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25 June 2007

 

O jornalismo

Dos 50 anos de jornalismo em Abrantes também não se pode falar aqui, porque a história é quase pornográfica.

 

A literatura

Também se podia falar dos 50 anos de literatura em Abrantes.
Mas isso seria um empreendimento maior. Fora do meu alcance aqui.

 

O design gráfico

De iniciativa do Curso de Design e Desenvolvimento de Produto decorreu há pouco a primeira jornada de Design em Abrantes. Um passo histórico, se houver história na continuidade, é claro. Mas permito-me aqui registar que ficou muito mais bonita a ESTA com o trabalho de formatação visual do espaço colectivo do primeiro andar.
Mas isto traz-me à mente um segmento da vida pública que não costuma ser tematizado. O design de comunicação.
Houve uma “pré-história”, seguramente, mas disso não tenho recordação viva. Falo do design gráfico.
Recordo a primeira (?) revolução aqui em Abrantes, com o traço de Victor Marques e com novidade das letras decalcáveis. E a experiência de jornalismo, já com desenho gráfico, no Correio de Abrantes, em Janeiro de 74. Mas depressa tudo voltou ao mesmo.
Mais tarde, foi o António Colaço que veio renovar o visual da comunicação. Não esquecer a Ânimo nem os cartazes, muitos, que então desenhou.
Mais recentemente, Paulo Matos foi uma nova lufada de ar fresco. A ele se deve a renovação do visual da comunicação da Câmara de Abrantes e, entre outros, do Primeira Linha original.
De novo um Paulo, o Paulo Passos, que ainda está entre nós. Nova imagem visual da Câmara, incluindo os Passos do Conselho, o novo e entretanto morto Gazeta do Tejo e a novíssima PAPELPAREDE são algumas das principais marcas que já nos deixou e com que convivemos quase despercebidamente.
Mas, para lá disso, há outros nomes, vários, em actividade entre nós, que vão dando outra cara aos nossos dias.
Permito-me destacar, no que posso designar como design de exposição, o nome do arquitecto Rui Serrano. Não há ainda, entre nós, muita exposição desenhada, mas do traço do arquitecto da Tagus têm saído algumas.
Um conselho útil: ir à Biblioteca Municipal e pedir uma colecção de jornais de há 35 anos. E comparar com os jornais de hoje. É assim que se vê à transparência a História que tem sido feita, embora não se veja com a mesma nitidez aqueles que a fizeram.
P.S. – Terei cometido injustiças; peço desculpa, mas esta não é a minha área. Que outros reparem os erros.

 

50 anos de arte

Em Lisboa, na Gulbenkian, são-nos oferecidos 50 anos de artes plásticas em Portugal. Ainda não pude ver.
Mas é ocasião para nos perguntarmos pelos 50 anos de artes plásticas em Abrantes.
Antes do 25 de Abril, recordo José Paulo, Rogério Ribeiro e Lucília Moita na pintura e Victor Marques na escultura. Mais alguma coisa? Oxalá eu esteja a fazer graves esquecimentos.
Hoje, podemos elencar vários nomes de artistas, temos várias espaços de exposição e vários programas de exposição, vários locais de ensino tanto público e formal como privado e informal, bem como um património de arte pública ou de rua que não é de desprezar. E até algumas edições que perpetuam os nossos artistas.
50 anos de artes plásticas em Abrantes, uma síntese por fazer.

 

Pois é!

«A vida dos outros», de Florian Henckel Von Donnersmarck, bem olhada, explica também por que razão não podemos esperar da escola e dos professores, tal como de outras organizações, a reforma que se impõe.A vida é como a queda dos corpos, tem as suas leis. Não há milagres.

 

O final

Em "A vida dos outros", quando a vítima espiada descobre, no final, aquele que o espiou...
Se o realizador fosse um homem qualquer, fazia-os encontrarem-se e ficava com um bico-de-obra entre as mãos, uma vulgaridade qualquer.
A solução encontrada evita a saída medíocre, mas sobretudo é de um enorme respeito para com aquele homem agora integrado na sociedade e que não merecia ser “denunciado”. O seu reconhecimento seria sempre uma denúncia, neste caso uma violação.
Sim, um homem é sempre mais que o seu passado. Mas nem todos sabemos isso.

 

Como é?

No dia 20, o Espalhafitas passou «A vida dos outros», de Florian Henckel Von Donnersmarck. O filme é um verdadeiro documento vivo sobre o modo como a “PIDE” da RDA (a STASI) espiava a vida dos cidadãos daquele país. Com qualquer coisa como 100.000 funcionários e 200.000 informadores, o regime repressivo controlava não só o que acontecia como e sobretudo o que não chegava a acontecer.
Insisto em que nos é devida uma explicação. Como foi possível? Como foi possível que isto se repetisse um pouco por todo o lado?
Ou então, como é que é possível que nos proponham “o mesmo” sem uma explicação satisfatória? Afinal, quem somos nós? E o que valemos?
Mal consegui dormir naquela noite.
Para espreitar:
http://mouseland.blogs.ca.ua.pt/2007/04/25/sobre-a-vida-dos-outros/

 

Transferências

A propósito de autarquias. Parece que vem aí mais um pacote de transferência de competências do poder central para o local. Segundo as informações disponíveis, o Governo está disposto a disposto às necessárias “contrapartidas financeiras” que as câmaras reclamam. É justo.Mas... e os trabalhadores da administração central? As câmaras vão ter que “meter pessoal” para fazer o mais que vem aí. E o pessoal que lá fica? Fica a fazer o quê?

 

A montagem

A propósito de festas. Lembramo-nos ainda do tempo que demorava a montar as estruturas para as festas no largo 1º de Maio. Uma eternidade. De há uns anos a esta parte, a montagem demora um fósforo. A diferença está em que, dantes o trabalho era feito pelos funcionários da Câmara; agora é feito por uma empresa externa. Isto tem sido à vista de todos.
Creio que seria importante que os nossos sindicatos nos explicassem isto. E que nos ajudassem a concluir que fica muito mais barato e é muito mais rápido o trabalho assim feito.
Mas quer dizer que os trabalhadores da Câmara são piores que os outros?
Não e sim.
Não. A diferença está na organização. O quadro legislativo que regula as relações de trabalho é ali idiota e, por isso, é idiota a organização e não pode ser mais inteligente o resultado.
Sim. Porque só um trabalhador excepcional consegue ser, por muito tempo, melhor que a organização em que trabalha. As organizações são qualificantes ou desqualificantes e nós, os trabalhadores, não somos independentes das nossas organizações. Depois, os melhores não estão dispostos a “aturar aquilo”, enquanto os piores só servem para ficar por ali. Ou seja, tende a haver uma dupla selecção no pior dos sentidos.
E dizem os sindicatos que defendem os trabalhadores.
Por exemplo. Na Câmara de Abrantes, há 25 anos havia no sector das obras uns 300 trabalhadores; hoje há uns 25. É o resultado de uma certa política de defesa dos trabalhadores.
Lemos nos jornais que há resultados na negociação com o Governo sobre os trabalhadores da função pública. E os resultado são em “progressão nas carreiras”, “regime de férias”, etc. Pois que seja, que isso é importante.
Mas nós, como cidadãos, temos o direito a saber o que NOS está garantido enquanto melhoria da qualidade dos serviços prestados. A nós todos, o que inclui os trabalhadores da função pública que, além de servidores, também são servidos. Mal, em grande parte das circunstâncias.

P.S. - Embora muito caminho se tenha já andado, o mais importante é sempre o que falta fazer.

 

A estupidez

A propósito de inteligência local. Tive oportunidade de ouvir algumas críticas às festas de Abrantes (que me escuso de reproduzir aqui) que me levaram a concluir que Descartes estava errado. Não é o “bom senso”, mas a estupidez a coisa mais bem distribuída do mundo.
Coisa que ele terá intuído, quando explicou que toda a gente tem cabeça, mas que não a usa para o que devia.

P.S. – Não me refiro, é claro, a críticas inteligentes, porque nenhuma realização humana é isenta de críticas e diferentes pessoas têm diferentes opções. Mas isso é outra coisa.

 

Lurdes Martins

Não é justo falar da Festa Ucraniana sem assinalar o papel importantíssimo, embora silencioso, que a Lurdes Martins tem desenvolvido como de ligação e integração tanto com a comunidade ucraniana como com a comunidade cabo-verdiana em Abrantes. Com as suas mãos, embora não só, se fizeram as primeiras iniciativas de integração pública, por via da cultura, nomeadamente o cinema, destas comunidades na nossa vida colectiva. Além disso, tem havido da sua parte outros trabalhos que lhe mantêm a ligação com estas comunidades.
Não há dúvida de que tem desenvolvido, e articulado, um trabalho histórico.

 

Festa ucraniana

Nos dias 23 e 24, decorreu em Abrantes mais uma edição da Festa Ucraniana.
Se bem percebi, um encontro festivo a nível nacional, com o apoio organizacional da comunidade ucraniana de Abrantes. Creio que correu bem.
Só quem nunca encontrou uma comunidade de emigrantes portugueses no estrangeiro é que pode não entender a importância deste tipo de acontecimentos. Para eles, mas também para o país de acolhimento.

 

Abrantes Forum

O Festival do Gelado é apenas UMA ideia. Que foi aproveitada para o lançamento do Abrantes Forum, o centro comercial a céu aberto do núcleo histórico de Abrantes.
Durante um ano, ao que foi dito, o projecto terá financiamento. Depois, o seu andamento depende do que foram os seus parceiros, os comerciantes.
Ou seja, há dinheiros públicos que vão ser investidos durante um ano para que os nossos comerciantes possam vender mais. Está certo! Mas só o está se os nossos comerciantes, durante este ano, tiverem criado – eles! – as condições de crescimento sustentado do projecto.
Daqui a um ano, temos o direito de perguntar-lhes sobre o que fizeram dos dinheiros públicos entretanto investidos a seu favor. Que não é só aos políticos que devemos pedir contas do que fazem com o nosso dinheiro.
Devo dizer que, até agora, foram visíveis bons e maus sinais do que vai ser. Dos bons quero destacar a presença de tantos comerciantes no acto de apresentação do projecto, na Assembleia de Abrantes. Dos maus, não interessa aqui falar. Que prevaleçam os bons, e que possamos esquecer os maus.

 

Festival do Gelado - 3

A nossa boa inteligência local pôs-se a funcionar a propósito do Festival e o melhor a que conseguiu chegar foi a uma pergunta:
- O que é que os gelados têm a ver com Abrantes?
Depois da consulta a vários manuais de metafísica, tanto oriental como ocidental, podemos concluir:
- O mesmo que o chocolate tem a ver com Óbidos, o sexo com Lisboa, a sopa com Tomar, o cinema de animação com Espinho, Walt Disney com Paris e o futuro com Poitiers... São produtos que podem ser bem trabalhados, bem embrulhados e bem vendidos, porque público há. Como se viu.

 

Festival do Gelado - 2

O Festival do Gelado foi uma ideia. Uma boa ideia. Não foi suficientemente trabalhada, mas deu um bom resultado, foi um êxito. Apesar de tudo, um êxito local. Para torná-lo um sucesso regional ou mesmo nacional, há que... bem, nós sabemos que há que dar-lhe “outra dimensão”, e também aqui nada está por inventar, só falta fazer.
Já agora, uma pergunta. A data, uma semana depois das Festas, será o melhor calendário?

 

Festival do Gelado - 1

O Festival veio demonstrar que, se as medidas forem tomadas, os resultados aparecem. Ou ao contrário: quando não há resultados, é porque não se fez o que daria tais resultados.
Mas o problema também é outro: é que o que falta fazer é sempre aos outros que compete fazê-lo. E, por isso, não se faz.
Agora vimos: as praças estiveram cheias de gente todo o dia.Desta vez, alguém assumiu a responsabilidade de ir à frente. Falta agora perguntar: com que companhia?

 

A ver

Para que não passem despercebidos no lugar dos comentários, aqui ficam:
Carta à professora Luísa Janeiro: http://spo_essa.blogspot.com/
Um novo blog, de Miguel Borges: http://amblog.blogs.sapo.pt

 

A saúde, O orçamento

Isto não tem nada a ver com essa outra questão, a do pagamento das despesas de saúde.
Um dos meus comentadores respondia à minha pergunta “como diminuir as despesas da sáude?”
- "Tostão a tostão, se chega ao milhão"
esquecendo que, enquanto se poupa um tostão a factura sobe um milhão.
Repito: a factura da saúde tende a crescer de modo acelerado e nós – e bem! – não estamos dispostos a acompanhar essa despesa. Donde, só há uma resposta lógica: diminuir rapidamente a despesa – onde ela possa e deva ser diminuída. Diminuir para que suba.
E onde pode ser diminuída? Pois essa é a resposta urgente que se procura. Creio que não tem direito a falar contra os cortes do Ministério quem não tiver outras alternativas.
Eu sugiro algumas.
Cerca de 40% das urgências podiam ser evitadas com outro tipo de planeamento da saúde familiar, lia-se ainda há pouco.
A mudança da formatação dos Centros de Saúde, que iria resolver alguns destes problemas, dizem-me, não avança porque os médicos recusam perder o que ganham em horas extraordinárias. Será verdade?
Grande parte dos medicamentos não são tomados - mas são pagos – porque as doses vendidas são muito maiores que as necessárias aos doentes.
Os conselhos do farmacêutico são suficientes para evitar uma boa dose das consultas médicas: «Metade dos utentes que procura aconselhamento nas farmácias admite que esse contacto já lhes evitou pelo menos uma ida ao médico nos últimos seis meses.»
Uma vez o meu farmacêutico disse-me: “Porque é que o médico lhe receita este medicamento se este outro é o mesmo, com outro nome, e custa menos 30%»? E ainda não havia genéricos. Perguntei a um outro médico: “Eu tenho direito a receitar aquilo que eu quiser!”, respondeu-me. Direito? A receitar-me um medicamento 30% mais caro?
Muita da doença que por aí se desenvolve diminuía enormemente com mais água, mais andar a pé, mais natação. (Já há vários médicos, e doentes, a investir nessa receita.)
Muita da doença pela qual pagamos todos bem caro reduzia-se drasticamente com outra filosofia de vida, com outros hábitos mentais, com outro padrão de conversa. Mas não se vêem grandes melhoras.
Muita das doenças, tanto psíquicas como até físicas (leia-se: somatização) sobretudo nas pessoas de mais idade, resolvem-se com actividades sociais e culturais. As Universidades da Terceira Idade são alguns exemplo. (Eu assisti em Abrantes a casos quase “milagrosos”.)
Em Abrantes, dizem-me, mas não sei se é verdade, que não temos parto sem dor porque os anestesistas se recusam a perder as horas extraordinárias. Será verdade?
Em Abrantes, dizem-me, falta um radiologista, pelo que os outros têm de ganhar horas extraordinárias a fazer o serviço em excesso... enquanto em Torres Novas há um radiologista em excesso que todos os dias fica em casa, pago mas sem trabalhar. Será verdade?
Algumas, muitas, das despesas em saúde curativa decorrem da falta de uma melhor medicina preventiva, muito mais barata. Porquê, então?
O sistema de consultas de rotina nos centros de saúde funciona de modo a multiplicar as consultas, que podiam ser diminuídas sem prejuízo e com vários ganhos. Por exemplo como se faz em medicina do trabalho, pelo menos nalguns lugares. Mas aí, como é importante poupar...
No Dia Mundial do Ioga, 24 de Junho, ouvimos muitos praticantes a explicarem-nos que essa prática lhes tem trazido benefícios «na saúde física, psíquica e espiritual». E é bem mais barato que a botica.Termino com uma citação dos jornais, para não dizerem que eu sou só lírico: «O Estado poderia poupar milhões de euros anuais se investisse mais no tratamento e correcto acompanhamento de doentes com dores. Castro Lopes, especialista que está a coordenar o primeiro estudo epidemiológico ligado à dor crónica, afirmou ao DN que, "só no caso das lombalgias, os custos directos e indirectos ascendem a dois mil milhões de euros em Portugal" e que bastaria reduzir os casos de dor para se pouparem "milhões a longo prazo".» DN.14.6.07

 

Os olhos, ainda

Foi num centro de diagnóstico médico. A sala cheia de pessoas a aguardarem vez. A senhora, já de certa idade, queixava-se: «Isto está uma desgraça. Podemos morrer que ninguém quer saber de nós.» Na mão, uma receita para fazer uma série de exames. Lá a chamaram, lá foi.

Pela idade, já se recordava do “tempo do Salazar”, em que as pessoas, se queriam um exame, tinham de pagá-lo, se precisavam de uma operação, iam porrer a casa por não terem dinheiro. Agora, trazia uma mão cheia de exames para fazer, e só teve de esperar, pelos vistos mais que a sua paciência.
Pela idade, é das pessoas que dizem “o que fazia falta era um Salazar, ou dois, que um já não chegava para endireitar isto”. Endireitar, neste caso, seria voltar ao antigamente em que as pessoas iam morrer a casa por falta de dinheiro para pagarem a operação.
Pela idade, talvez não tenha votado no maior dos portugueses, mas se votasse quase de certeza que seria no Salazar.Temos o oitavo melhor sistema de saúde do mundo, apesar de a nossa economia ser a 40ª, números redondos. O que significa que temos – e ainda bem - um sistema de saúde acima das nossas posses. Mas isso não obsta a que... Bem, nós sabemos.

 

Os olhos

Cada um de nós vê não o que há para ver, mas os olhos que tem.
Mário Soares é um velho, já com 82 anos. Foi Presidente de República duas vezes e perdeu as últimas eleições. Não vai muito à bola com o actual Primeiro Ministro. Em conclusão, tem todas as razões para ser um velho desiludido, rezingão, acusador.
Cândida Pinto e Clara Ferreira Alves são jornalistas do Expresso e são novas e são umas senhoras. Têm todas as razões para saborearem o poder, ou melhor, os poderes que têm.
No Expresso / Actual de 9 de Junho, elas perguntaram e Mário Soares respondeu. Assim.
- Recebemos muitos fundos da Europa, mas estamos de tanga, não acha?
- Não estamos nada de tanga. Portugal é um país de grandes potencialidades. Um país de futuro, graças à criatividade dos seus filhos e às nossas condições naturais. Não há nenhuma razão para o pessimismo português, instalado, sobretudo, em certas falsas elites. É verdade que há muita gente a viver mal. É verdade assistimos a uma nova vaga de emigração. Mas, em contrapartida, recebemos cerca de 600 mil imigrantes de várias procedências. Os portugueses não querem fazer certos trabalhos mais pesados, que hoje consideram degradantes. É um sinal de progresso. O nível de vida do português médio aumentou muito desde a Revolução dos Cravos. As expectativas também. Há elites portuguesas com reputação mundial, em todas as áreas: no desporto (e não só no futebol), nos mundos da ciência, das artes, da literatura, da filosofia, do pensamento em geral. Mas também entre os técnicos e o empresariado. Portugal é – e vai ser cada vez mais – um grande país com prestígio e reconhecimento e no âmbito da CPLP. Não tenho nenhuma dúvida a esse respeito.

 

Para onde

Na Irlanda do Norte, há pouco protestantes e católicos, puseram fim a uma luta de mais de 30 anos que custou mais de 3.600 vidas.
Em Espanha, a ETA rompeu há pouco as tréguas, dizendo assim que a “guerra” vai continuar e que não é ainda possível contabilizar os mortos.
Para onde quer que vás, já lá estás. Ou seja, vais para onde estás a dirigir-te agora.
Não há inevitáveis. Nós fazemos a História.

07 June 2007

 

A periferia – 3

Há tempos, creio que em 2005, conhecemos em Abrantes a situação similar mas inversa, felizmente!, de uma criança que sofria de cancro numa escola do primeiro ciclo da cidade. A criança foi acolhida, a sua turma preparada e as outras turmas sensibilizadas. A mãe pôde manifestar a sua satisfação com esse cuidado da escola, que permitia que os dias difíceis da criança, e da sua família, fossem um pouco menos atribulados.
O centro era o mesmo; a diferença esteve na periferia.

 

A periferia – 2

Ainda o mesmo caso, o do Miguel a sofrer maus tratos por parte dos colegas da escola onde estavam a ser educados. Educados?!
Bem, (Público 26 Maio) a Associação de Pais também quis dar o ar da sua graça no assunto. Não veio dizer as diligências que entretanto tinha feito no caso do Miguel, não veio condenar os alunos que assim tratavam o Miguel, não veio chamar à responsabilidade os pais dos alunos que maltratavam o Miguel, nem sequer pedir contas à escola pelo bullying de que o Miguel era vítima.
Veio, sim, 1) denunciar «a mediatização» dada ao caso, 2) criticar o envio de professores a casa do Miguel e 3) chamar a atenção para os efeitos da mediatização sobre as outras crianças daquela escola.
Não é necessário fazer comentários, pois não?

P.S. – Cerca de 2.000 alunos são vítimas de bullying na escola e cerca de 300 são vítimas de agressão nos acessos à escola, por ano.

 

A periferia - 1

A notícia veio já em Maio (Público, 19).
Um jovem de 12 anos, Miguel, que tinha sofrido de cancro e dos efeitos desgastantes do tratamento era vítima de bullying ou intimidação continuada por parte dos colegas de turma. Os pais tentaram resolver o problema desde o início do ano, por exemplo mudar o aluno de turma, mas a direcção da escola fez orelhas moucas ao pedido. E o Miguel continuava, à data, a sofrer maus tratos num estabelecimento de ensino obrigatório. No Norte, sem que a Directora Regional tenha dado conta do facto.
A periferia estava cega, surda e muda.Entretanto, as coisas mudaram. Os professores passaram a ir a casa do Miguel, por impossibilidade de a escola se tornar num lugar habitável para um aluno que sofreu de cancro.

 

O centro - 3

Infelizmente, não me parece que as críticas que por aí grassam sejam para que o Poder nos sirva. Por vezes tenho mesmo a sensação de que é para que não nos sirva, ou seja, para que não nos consiga servir.
Dou só um exemplo simples. António Guterres disse um dia, há séculos?, que tinha uma “paixão pela educação”. Os dinossauros ainda se lembrarão disso.
Pouco depois, alguns acontecimentos na educação deixaram o pessoal insatisfeito. E então?
A resposta crítica, e política, no meu fraco entender, deveria ser manter-lhe a declaração de paixão e exigir que fosse cumprida. Que aconteceu? O contrário.
Impôs-se a imagem de que não tinha a paixão que anunciara e, portanto, dali nada havia a esperar.
Não é assim que as coisas ainda hoje vão acontecendo.Infelizmente para nós, o mais importante é que os profetas da desgraça tenham razão.

 

O centro - 2

Tão tolo é estar sempre de acordo com o Poder como é tolo estar sempre contra o Poder.
Em nenhum dos casos se revela qualquer critério. E é o critério que é decisivo.
O resto são interesses, é fígado, é fraqueza, é manha, é inveja... Não são os nossos interesses.A solução só me parece uma: estarmos com o Poder naquilo em que ele nos serve, e nisso dar-lhe força – para que nos sirva – e não estarmos com o Poder naquilo em que ele não nos serve mas exigindo que nos sirva – para que nos sirva, pois para que haveria de ser?

 

O centro - 1

Até porque o centro tem muito menos poder do que nos habituaram a pensar e nos é confortável pensarmos. No fundo, e não é necessário olharmos para longe de nós, o centro é frágil.
Além disso, contra aquilo que nos habituaram a pensar e nós pensamos a maior parte do tempo, excepto quando temos problemas, o poder do centro é-nos necessário.
Necessário e frágil.Para compor o ramalhete, habituámo-nos a levar aos ombros os que dizem mal do centro, os que põem o centro a nu, os que dissolvem o poder do centro. Hoje, dizer mal do centro ou de quem está no centro dá estatuto. E dinheiro, é claro.

 

A leitura

1. Leio: «Plano Nacional de Leitura pôs um milhão de crianças a ler na sala de aula».
Só se anda uma vez na escola. Portanto, oportunidade única.
O Plano Nacional de Leitura apostou em apanhar as crianças aí. Fez bem.
Ao que parece, inverto a ordem, as escolas puseram um milhão de crianças a ler. Não punham antes? Porquê?
O Plano levou as escolas a pôr as crianças a ler. Ganhou. Se as responsáveis nacionais quisessem pôr elas directamente as crianças a ler, não o teriam conseguido.
Mais uma vez, a situação é simples: uma iniciativa do centro só pode ser realizada por iniciativas nas periferias.
A evolução positiva da actuação do sistema só pode acontecer na conjugação do poder do centro com o poder das periferias.
O sucesso do Plano Nacional de Leitura só pode acontecer através da multiplicação das iniciativas locais que realizem acções concretas de pôr a ler as crianças e os adultos.

2. Demasiadas vezes se vê programas nacionais de sensibilização, em que se gastam fortunas, sem que se invista em acções concretas de “pôr em acção”, em iniciativas de proximidade, aquilo que é importante. Nada substitui as acções de proximidade.
É na proximidade que a vida e as alternativas de vida acontecem.

3. Insisto. Se queremos mudar a situação do país, devemos preocuparmo-nos muito mais com aquilo que se faz na proximidade e deixar de esperar que as soluções aconteçam lá no Governo. Porque não acontecem. Não podem acontecer. Apesar de não ser, nem de longe, indiferente o que se passa lá em cima. Mas a verdade é que lá em cima não se muda nada se nada mudar cá em baixo.
Paradoxalmente, na periferia é que está o centro.

 

A Trienal

Corre bem, ao que parece, a Trienal de Arquitectura. Ainda bem.
Mas já nem se imagina que por ela se matou a Bienal de Design, que já ganhara identidade, e se abortou uma festa (?) do livro.Se nos dermos conta de que na área da cultura, e não é a única, os resultados só se verificam após anos e anos de caminho numa mesma direcção, percebemos melhor o preço de andarmos sempre a mudar de rota.

 

A altura

Volto a dizer.
Quanto mais se sobe, mais pequenos parecem os que ficam em baixo.
Só umas boas lentes correctoras pode corrigir essa ilusão de óptica.Há os que as usam e há os que confundem a ilusão com a realidade.

 

A realidade, o conhecimento

Há meses, um jornal britânico publicava os resultados de uma sondagem aos ingleses sobre Tony Blair. O resultado era uma acusação de que o Primeiro Ministro britânico «tinha perdido o contacto com a realidade» do seu país.
Deixem-me ver se percebo. O homem está há 10 anos no topo do poder (esqueçamos os anos de política que já tinha), todos os dias lhe passam pela mão problemas de todo o tipo tanto internos como externos, tem acesso a relatórios públicos e aos mais confidenciais, contacta com gente de todos os tipos, a ele reportam responsáveis de todo o tipo de sectores, etc., etc., etc. Quem é, então, que contactos tem, nesse caso, o cidadão inquirido pela sondagem para atribuir-se um melhor conhecimento do seu país?
A resposta é simples: não tem melhor conhecimento. Se houvesse que decidir entre os dois, teríamos de fazê-lo por Blair e não pelo cidadão comum.
Mas, então, a queixa não faz sentido? Faz, é claro, pelo menos para quem a expressa.
De facto, T. Blair tem da sociedade inglesa 10 anos de experiência, mas da experiência possível do lugar onde viveu esses 10 anos. Pelo contrário, o cidadão comum tem 10 anos de experiência da sociedade inglesa do lugar onde viveu esses 10 anos, que não tfoi o mesmo que ocupou Blair.
Experiências diferentes dão conhecimentos diferentes. Lugares diferentes possibilitam experiências diferentes. A queixa, então, deve traduzir-se: nestes 10 anos Tony Blair perdeu contacto cm o país tal como ele é vivido do lugar onde vivem os cidadãos comuns.Inevitável, meu caro Watson. Com todos os efeitos que daí decorrem. Bons e maus.

 

Justiça

“Toda a sentença se deve submeter à exigência da justiça”, dizia um advogado ao Público (4 Junho).
Só que a Justiça tende a considerar-se a si mesma como o campo último a que tudo deve reportar. Basta ouvi-los falar. Não nas declarações públicas, é claro, que estas coisas não se dizem em público.
O sistema de justiça não é nem deve ser independente. Ele é uma parte, integrante, do macro-sistema social. Se não percebe qual é a sua função aí, perde-a, distorce-a, maltrata-a. É o que demasiadas vezes vemos acontecer entre nós.
O aparelho judicial não parece perceber os efeitos – contrários à sua função – que decorrem das suas decisões.Eu sei que sou leigo na matéria. Mas também não falo como técnico. Não sendo perito, vejo aquilo que se vê do lugar em que me encontro. Compete aos peritos resolverem o problema.

 

Pobreza

Um jornal dava-nos há pouco como um país desgraçado, porque estamos com uma taxa de 20% de pobreza. A maior da Europa, se bem me recordo.
De facto, não é bonito e é mesmo inaceitável que, neste tempo, tenhamos uma tal taxa de insucesso humano e social. Somos, por isso, um país fracassado?
Se olharmos um pouco melhor, vemos que ainda há poucos anos tínhamos, não me recordo já eram 22 ou 23% de taxa de pobreza. E um pouco mais atrás, talvez há uma dezena de anos, tínhamos 25%.
É verdade que aqueles números não desdizem do carácter inaceitável dos actuais 20%, nem nos devem desmobilizar da luta para baixar ainda mais e sempre mais os níveis de pobreza.
Mas eu penso que é exactamente o contrário. Se fizermos do actuais 20% esse absoluto mal que nos condena, ficamos condenados, e os nossos pobres connosco. Mas se nos dermos conta de que num dezena de anos conseguimos descer 5% a nossa taxa de pobreza, então temos a experiência de que estamos no bom caminho, de que se quisermos conseguimos, enfim, de que é possível e por isso é responsabilidade nossa descer os níveis de pobreza entre nós.Não há valores absolutos, nem movimentos absolutos. O que é sempre necessário é ter a perspectiva. Bolas!, na pintura já se consegue isso desde o renascimento.

 

Emprego

Sinceramente, não me parece que seja assim tão grande a nossa preocupação com o desemprego. Se fosse, preocupávamo-nos mais com aquilo que pode criar emprego.
Não estou a falar da macroeconomia, é claro. Deixo esses cuidados a quem sabe e pode. Digo a respeito das questões de proximidade, que é onde temos poder nós, os que dizemos preocupar-nos.
Se eu me preocupar com o fomento da pintura, ou da escrita, por exemplo, que faço eu? Promovo a formação em pintura e escrita, a exposição e a eduição, a distribuição e venda, etc. das produções em pintura e escrita.
Se nos preocupássemos de facto com o desemprego, faríamos, com efeitos reais, alguma coisa que pudesse criar emprego.
Promoção da iniciativa e do empreendedorismo desde tenra idade, criação de uma cultura de gestão na educação geral, consolidação das pequenas empresas demasiado sozinhas para se manterem de boa saúde, criação de um hospital de empresas, concursos de ideias, apoios de facto para gente com ideias, activação de uma cultura de iniciativa e de criatividade, e assim por diante.
Onde estão os rastos de iniciativas dessas por parte desses que se dizem preocupados com o desemprego?Não estou a falar nas autoridades públicas. Estou a falar na sociedade civil. Porque, mais uma vez o digo, não há qualquer poder público que possa fazer aquilo de que a sociedade civil se demitiu.

 

Desemprego

A propósito, peço esclarecimento.
Vejo e leio, e oiço por aí.
Por um lado, uma grande preocupação com a nossa taxa de desemprego, e com razão, porque está alta. Por outro, uma inveja persistente pela situação de Espanha, onde se ganha bem mais que aqui.
Mas em Espanha a taxa de desemprego é ainda maior que a nossa e chegou mesmo a ser de 25%, coisa que nunca quisemos entre nós.
O que eu preciso de saber, das autoridades da opinião, é simples.
Afinal invejamos ou não a situação de Espanha?
Ou só queremos os frutos e não a sementeira?
Ou só queremos frutos, sem sementeira?Se não me engano, queremos ganhar o euromilhões mesmo sem jogar. Ou seja, queremos sair da crise, mas sem sairmos de onde ela está – e não é nos resultados – porque eles são só efeitos.

 

Fora de Horas

Jardim Gonçalves construiu o maior banco privado português e é unanimemente reconhecido como tal. Fez história. Mas há pouco sofreu uma pesada derrota. Dizem uns que foi pura febre de poder, outros acusam que pretendia reforçar os seus privilégios, outros afirmam que estava ainda a fazer o bom combate contra um projecto de pura especulação financeira de Berardo e Outros. Sei tão pouco que é menos que nada. Mas há algo que, sem querer, me vem de imediato à cabeça.
Belmiro de Azevedo ainda há pouco passou a pasta do serviço a alguém de confiança. Antes dele, Bill Gates fez o mesmo e decidiu dedicar-se a outros assuntos não menos importantes. Jardim Gonçalves passou o poder a outro, mas vejo-o agora derrotado. Por que razão ainda lá está?
Não são os males do BCP que me afligem, embora eu saiba que o que ali se passa não é indiferente ao que se passa comigo. O que me interessa mais de perto é o que se passa nas nossas empresas.
Sabemos que a saúde das empresas é da maior importância colectiva. Sabemos que a taxa de desemprego não nos deixa tranquilos. Sabemos ainda que muitas das nossas empresas são familiares, com tudo o que isso tem de bom e de perigoso. E um dos perigos é o patriarca não sair enquanto é tempo. Ou seja, nem se aperceber que já é tempo de passar a pasta a quem puder levá-la a um novo destino.Que o exemplo de Jardim Gonçalves possa deixar uma pergunta à procura de resposta.

 

A Guerra – 3

A recente Greve Geral foi mais um caso de uma derrota garantida à partida que não evitou os beligerantes de partirem para o campo de batalha. O resultado estava previsto.
O pior é que, do ponto de vista dos beligerantes, o “inimigo” saiu reforçado e deixou as “vítimas” ainda mais indefesas.Em Israel, pede-se a cabeça de Olmert, o primeiro-ministro. Nos EUA, espera-se que Bush chegue ao fim, enquanto se procura a porta de saída do Iraque. Entre nós, nem branco, nem tinto, nem palheto. Amanhã há mais.

 

A Guerra - 2

Agora falo da guerra, das nossas guerras mais pequeninas, nas que empreendemos a vários níveis. São essas que mais directamente nos dizem respeito, porque são aquelas que desencadeamos ou podemos impedir, aquelas em que directamente batalhamos e cujas pazes fazemos ou evitamos.
Quantas guerras tolas alimentamos, quantas batalhas-derrotas celebramos.Não tenho dúvidas: grande parte do nosso pensamento sobre as nossas formas de estar na luta são alimentadas por um pensamento estratégico que voa muito baixinho.

 

A Guerra - 1

Há 40 anos, vivi empolgado a Guerra dos Seis Dias e celebrei a vitória absoluta de Israel. A destruição da aviação egípcia antes de esta levantar voo foi “o máximo” que se pode esperar de um herói. Hoje, sabe-se que a vitória não só não foi absoluta como se acusa essa guerra por grande parte dos problemas que Israel tem vivido de então para cá (embora outros digam que essa vitória assegurou as condições da existência possível que hoje ainda ali se encontram). Mas ficou a ideia de um Israel invencível.
Em 2006, Olmert, primeiro-ministro de Israel, ordenou a invasão do Líbano. Que acabou com a derrota de Israel, afinal não tão invencível como se supunha. Sabe-se hoje que havia informação a desaconselhar a invasão. Portanto, que a derrota era previsível. Ou seja, que combater não é, necessariamente, uma garantia de sucesso. Nem sequer quando se tem uma exército com fama de invencível.
Necessariamente nos lembramos do Iraque, donde os americanos – e todos nós – não sabemos como sair. Foi uma vitória segura que terminou como derrota a longo prazo, porque ninguém pode calcular os efeitos que vão permanecer um pouco por todo o mundo.Sim, a Guerra não é garantida nem sequer para os que a ganham, quanto mais para os que a perdem.

 

Prémio em SolidWorks

Navio de Abrantes ganha 1º Prémio no Concurso Educacional Mundial da SolidWorks
Já aqui falei do assunto. Deixo duas portas de confirmação.
http://www.sqedio.com/site/not_noticias_detalhe.asp?noticia_id=37
http://www.esta.ipt.pt/default.asp?s=1&t=1&n=690

 

"Público"

Leio no Público (7 Junho):
«Saldanha Sanches tem-se mostrado incansável a denunciar a existência de uma alegada vaga de corrupção do universo autárquico. Nos últimos dias, foi mais longe e considerou que há magistrados do MP “cativos” dos políticos locais. Se Saldanha sabe de casos concretos deve-os denunciar. Basta que haja um magistrado impoluto para a sua denúncia soar a populismo.»
Deixem-me ver se percebo.
1. Quando Saldanha denunciava corrupção entre autarcas, a denúncia era suficiente. Se denuncia corrupção no MP, a denúncia exige casos concretos.
2. Se denuncia corrupção no MP, “basta que haja um magistrado impoluto para a sua denúncia soar a populismo”. Quando Saldanha denunciava corrupção entre autarcas, era a priori evidente que não havia sequer um autarca impoluto.E depois não querem que eu diga o que digo.

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