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21 August 2005

 

Os incêndios, o logro

É triste chegar a Abrantes e encontrar este espectáculo de churrasco colectivo. Churrasco porque é, sem dúvida, muito de nós que está a arder. E a arder em vários sentidos. Desde logo, o mais visível, a arder a floresta e, com ela, as nossas condições de vida. Depois, a ardermos nós próprios, consumidos no logro em que nos afundamos.
Não é verdade que, desde há vários anos, os nossos bombeiros estão melhor equipados do que nunca? E que, quanto melhor equipados se encontram, menos controle têm sobre os fogos? Portanto, não é aí que está o nó górdio do problema.
Ah, sim, o estado das florestas, pior do que nunca. Mas não é verdade que o estado das florestas tem sobretudo a ver com a propagação dos incêndios e não, em muito, com a sua origem? Quem acredita que é o estado da floresta que origina um incêndio de múltiplas frentes às cinco da manhã? Não, também não é aí que está o núcleo do problema. Embora a falta de limpeza e ordenamento da floresta façam parte do próprio problema. Mas fazer parte não é o mesmo que confundir-se com.
Então... Bem, acontece que não temos sequer uma boa explicação para o que está a passar-se. E uma boa explicação nem sequer pode ser simples, porque se trata de um problema complexo. E a maior verdade é que queremos explicações simples. Que não há nem pode haver. Por isso nos consumimos.
E consumimo-nos na medida em que queremos a explicação que não é possível e não queremos aquela que pode explicar. Por isso, nem vale a pena tentar. Preferimos arder.

P.S. – Faz parte do triste espectáculo humano destes incêndios a população local a assistir, de braços cruzados, ao início de um incêndio. Esperam os bombeiros que só poderão chegar quando já nada houver a fazer, senão controlar alguns estragos. Foi agora, como foi em 2003. Não aprendemos nada. Nem queremos aprender. E, por isso mesmo, nem vale a pena querer ensinar.

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