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31 December 2007

 
Saborear e Lutar
Não é boa política perder de vista o bom daquilo que temos. Embora também não seja boa política desistir de melhorar a nossa vida e, sobretudo, de melhorar a vida daqueles que a têm ainda de qualidade inferior.
Não podemos, porque é um erro elementar, estragar o que temos, nem desistir daquilo que queremos.
Por isso, neste fim de ano e início do próximo, creio que o voto pode – e deve – ser:
Saborear o que temos e lutar pelo que queremos.
Assim será bem melhor o ano de 2008.

 
Insulto
Creio que somos ofensivos com a nossa vocação de carpideiras a tempo inteiro. Choramo-nos por tudo e por mais alguma coisa.
Não creio que os mais velhos nos possam achar dignos, eles que comeram o pão que o diabo amassou para eles.
A minha sogra conta muitas vezes episódios da sua vida que nos deviam fazer corar de vergonha. Recordo agora um deles, de memória.
- Andávamos a trabalhar de sol a sol. Enregávamos ao sol nado e largávamos depois do sol se pôr. Tínhamos de abalar de casa ainda de noite para já lá estarmos quando o sol nascesse. E à noite era o mesmo. Chegávamos a casa já noite escura. Uma vez, era já quase sol posto, a Larina Perrica fez uma quadra:
Já lá vai o sol a pôr-se
Por detrás do cabecito.
P’la vontade do patrão
Prendia-o com um baracito
.

O que tu foste dizer!... O patrão ouviu e gritou-lhe logo:
- Ah, seu coirão, ponha-se já na estrada.
Foi logo despedida.
Não resisto a contar outro episódio também da mesma origem.
- Tinha caído uma grande trovoada e a Ribeira do casal levava uma corrente que nos dava por meio da perna acima do joelho. O nosso manajeiro foi buscar um carro de bois para passar os homens, mas a nós, às mulheres, obrigou-nos a passar pelo nosso pé, que era para nós termos de levantar as saias e eles verem-nos as pernas. Mas eu passei sem as levantar, apoiando-me na enxada que levava, para a água não me levar. (O que significa que andou todo o tempo com a saia encharcada até à cintura.)
Ainda outra, da mesma fonte.
- Tínhamos vindo apanhar azeitona aqui para o pé da ponte (junto ao Aquapolis Norte) e estava um frio de rachar. Mal começámos a trabalhar, ficámos logo com as mão geladas, que nem conseguíamos mexer os dedos. Uma de nós (ela diz o nome, mas eu não o recordo) que tinha trazidos uns poucos de fósforos, juntou uns paus e quis acender uma fogueira. Mas com a orvalhada, gastou os fósforos todos e fogueira, nada. Uma outra, desesperada, deu um pontapé nos paus: - Mas como é que nós aguentamos isto?
Como não havia outra solução, puseram-se ao sol com as mãos no colo, a aquecer.
Ou ainda.
Quando ela era ainda criança, a mãe levava-a para a ribeira, onde ia lavar. Passado pouco, a mãe já tinha as mãos tão frias que não aguentava. Então, chamava-a: - Ó filha, põe aqui a cabeça no colo da mãe que é para eu aquecer as mãos.
Quando hoje choramos o refrão do “isto está mau”, não estamos a fazer menos do que insultar os mais velhos e as suas memórias. Como é que eles nos podem levar a sério?

30 December 2007

 
Pragmatismo
Reencontrámo-nos. E voltámos a recordar aquele momento, como direi?... patético. Era o velório de um familiar e estávamos pela noite dentro quando veio ao de cima, muito a propósito, o episódio da Ti Joana, creio que avó dum amigo nosso.
Era naquele tempo em que os filhos da terra tinham tratado de vida em Lisboa e só de longe em longe vinham à terra. O meu pai contava histórias dignas de memória dessas viagens.
O marido da Ti Joana estava muito doente, já sem esperanças de salvação. E os filhos vieram ver o pai. Estava nas últimas. Mas tinham de regressar à capital, onde tinham a vida para continuar.
A Ti Joana, preocupada com a situação, dirige-se ao marido moribundo:
- Ó homem, os nossos filhos têm de ir-se embora e depois têm de vir outra vez. Vê lá se morres hoje.
Só não me contaram se o marido foi tão pragmático como a mulher.

28 December 2007

 
Feliz 2008
Dizer “Feliz 2008” só pode ter um significado:
Que em 2008 sejamos capazes de construir resultados na direcção do que queremos.

 
A esperança - 3
Sem esperança não há futuro, nem presente.
Por isso, é absolutamente urgente reconstruir a esperança.
E só me aparece uma forma de reconstruí-la.
Construir resultados de facto – de facto – na direcção do que queremos.
O resto... é sofrer o presente e condenar o futuro.

 
A esperança - 2
Luio, não interessa onde:
«Eu não acredito na esperança. Não tenho esperança em nada.»
E ainda:
«Todos vamos morrer. O que é que quer que esperemos?»
Por isso, volto a perguntar:
Donde nos pode vir a esperança?
Porque sem esperança no futuro, não temos presente.

 
A esperança
Estamos em crise.
Alguns de nós estão desesperados.
Muitos estão desalentados, desacreditados, desmotivados, desorientados.
É claro que isso aproveita a muitos. A quem? Enquanto não o percebermos, não percebemos a lógica da coisa, a lógica do processo real em curso.
Por isso mesmo, a questão que devemos colocar é simples:
Donde nos pode vir a esperança? Quem nos alimenta a esperança?
Não a esperança tola de quem acredita num qualquer conto de fadas. Mas uma esperança crítica, fundada numa leitura crítica do real e no trabalho efectivo sobre esse real.
Devia ser isso a política, tanto no governo como na oposição. Mas não tem sido.
Do lado do poder tendemos a encontrar o conto de fadas em que recusamos acreditar. Do lado da oposição, vemos sobretudo homens e mulheres crispados, zangados com tudo e com todos e com a própria vida, dizendo-nos apenas de que não há futuro.
Continua em aberto a grande questão:
Donde nos pode vir a esperança? Com quem a poderemos construir?
Porque o futuro não virá. Ele será o resultado do que nós fizermos.

 
A espera
Olho para o panorama político português e só não rio porque não é caso para isso.
Ouço como palavra de ordem o velho “resistir” e impedir que este governo seja eficaz.
“E com toda a razão”, dirão alguns.
Talvez. Mas, se olharmos para o terreno da realidade das coisas, o fracasso deste governo e deste partido levarão ao poder... quem já promete e garante muito “pior” na opinião dos que reclamam agora. A sua vitória será a sua derrota. Trabalham para perder. Só estão à espera. Mas enquanto esperam, vão estando no seu lugar do poder. E depois vão continuar no mesmo lugar a exercer o mesmo poder.
Só não é motivo de riso, porque... é uma tristeza.

 
Resistir
Uma das palavras de ordem que mais se ouvem no nosso sindicalismo é essa, “resistir”.
Mas o que quer isso, de facto, dizer?
De facto, Portugal encontra-se num processo deslizante. Não que estejamos realmente mal. Basta um pouco de memória para vermos que não. Só que estamos poisados sobre um pé só e a deslizar necessariamente para baixo. É, por isso, necessário sair do lugar em que nos encontramos.
O Governo tem estado a adoptar medidas para sairmos da crise.
Resistir significa, portanto, recusar sair e, em consequência, mantermo-nos no processo deslizante a caminho de tornar-se queda livre.
Há disso alguma dúvida?
Se houver, basta esperar para ver.
Mas quer isso dizer que temos de aceitar reverentes tudo o que o Governo diz que é para salvar-nos?
De modo nenhum. Não há políticas perfeitas ou indiscutíveis. Portanto, também as deste governo ou do próximo o são.
Mas, se resistir é mantermo-nos na queda, que fazer?
Apontar noutra direcção. Insistir em sair, embora por outra porta e para outro lugar.
Tudo o que não for isso é engano, é suicídio.

 
Filosofalando
É claro que tenho deixado abandonado este espaço de comunicação. Alguns leitores têm-me puxado as orelhas. Peço desculpa.
A verdade, porém, é que tenho investido num outro espaço, também digital,
filosofalando.blogspot.com
onde venho dando conta do trabalho que fazemos, eu e os meus alunos do 10º ano de Filosofia, na Escola Dr. Manuel Fernandes.
Como o tempo e a disponibilidade mental são limitados... tenho mais dificuldade em voltar aqui.
Fica o convite para nos fazer uma visita na "outra casa". Obrigado.

 
Pois...
Leio:
«O Natal esteve em cheio na Castilho
«Pelo terceiro ano consecutivo (e sempre a melhorar) os comerciantes da Rua Castilho uniram-se e desencadearam uma iniciativa, a todos os títulos brilhante, pois conseguiram tornar a zona ainda mais aliciante para todos os amigos que acorreram à tradicional festa.»
Sem comentários

 
Os sindicatos, ainda
Insisto e subscrevo: «o sindicalismo é parte essencial e insubstituível da luta dos trabalhadores». Mas não vale por si mesmo. Tal como a luta não vale por si mesma. Vale na medida em que conduzir a um lugar melhor. E o “melhor” do lugar vê-se pelos resultados. E a avaliação só se pode fazer depois. Quantas vezes o que é agora doce virá a amargar?Não é difícil perceber que também os sindicatos e os sindicalistas têm hoje uma vida muito difícil. Mas num mundo em que tudo muda e em que todos temos uma vida difícil, não é para admirar que também os sindicatos não possam descansar à sombra.

 
Os sindicatos da educação
Perante um poder político fraco no Ministério da Educação, os sindicatos do sector têm sido o poder mais forte. Há alguma dúvida de que os sindicatos têm sido um dos principais pilares do que é, hoje, a nossa escola. Com aquilo que ela tem de bom – e de mau.
A escola actual, com a sua enorme e escandalosa produção de abandono e insucesso, com a sua incapacidade de auto-transformação, com a sua aversão ao risco, com uma arquitectura ingovernável, com uma produção voltada para um passado que não volta... é, em muito, obra do sindicalismo que tem sido praticado.
Ainda por cima, os sindicatos mais poderosos do sector são de esquerda. E, de esquerda, sustentam o “status quo” de uma escola que sistematicamente humilha e esmaga os mais pobres, os mais desprotegidos, os mais frágeis, os menos dotados de “capital” escolar e social. Perante este estado de coisas, que posição tomam os nossos sindicatos? Defendem os seus clientes, os sindicalizados, e deixam as vítimas da situação.

 
Os sindicatos
Esquecemos com demasiada facilidade que também são centros de poder. São poder. Que também têm clientes. Que têm de conquistar clientes. Que têm de “vender” aos seus clientes aquilo que estes estão dispostos a comprar. Para eles, sindicatos, manterem o poder. Poder que são.
Esquecemos com demasiada facilidade que também os sindicatos agarram os sindicalizados pelo seu lado mais fraco: o desejo, que querem satisfazer, e a dor, que querem evitar. Mas o desejo é sobretudo presente e a dor sentida também. Tudo o que for “satisfazer agora” e “aliviar agora” vende bem. O pior é o futuro.
Não há qualquer dúvida de que os nossos sindicatos são co-autores da situação actual, incluindo a crise colectiva em que nos encontramos.
É claro que não o podem dizer, e só muito dificilmente e em silêncio o podem reconhecer. Mas isso não diminui o facto de que seja verdade. Em muitas dimensões.

 
Sindicalismo
Ainda não li o recente livro de Carvalho da Silva. E tenho pena de talvez nem vir a ter tempo para fazê-lo. Mas li no Público (30.11.07) a sua afirmação de que o sindicalismo não está anacrónico, que é parte essencial e insubstituível da luta dos trabalhadores.
Eu sou da mesma opinião.
O pior é se Carvalho da Silva e eu estamos errados.
Porque todos sabemos que se a luta dos trabalhadores da Autoeuropa fosse entregue aos sindicatos, a Autoeuropa já não existia, nem para eles nem para a economia portuguesa.
A convicção não garante a realidade. A convicção, muitas vezes cria a realidade. Mas uma realidade ficcional, que não coincide com a realidade real, seja esta lá o que for.
Eu não tenho dúvida de que os nossos sindicatos estão tão convencidos de que têm razão que nem precisam de conferir ou testar a sua razão pela realidade. Depois, é o que se vê.

 
Síndroma de Chávez
Todos ouvimos aquela “pequena história”, apesar de tudo grande, do rei Juan Carlos a intimar Chávez com um «Porque non te callas?». E todos ouvimos a reacção de Chávez, do tipo “ele não me pode mandar calar porque eu fui eleito e ele não”.
Chávez não percebeu que o que estava em jogo era sobretudo uma questão de educação, e não de legitimidade política. De decoro, de decência, de saber estar, de respeito pelas pessoas. Mesmo, e sobretudo, por aquelas de quem se discorda.
Chávez é daqueles que considera que, por ser eleito, tem legitimidade para fazer tudo. Tudo e mais alguma coisa. Por isso merece dar o seu nome ao Síndroma de Chávez.
O pior é que nós sabemos que este tipo de pessoas nem sequer precisa da legitimidade para fazer o que lhe dá na real gana.

 
Síndroma de Ahmadinejad
O presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, informou há dias, numa universidade americana, que no Irão não há homossexualidade. Não me chegou a notícia sobre se explicou porquê. Por exemplo, se vacinam as pessoas contra essa “doença”. O que sabemos é que, segundo o seu presidente, o Irão está limpo desse mal, ao contrário, por exemplo, dessa nação que faz parte do “outro eixo” do mal, ou do eixo do “outro mal”, os Estados Unidos da América.
O presidente Ahmadinejad é um exemplo acabado de um certo tipo de síndroma: a incapacidade de ver aquilo que não se quer ver. Ou, ao contrário, a capacidade de ver aquilo que se quer ver, mesmo que a realidade o desminta.
Não é exclusivo de Ahmadinejad. Bem pelo contrário. Mas o presidente do Irão merece que o síndroma seja baptizado com o seu nome.

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