, "por favor, deixem-me aqui".
O filho não se deu por vencido. Aproximou-se do pai e enérgicamente lhe disse: - "Vamos, pai. Precisamos do senhor. É a sua vez de carregar o bebê."
O homem levantou o rosto. Viu as fisionomias cansadas de todos. Olhou para o bebê enrolado em um cobertor, no colo do seu neto de treze anos. O garoto era tão magrinho e parecia estar realizando um esforço sobre-humano para segurar o pesado fardo.
O avô se levantou. - "Claro", falou, "é a minha vez. Passem-me o bebê". Ajeitou a menina no colo. Olhou para o seu rostinho inocente e sentiu uma força renovada. Um enorme desejo de ver sua família a salvo, numa terra neutra, em que a guerra seria somente uma memória distante tomou conta dele.
- "Vamos", disse, com determinação. - "Já estou bem. Só precisava descansar um pouco. Vamos andando".
O grupo prosseguiu, com o avô carregando a netinha. Naquela noite, todos da família conseguiram cruzar a fronteira a salvo.
Esta história chegou-me através da minha amiga Cristina Castilho, de Jundiaí (S. Paulo, Brasil)