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18 April 2005

 

José Gil e outros

Anda o país assarapantado com o mistério que é o êxito inesperado e inexplicável do livro de José Gil "Portugal, hoje: o medo de existir", que já vai na 7ª edição com um total de 38.000 exemplares e uma 8ª edição já no forno. E tecem-se as hipóteses explicativas: o gosto de auto-flagelação dos portugueses, o ver ali ditas as coisas que as pessoas gostariam de dizer mas que não têm coragem, as linhas de interpretação que ali descobrem para o que não se dava a entender, etc. E tudo isso é, certamente, verdade. Mas creio que não explica tudo.Lembremo-nos que José Gil foi dito em Portugal como «um dos 25 maiores pensadores vivos, segundo um jornal francês». A partir daí, José Gil passou a... a... a... a alguém que sem dúvida é importante e temos de ler.
Acontece que há nisto um grande equívoco. José Gil não foi, nem de perto, dito como «um dos 25» maiores pensadores. Mas lá que ganhou o título... Basta ler a comunicação social portuguesa. O que aconteceu foi que o "Le Nouvel Observateur", quando fez 40 anos, decidiu publicar um número especial sobre «25 grandes pensadores» de 25 países diferentes, mas não da França. Um por país. O português escolhido foi José Gil. Este foi um dos 25 escolhidos, mas dentro deste "jogo" de celebração. Se fossem "os maiores", os franceses tinham lá colocado pelo menos 5 dos seus.
Mas Portugal logo elevou José Gil a um dos 25 maiores "canonizados" lá fora e, a partir dessa santificação, passou a prestar-lhe as necessárias homenagens, que são sempre uma forma de os devotos se santificarem a si próprios.
Antes disso, quem tinha lido o Portugal de José Gil? Os mesmos poucos de sempre, talvez. Mas a partir daí, o fenómeno atraíu e atrai multidões. É o que sempre acontece e, por isso, não devia surpreender ninguém. O que é nosso pouco vale - a não ser que outros, de fora, lhe reconheçam valor. São os outros que olham pelos nossos olhos, porque nós vemos pelos olhos deles.
À nossa volta, a quem sabemos nós reconhecer valor? Quem permitimos nós que se eleve sem lhe atirarmos pedras? Quem estamos dispostos a levar mais longe e mais alto porque lhe reconhecemos valor? Quem é venerado pelas nossas instituições? Se repararmos à nossa volta...

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