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05 April 2005

 

Nem só de política partidária

Retorno ao facto de eu nunca ter sido verdadeiramente candidato a qualquer cargo político e à questão da dignidade e importância do trabalho exercido em cargos que não são político-administrativos.
Com efeito, continua a haver um enorme menosprezo por todo o trabalho social e político (político, porque também aí se constroi a polis), como se só os partidos fossem importantes e só os cargos de eleição ou nomeação político-partidária fossem serviço público.
Antes de mais, nunca percebi que houvesse falta de "interessados" para ocupar esses lugares e também nunca me vi dotado de virtudes raras que não se possam encontrar em muitos outros.
Pelo contrário, vejo com nitidez que muitas vezes há falta de pessoas disponíveis para aquilo que venho fazendo ao longo dos anos. E sei, de ciência segura, que sem multiplicar por muitos a acção da dita sociedade civil, viveremos o que eu chamo de osteoporose social e política, que não tem terapêutica possível nos lugares da Administração.
E olhando para estas várias décadas que por aqui levo de activo, sei, também de ciência segura, que tenho produzido alguns efeitos positivos. Não é possível ignorar o meu nome ao escrever, por exemplo, a história da comunicação social em Abrantes desde o 25 de Abril, ou a história da educação, ou da formação de professores, ou do teatro, ou das artes plásticas, ou do folclore, ou do associativismo, ou das bibliotecas e da leitura, ou da literatura, ou da poesia popular, ou da história local, ou da defesa do património, ou da cultura em sentido lato, ou da política em sentido estrito, ou do pensamento filosófico, ou do pensamento religioso, ou da análise sociológica, ou do estatuto do homem e da mulher, ou da abertura ao estrangeiro, ou... sei lá que mais. E digo-o com a segurança de que sei ser verdade, mas também com a certeza de que nada fiz sozinho e em nenhum destes domínios deixei uma obra decisiva. Mas sei que o meu contributo, tal como o de muitos outros, tem sido importante para que as coisas tenham sido como são, com todas as naturais responsabilidades.Não estou a vangloriar-me de nada, porque há muitas outras pessoas, infelizmente sempre poucas, que podem dizer o mesmo. Algumas têm uma acção mais concentrada num só sector, mas isso em nada lhes retira o mérito, antes opode até reforçar.O que eu quero dizer, como muitas vezes já o disse, é que esse trabalho é fundamental, imprescindível, insubstituível. Apesar de o pensamento dominante ir em sentido contrário.Devíamos, por isso, dignificar mais e dar mais condições a esse tipo de trabalho. Como o fazem os países desenvolvidos com os quais não deixamos de querer parecer-nos. Mas só nos benefícios. Como se houvesse colheita sem sementeira.
Sim, nem só de política partidária vive uma sociedade e se alimenta o desenvolvimento.

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