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16 July 2007

 
Marques Mendes
A liderança de Marques Mendes está sujeita a muitas críticas. Mas a verdade é que ele foi penalizado em Lisboa pela “mesma” razão que o foi em Oeiras ou na terra do major.
Já o sabemos, o país castiga os que se regem por princípios. Parte do que se está a passar a agora é isso mesmo: o castigo por se ter regido por princípios. É triste, mas é verdade.
O que não significa que todas as críticas se possam reduzir a isso. Mas há algumas que manifestamente não são outra coisa.

 
A abstenção
Pois, acho que sim, que a abstenção foi por todas essas razões apontadas: a praia, a desconfiança da política, a falta de qualidade dos candidatos, pensarem que não se justificava haver eleições, etc. E por uma outra razão da maior importância: porque não foram capazes de votar, não tiveram força para se decidir. Por descontentamento com o Governo, não foram capazes de votar em A. Costa, mas também não foram capazes de votar em mais ninguém, nem sequer em H. Roseta; por descontentamento com o PSD, não foram capazes de votar em Negrão, muito menos em Carmona, mas também em mais ninguém. Paralisia eleitoral, um sintoma de incapacidade de decidir por parte de quem não tem força de decisão política (ideológica, clubística ou programática).Uma outra razão terá sido o ambiente não-eleitoral que se vivia, ao contrário das outras eleições. Ora o ambiente é muito importante no comportamento das pessoas, muito mais do que estamos habituados a pensar. Aliás, é isso que se passa agora: apesar de não haver um ambiente eleitoral, os analistas afirmam que as pessoas deviam ir votar como se houvesse.

 
Helena Roseta
Foi a surpresa nas eleições. Mas foi também o perigo e a promessa.
O perigo, porque não é um resultado qualquer. Nem sequer é apenas um resultado de penalização ao partido do Governo, o PS, em resultado dos descontentamentos com as medidas tomadas, embora também o seja. Não é, portanto, um fenómenos parecido com o de Manuel Alegre. E a “prova” disso é que o resultado “histórico” (?) de Manuel Alegre não trouxe grandes consequências, além de ele continuar a ter audiência para os disparates que continua a dizer, mas o de Helena Roseta, esse sim, histórico, vai trazer.
Helena Roseta não protagonizou o descontentamento, mas outra política, que dá pelo nome de participação.
E Helena Roseta só teve o sucesso que teve porque os partidos tradicionais têm desprezado a participação que há muito tempo vem sendo apontada como a alternativa ao processo de degradação da confiança política do eleitorado.
E Helena Roseta vai ser o sinal de trânsito de duas vias: ou os partidos aceitam apostar na participação e a hipótese de Helena Roseta não terá grande margem de crescimento ou os partidos ignoram a participação e Helena Roseta ficará na História Política com letra maiúscula.
Os dados estão lançados. Digo eu.

 
Lisboa 2007, a surpresa
Nas eleições em Lisboa não houve muitas novidades.
Era previsível que o PS ganhasse, que o PSD perdesse, que carmona ficasse em 2º ou 3º (Isaltinos e outros não nos permitem nenhuma surpresa agora), que Portas e Telmo levassem uma desfeita, que o PNR (que tem espaço político próprio) ficasse à frente do PND (que o não tem)... Não havia segurança, mas também não há surpresas nisso.
A surpresa é Helena Roseta. Ela é, em certo sentido, a grande vencedora – apesar de não ter vencido a Câmara.

15 July 2007

 
PENSAR
No Expresso / Actual, José Gil, a propósito do deu irmão Fernando Gil e de um colóquio sobre a obra deste nosso filósofo (1937-2006) nos Encontros da Arrábida, diz:
«O pensamento é um bem raro, como uma ideia nova ou um conceito novo.»
De facto, parece mesmo que pensar é um bem cada vez mais raro. O que não impede que se multipliquem as palavras – tantas vezes ocas, apenas instrumentalizadas em função de um efeito pretendido. Isto é, que visam apenas que nós não pensemos e nos deixemos encantar pela voz das sereias.

 
Para reflexão
Os jornais deste fim-de-semana (13 e 14 de Julho) trazem matéria de reflexão.
Por um lado, o Público, no Ípsilon, apresenta-nos o Foi assim, de Zita Seabra. A sua história de amores e desenganos com o PCP. E o Expresso / Única traz-nos o caso exemplar do que se passa na alta sociedade angolana. Não é possível que estas “coisas” não exijam dois dedos de pensamento. Dito de outro modo: o que é que tornou possível que o sonho de um fruto ético e nobre tenha degenerado em frutos desta natureza?
Enquanto não respondermos a isto estamos num estado de desistência de pensar, de demissão de responsabilidade cidadã, de risco de cometer os mesmos erros por lhes desconhecermos as causas.

 
Os exames
De novo, incompreensivelmente e sem quaisquer consequências, que se saiba, os exames voltam a trazer erros. Como é que isso apenas serve para armar brigas com a ministra e ninguém pede contas aos autores das provas?Tanto mais que ser autor de provas nacionais de exame foi factor com algum peso no recente concurso para professores titulares. Mas uma vez, basta ter sido autor, mesmo que de provas com erros. Mas alguém se incomodou?

 
Matemática
Os exames de Matemática do 12º ano vieram mostrar como é possível mostrar resultados. Basta fazer o exame mais fácil e dar mais tempo de prova aos alunos.
Afinal, há muitos anos que toda a gente vinha a reclamar que os exames eram (des)propositadamente difíceis e longos.
Lembro que o velho capitão Galeano me dizia que era impossível um aluno normal ter sucesso em provas daquelas. Não recordo já os pormenores, mas dizia qualquer coisa como isto: «Para uma prova ser bem feita, uma prova de duas horas deve ser resolvida por um professor em cerca de 40 minutos. Ora eu demoro mais do dobro... Como é que os alunos podem ter sucesso?»

 
Artes Plásticas
Vale a pena reparar que o Estado pouco ou nada tem feito pelo nosso acesso às Artes Plásticas. Para as artes do espectáculo houve já programas de itinerância; para o livro e o disco há a rede de bibliotecas públicas e a rede de bibliotecas escolares...Mas para as artes plásticas, há o vazio.

 
António Prates e António Cachola
A propósito de Artes Plásticas, importa assinalar a inauguração da Fundação António Prates, em Ponte de Sor, e do Museude Arte Contemporânea de Elvas. São dois importantes polos de arte contemporânea aqui à mão de semear, a dotar este nosso interior de algum acesso à arte contemporânea.
Vamos ver quem é que está disponível para a colheita desta fruta madura aqui à mão de vindimar.

 
Maria Lucília Moita
Creio que está a passar despercebido que a nossa pintora Maria Lucília Moita tem uma exposição retrospectiva da sua obra em Lisboa. Mais exactamente na Casa Museu Anastácio Gonçalves. A exposição – Reencontro – é um retorno da pintora à casa onde ia visitar o “primo Anastácio”, a quem mostrava as suas pinturas de iniciante e de quem ia recebendo as críticas a educação do olhar.
Em contraponto com a exposição vale a pena visitar a Casa Museu e encontrar todos os quadros que do Sec. XIX e inícios do Sec. XX fizeram convívio com os primeiros passos de Lucília Moita. São também o chão artístico, ou o mundo, a partir do qual partiu e levantou voo para um percurso que agora ali se dá a ver.
Calha bem, em complemento, visitar a exposição sobre os 50 Anos de Arte Portuguesa, na Gulbenkian. São outros percursos, também ele saídos do mesmo chão donde partiu Lucília Moita, mas que são isso mesmo “outros” percursos relativamente à nossa artista. Assim se faz a História, de muitos fios – de vida – se tece o seu tecido.

 
PAPELPAREDE
Quentinha, a sair do forno na sexta dia 13, mais uma edição desta revista, PAPELPAREDE, que é publicada em Abrantes pelo Núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitectos.
Vai ser lançada em Lisboa, no fim do mês, no âmbito da Trienal da Arquitectura.
Uma revista urbana em meio rural, ou a expressão de que o urbano já não é só o que era.

 
Saúde
Mera curiosidade:
«A dívida do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentou 14,6 por cento em 2006, para 1,1 mil milhões de euros, e o prazo de pagamento aos credores subiu para 3,8 meses, segundo a Conta Geral do Estado.»

09 July 2007

 
Liberdade de expressão - 9
Peço desculpa mas tenho a sensação de que não há por aí nenhum interesse em que seja esclarecido o que realmente se passou. Porque assim é mais fácil a onda varrer o território. E os que deixam arrastar os inquéritos por tempos infinitos vão alimentando o fogo. Em que nos consumimos.

 
Liberdade de expressão - 8
Nada disto invalida as afirmações iniciais. É necessário estarmos atentos a todo e qualquer abuso do poder, porque o poder tende a ultrapassar os seus limites, que são os do bem comum.
Mas ultrapassar o limite é um abuso qualquer que seja o poder. Incluindo o nosso, o poder que temos, de fazer ou desfazer as condições de verdade, justiça e dignidade de todas as pessoas.
Quem abusa dos poderes que tem ao seu alcance perde toda a razão para se insurgir contra outros abusos. Além isso, está, por várias razões, a contribuir para que esses abusos se multipliquem. Porque um abuso nunca vem só. E os abusos são como as ervas daninhas.

 
Liberdade de expressão - 7
Uma das razões, embora não a única, pelas quais anda por aí este burburinho, tem a ver com uma filosofia que foi interiorizada por muita gente e que diz que não pode haver limites. De facto, é mais que banal ouvirmos e vermos reacções de pessoas que não aceitam que quem quer que seja lhes afirme limites que devem respeitar. E o mais interessante é que à sua volta raramente alguém os contradiz. Este discurso tem livre curso e é bem cotado no mercado dos princípios.
Deixem-me afirmar a minha indignação com um cartaz que vi afixado em várias repartições públicas. Três figuras humanas rebentavam de riso, apertando as barrigas, sob um letreiro que dizia «Você disse urgente?!!!».
Quantos de nós reagimos a essa humilhação colectiva?
Quantos chefes foram coniventes com este insulto ao contribuinte?
Quantos funcionários dessas repartições pensaram que isso ultrapassava os limites?E, como este, vários outros cartazes andaram por aí mostrando o nível a que deixamos as coisas descerem. Porque para baixo... tudo cai, se não houver alguma força a puxar para cima.

 
Liberdade de expressão - 6
Quando multiplicamos a gritaria sobre estes casos ainda não esclarecidos, estamos a limitar a própria dignidade da liberdade de expressão.
Quando uma Secretária de Estado é assobiada por dizer que em Portugal se vive em liberdade de expressão, os assobios são a demonstração de que ela não pode dizê-lo sem ser "executada", sem julgamento prévio.

 
Liberdade de expressão - 5
Há pouco, vi e ouvi, na televisão, uma professora indignada contra os limites à liberdade de expressão, a propósito do caso na DREN. Dizia ela, sem papas na língua, que «agora os professores têm medo nas escolas» (cito de memória).
É mentira. «Os professores» não estão com medo por causa do que aconteceu a um professor no Norte. Talvez alguns tenham medo. Talvez alguns outros tenham mais cautela. De certo alguns não se temem. E há, de certeza, alguns que estão a leste de tudo isso. Mas aquela senhora não teve pejo de dizer que agora «os professores» - todos, ou pelo menos a maioria - estão «com medo».
É intrigante. Que raio costumam os professores andar a dizer - todos? a maioria? - para agora andarem com medo? Que raio de ambiente se vive nas escolas para os professores, agora, terem razões para terem medo?
É indigente. Agora mudo de agulha. É indigente uma classe profissional que passa a ter medo só porque uma Directora Regional, lá no Norte, penalizou um professor e teve cobertura da Ministra. Onde está a dignidade desses professores medricas, que se agacham só porque alguém lhes acena com um pau? Que valem essas mulheres e esses homens que dobram a espinha só porque alguém os ameaça? Que educadores são eles e para que futuro podem estar a educar as nossas crianças e os nossos jovens, se é verdade aquilo que aquela professora veio denunciar?
Mas não, não é verdade. Mas ela não se coibiu de vir dizer aquilo que convinha - a quem? - que fosse dito. E muitos, coniventes, ouviram aquilo que convinha - a quem? - que fosse ouvido.

 
Liberdade de expressão - 4
Sinceramente, sinto que esta é, isso mesmo, uma jogada de luta política, daquela que estamos habituados a ver jogada "por fora". Mostra-o o que já disse. Mas também o facto de que muitos dos que ouço "gritarem" contra os ataques à liberdade de expressão não suportam qualquer liberdade de expressão aos outros, mesmo aos mais próximos de si. Porque a liberdade de expressão não é uma substância metafísica, antes se vê nas relações de facto entre as pessoas e as instituições. Ora há muito boa gente por aí que não admite que outros tenham ideias ou avaliações diferentes das suas. Só não os fuzilam porque não podem. Mas reagem, por vezes com toda a violência que lhes concedem, contra o outro que pensa diferente. E matam a dignidade do outro com um julgamento sumário e uma execução imediata... só porque não pensa como ele. E vêm falar contra os ataques à liberdade de expressão? Não nos lixem! Nós conhecemo-los.

 
Liberdade de expressão - 3
Na actual situação, se bem estou informado, estão em causa um processo contra um professor na DREN e a destituição da Directora de um Centro de Saúde também no Norte. Certo?
Primeiro comentário. Dois casos são dois casos. Podiam até ser dez. Não são a totalidade da acção do Governo. São importantes, é claro, mas não configuram um padrão de acção do Governo. Devem ser tidos em conta, até para que não alastrem, mas não resumem a acção do Governo.
Segundo comentário. Acusar todo o Governo por dois actos de dois elementos do sistema (um ministro e uma directora regional) é fazer pagar o justo pelo pecador, é aplicar a uns a sentença da acção de outros. É, no mínimo, um erro. Mas é muito mais que isso.
Terceiro comentário. Pelo que li, não sabemos ainda verdadeiramente o que aconteceu, nem num caso nem noutro. É curioso que ninguém (que eu tenha lido ou ouvido) exija celeridade no famoso inquérito na DREN e esclarecimento dos factos no outro caso. Mas, mesmo sem inquérito, já as sentenças foram dadas e estão a ser executadas. Isto diz muito da "liberdade de expressão" que está em causa e do sentido de justiça que nesta jogada se vive.

 
Liberdade de expressão - 2
Sou de opinião - continuo a ser de opinião - de que os actos do Governo devem ser escrutinados e que qualquer suspeita de abuso sobre a liberdade de expressão (ou qualquer outro abuso) deve ser examinada, denunciada e penalizada se for caso disso.O poder - qualquer poder - tende facilmente a abusar e a saltar das suas margens legítimas. E continuo a pensar que o poder não se limita facilmente a si mesmo. Temos, por isso, que ser nós a estarmos atentos. Sempre, ontem, hoje e amanhã.
Mesmo quando sou eu que detenho o poder.

 
Liberdade de expressão - 1
Pedem-me que comente a actual "crise" sobre a liberdade de expressão em Portugal.
Se eu disser que «a liberdade de expressão corre perigo entre nós em virtude de um ataque por parte do Governo», terei imediatos aplausos por parte de uma plateia ansiosa.
Infelizmente, porém, não é essa a minha opinião.
Aliás, uma liberdade de expressão que corresse "perigo" por tão pouco não seria liberdade de expressão, nem mereceria qualquer respeito. Não existiria, deveria ser semeada.

06 July 2007

 

Ler

Há dias tive duas oferta amáveis para me ensinarem a cozinhar. Obrigado.
Mas eu hoje peço que me ensinem a ler. Sim, a ler. Porque há coisas que eu não consigo ler, ou seja, entender quando leio. Um exemplo. Leio, de um professor universitário:
«Ao reduzir os órgão de governo da universidade a pequenas instâncias de gestão técnica, em termos mais ou menos de um modelo a encaixar, parece preferir-se a universidade-empresa, numa lógica de mercado à americana, à universidade criativa.» (Público, 6 Julho)E fico confuso. Sei que esta afirmação é no contexto da pretendida reforma das universidades. Sei que percebo muito pouco do problema em causa: sei lá quem tem ou não tem razão. Mas olho para este fragmento de texto como um analfabeto para um livro. Não entendo. Então não são as universidades americanas que se destacam por serem criativas, enquanto as nossas se destacam precisamente pela sua falta de criatividade?

P.S. - E cá vem a mensagem de que a técnica não tem significado político.

 

Ainda a saúde

Li e trago aqui:
«Desperdício nas farmácias aumentou 22% em 2006 : O desperdício dos medicamentos vendidos nas farmácias aumentou mais de 22 por cento em 2006 face ao ano anterior. Quanto aos fármacos desperdiçados nos hospitais, o Ministério não dispõe de quaisquer dados, mas admite que existam.»

Li e registo:
Numa investigação, pediu-se a pessoas que foram vítimas de traumas que escrevessem a sua história durante quinze minutos e em quatro dias seguidos. Verificou-se depois que essas pessoas foram muito menos ao médico e ficaram muito menos doentes (que o grupo de controlo).

Li que um estudo técnico, em Portugal, recomendou novas medidas para financiar o Sistema de Saúde, cuja factura não pára de crescer. E ouvi os naturais protestos contra mais pagamentos na saúde.
Eu continuo a pensar que não há solução para o problema enquanto não apostarmos na diminuição da despesa sem que haja diminuição dos cuidados prestados. Mas continuo a pensar que os nossos técnicos, que estudam os problemas e as soluções, não vêem esse caminho sequer como caminho. Saúde só “mais despesa” e “mais receita”. Os políticos e os cidadãos comuns permanecem entalados entre a espada e a parede.
Creio que só há verdadeira solução quando a política for vista desde a sua componente técnica. Não há técnica neutra. E grande parte dos nossos problemas nascem de um divórcio da técnica relativamente ao seu significado político.

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